Reportagem Entombed A.D., Dragon’s Kiss @ Bafo de Baco, Loulé 11 de Março 2017
“-Fala baixo, man! Vais acordar a vizinhança!
-Entombed vai tocar aqui ao lado, e tu ‘tás preocupado que EU vá acordar a vizinhança?!”
Este era o espírito eufórico dos pequenos grupos que se reuniam às portas do Bafo de Baco, o muito bem afamado bar e casa de espetáculos, não só conhecido por projetar várias bandas locais da garagem para a boca do povo, como também por ser um dos principais palcos algarvios, no que toca a percursos de bandas internacionais nas suas passagens pela região.
Uma vez dentro do recinto, o cenário pré concerto estava agradável. A casa estava bem
composta, não cheia, mas muito bem preenchida, o que no geral facilitou o bom funcionamento da casa, sendo fácil o acesso ao bar, casa de banho, lugares para sentar, tudo o que fosse necessário para aguardar confortávelmente pelo espetáculo.
O momento aguardado chegava por volta das 23:00. Os Dragon’s Kiss sobem ao palco para um rápido sound check (demasiado rápido), o que incentivou os mais interessados a chegarem-se à frente do palco. Após uma curta pausa para os músicos entrarem no espírito, às 23:13 os Dragon´s Kiss demonstram que o Heavy Metal está vivo e de boa saúde com “Wild Pack of Dogs”, o primeiro tema da noite.
Experienciando algumas falhas técnicas, mas sempre com muita atitude, seguem as musicas “Metal or Die” e “Ride for Revenge”. O público começa a soltar-se mais um pouco, ainda que muito tímido, já se começavam a ver os primeiros headbangers a colaborar com a banda na construção do climax do concerto:”Ride ‘till You Die”, tema que deixou a audiência rendida a ceder a sua voz em apoio ao vocalista num refrão épico e cativante.
“Este próximo som…vocês só podem ouvir aqui! E isso é porque ainda não está nem em cd, nem no facebook, nem no youtube…ainda nem se quer tem nome.” Estas eram as palavras de introdução a um tema fresco que os Dragon´s Kiss tiveram a cortesia de partilhar nesta noite, notando-se que ainda estava em fase experimental, mas claramente irá encaixar na perfeição nas suas futuras setlists.
Já com o público aquecido, os Dragon´s Kiss continuam sem piedade com “Wolves”, segurando a atmosfera old school e a boa disposição. Moshava-se, dança-se e abanava-se o capacete no chão escorregadio pela cerveja entornada, ao som de “Barbarians of the Wastelands”, tema que dá nome ao álbum que tocaram quase na integra nesta noite memorável.
Perto da meia noite, com uma casa animada, “I embrace the Serpent and the Devil in the
Dark” foi a malha eleita pela banda algarvia para fechar a sua atuação, marcada por pontos altos, como a presença e carisma da banda em placo, e pontos baixos, que foi o caso de algum desiquilíbrio entre o volume dos instrumentos, nomeadamente entre as guitarras.
Finalizada a primeira atuação, o público troca opiniões entre si, felicita os musicos pela sua performance, passa os olhos pelos artigos das bandas, tudo isto enquanto espera impacientemente pelo momento aguardado da noite.
Por volta da meia noite e meia soa “Midas in Reverse”, a entrada destrutiva dos Entombed A.D. que desde as primeiras notas fez o público mexer como ainda não tinha mexido até à altura. Segue-se “Stranger Aeons”, tema que, como outros presentes no reportório, pertencem à identidade anterior da banda, a que os fãs se referem como “Entombed Entombed”. Ainda antes de qualquer interação extra-musical com o publico, a banda fecha com “Second to none”, a rajada de três musicas que introduziram excelentemente, tanto os seus dois trabalhos com o nome de Entombed A.D. (“Back to the Front” e “Dead Dawn”), como a seleção de clássicos da formação antes da sua reforma e consequente mudança de nome.
O tempo não era muito, por isso a banda não o desperdiçou com muita conversa, e voltou à carga com mais um misto entre clássicos, como “Eyemaster”, e material recente como “Dead Dawn”, sempre numa sequência muito lógica e bem contruída, principalmente para os conhecedores da sua carreira. Foi algures por esta altura que acontece uma das situações mais caricatas da noite. Um membro do público, após outras exibições de falta de civismo, sobe ao placo e empurra o baixista durante o tema “Living Dead”. Felizmente a sua performance não saiu prejudicada, graças ao seu porte físico, o empurrão não foi suficiente nem para intereferir com a sua estabilidade. O artista prossegiu a sua tarefa, como se nada fosse, demonstrando um excelente grau de profissionalismo. Já o protagonista do episódio, obviamente foi “educadamente convidado” a abandonar o recinto.
Muitas emoções, mosh bem aberto e era tempo para as coisas irem “Out of Hand”, mais um tema para recordar o percurso dos Entombed no inicio da década de noventa, num trajeto regressivo no tempo que passou também por “Revel in Flesh”, “Wolverine Blues” e”Left Hand Path”, mostrando que o tempo passa, a tecnologia avança, novos sons surgem, mas bom Death Metal é intemporal.
Se por esta hora havia alguém parado no recinto, isso deixou de acontecer com “Chief Rebel Angel” tendo sido este um dos temas com mais aceitação do público ao longo da noite, abrindo assim o viría a ser ínicio do fim de uma atuação agressiva e poderosa. A prever o final, a audiência já não poupava cartuchos nos moshes e headbangs frenéticos ao som de “Suppose to Rot” e “Serpent Speech”, os temas que fecharam em beleza esta edição de Warm Up para o Vagos Metal Fest 2017.
O evento foi um sucesso, não tendo havido situações menos agradáveis que não fossem resolvidas com a maior prontidão e eficácia. O público, amassado, rouco, mas ainda com muita boa disposição, bebe o último copo e ordeiramente abandona o recinto na promessa de regressar sempre que o Bafo apresentar concertos deste calibre. E julgando pela reação dos presentes, que venham muitos mais!
Reportagem por Ricardo Alves
Fotos por Nuno Bacharel