Report

Reportagem Immolation, Full of Hell, Monument of Misanthropy, Omophagia @ RCA Club 24-03-2018

Na hora certa apagam-se as luzes. Ao som daquela introdução de um minuto, músicos em palco, sentinelas virados de costas para o público, fumos e luz vermelha que se mistura nas formas dos fumos, iluminando-as, é assim que somos convidados a entrar no ambiente criado pelos Omophagia, um ambiente de medo e de caos. Depois daquele minuto, eles ligam as guitarras… e aí o som desaba sobre nós.   Estavam 10 pessoas no RCA e assim de repente… estavam muito mais. Estavam muito mais porque o som de ‘Man-Machine’ não perdoa.

De repente temos uma caracterização ao estilo Max Payne, Terminator, e muitos agentes Smith [Matrix]; eles vêm de fato e gravata, os fatos esses que apenas tapam as camisas pintadas de sangue. Chocante? Talvez. Teatral? Sem dúvida. Impactante? O som manda. São eles. São Omophagia, ‘swiss brazilian Death Metal’, como se apresentam, e o que trazem na cartilha para esta noite são temas do seu segundo e mais recente álbum ‘In The Name Of Chaos’, lançado em Abril de 2016 pela Unique Leader Records, editora californiana especializada em Death Metal, não fossem os donos, membros da banda Deeds of Flesh (EUA).

Esta teatralidade, o som infernal e o impacto que causaram não deixou o público indiferente. Espalharam muita energia através do palco, enquanto tocavam ’Until the Sky Turns Red’, ‘The Dominant’, e ‘Love Song’, esta malha com riffs com uma pitada de Nu Metal, com o poderio, técnica e velocidade de Brutal Death e um solo esmagador de Mischa, que agarra o pessoal à grade. Guardam para o fim, ‘Wheel in the Engine’ e ‘Down We Fall’, com muitos aplausos dos presentes e 30 minutos passados a alta intensidade. Na hora em que escrevo este artigo, partilhava a banda no seu feed de instagram:

Dziękuję! Gracias! Obrigado! Danke! Que grande digressão! Não poderíamos estar mais felizes pela forma como tudo correu! Obrigado a todos envolvidos. Esta foi uma digressão muito bem sucedida e relaxante para nós! Obrigado a todos por aparecerem. Ficámos muito impressionados pelo vosso forte apoio na Polónia, Aústria, Espanha e Portugal. Isto é tudo o que importa! (…)”

Também foi bom ter-vos por cá. Confesso que fiquei agradavelmente surpreendido de ver esta banda ao vivo. Interessados em verificar esta banda, queiram apanhar as ligações do Site Oficial e Instagram, que eles têm atualizado constantemente.

 

 

Hora dos Monument Of Misanthropy, uma banda recente com membros veteranos da cena Grind e Brutal Death; começada em 2012 por George “Misanthrope” Wilfinger (ex-Miasma), JP Battesti e Romain Goulon (ex-Necrophagist, ex-Benighted), eles têm acompanhado e continuam em digressão neste assalto europeu de 23 datas com Immolation e Full Of Hell.

Para este concerto, trouxeram-nos 10 temas, dos seus dois trabalhos lançados até à data ‘Anger Mismanagement’ e ‘Capital Punisher’, de 2014 e 2017, respetivamente. Pelo meio, apresentaram o tema ’Pull the Plug’, uma versão cover dos Death, que gravaram para o álbum ‘Capital Punisher’, e que ao vivo fez um sucesso mais ou menos imediato, com aqueles harmónicos falsos e riffs de marca. E um solo digno de nos agarrar em olhos embicados.

Achei o som muito agudo e estridente, e isso não me ajudou à boa apreciação da música da banda. Pareceu-me o mais monótono da noite, e isso acontece quando a brutalidade se exerce em modo contínuo. Mas falei com algumas pessoas que gostaram da atuação e do estilo: o grindcore / brutal Death Metal. Foram cerca de 45 minutos em que a banda lhe deu com toda a energia, e estavam sempre a puxar pelo pessoal, e pese embora este não me parecesse totalmente convencido, notava-se um tanto agitado. Headbanging, na sua.

Os Monument Of Misanthropy partilharam nas redes sociais, recentemente, após uma primeira mão de datas europeias: “O concerto em Barcelona marcou o fim da primeira parte da nossa digressão europeia de 2018 em apoio aos Immolation. O feedback fantástico do público de todos os países onde tocámos até agora excedeu as expectativas de todas as bandas participantes. Então queremos agradecer a todos os metalieros que vieram ver este fantástico alinhamento! Polónia, Aústria, Portugal e Espanha tem sido brutal.”

Deixaram o pessoal bem aquecido para o que veríamos a seguir… algo que viria a ser surpreendente. Por bons motivos, maus motivos? Gostos dividem-se. Mas ninguém ficaria indiferente.

 

 

“We’re Full Of Hell from the United States, and my shit ain´t working.”

Eles são mesmo cheios de inferno. Ritualístico, exótico e macabro à sua maneira, este é o metal extremo alternativo dos Full Of Hell. É uma banda ao vivo.

Dylan Walker, algo controverso vocalista, vai à mesa de pedais de efeitos, e cenas electrónicas, onde sampla ambientes de exorcismo, gritos, oração, rituais onde num segundo tudo está calmo, bizarro, mas na outra metade desse segundo: tudo explode em peso! O gutural frenético, as guitarras pesadas e uma batida a mais de 200 bpm. Sem aviso. Sem aviso prévio, explode em peso. E primeiro estranha, mas depois entranha. São diferentes.

Abrem com ‘Deluminate’, um tema do último álbum de originais ‘Trumpeting Ecstasy’ (Profound Lore, 2017), que foi muito bem recebido e alvo de boa crítica no meio underground. Seguem-se os dois temas seguintes do disco, por ordem. Para uma banda quase a chegar aos 10 anos, é impressionante o trabalho discográfico que o quarteto já desenvolveu. A setlist desta noite visita um pouco dos vários discos da banda, com faixas como ‘Vessel Deserted’, ‘Bez Bólu’, ‘Amber Mote’ e ‘Thrum in the Deep’.

É assim que a banda conduz a obra, estas músicas Grindcore, de Brutal Death extremo, vão alternando nos ambientes sintetizados, como que introduções de um exorcismo que vai detonar abruptamente a casa a qualquer momento.

“Esta canção é sobre rejeitar Cristo”. Com vestígios de mosh e walls of death, Dylan ainda atiça mais a malta, quando chega às bordas do palco e alcança o microfone à primeira fila para uns berros extra. Neste clima frenético, e entre alguma comunicação simpática com o público, apresentam mais temas do último disco: ‘Digital Prison’, ‘Crawling Back to God’, ‘Ashen Mesh’ e ‘Gnawed Flesh’.

Foi uma actuação impactante e provocativa. De peso desmedido. Os Full Of Hell anunciaram recentemente que assinaram com a Relapse Records e estão já a trabalhar no novo LP.

 

Luzes apagadas. Introdução. Immolation apresentam-se no palco. Soam os primeiros acordes de ‘The Distorting Light’, a malha que abre o novo disco ‘Atonement’, o terceiro de originais lançado pela banda com a Nuclear Blast. Está a fazer um ano que saiu, e digamos que foi espectacularmente bem recebido pela comunidade de fãs, pela crítica, é um disco fresco, consistente e bem conseguido, de uma banda que ao seu estilo próprio de ‘Old School Death Metal’, se consegue reinventar e trazer bom novo repertório à cena do metal mais extremo.

O concerto: continuamos neste disco, com a música ‘When The Jackals Come’, a segunda faixa, que avança sem interrupções. Só puros riffs nocivos, som destrutivo e o baixo de Ross Dolan já completamente transpirado pelos cabelos de um metro do músico veterano. Haveria mais à frente nova e merecida visita a ‘Atonement’, com as faixas ‘Thrown to the Fire’ e ‘Above All’ e ‘The Power Of Gods’, deixando este novo trabalho muito bem destacado na setlist de uma hora.

Recuamos 17 anos: ’Father you’re Not a Father’. O solo do maestro Robert Vigna, o estilo inconfundível, o dissonante.

“Lisboa, Portugal, como é que estão? Bem…?! Somos os Immolation de Nova York, é um prazer absoluto estar de volta aqui, obrigado por se juntarem a nós esta noite. Temos muita merda para tocar para vocês, nova e velha e vamos levar-vos agora mesmo para o álbum “Harnessing Ruin”, esta canção chama-se “Swarm Of Terror!”

E assim foi. O que podemos dizer senão que para uma banda com mais de 30 anos de existência: eles demostram grande forma, quer em palco, quer em estúdio, com vontade de se reinventar ao criar música e uma experiência de metal extremo underground. ‘Atonement’ é apocalíptico, é pós-nuclear, dono do obscurantismo e o Death Metal blasfemo, são forças divinas e mensageiros de morte ‘onde demónios se tornam deuses’; é todo um artwork irrepreensível, e não é um disco aborrecido. Muitos andamentos, ora com aceleração tempestuosa, ora riffs pesados de hino ao headbanging. ‘Atonement’.

Robert Vigna nunca sossega a guitarra por muito tempo, sua arma de arremesso, enquanto estilhaça os acordes; já Alex Bouks, na guitarra rítmica tem uma presença um tanto mais sossegada. O guitarrista loiro só nos olha com cara: este riff é muito bom.

Viagem a um passado ainda mais distante, e aos sons do culto, com as malhas ‘Those Left Behind’ e ‘Into Everlasting Fire’, do mítico álbum ‘Dawn Of Possession’: Death Metal clássico de 1991. O passado nunca soou tão bem. Prova de um blend magnífico entre os trabalhos mais recentes e alguns clássicos pelo meio, pois passamos ainda pelos temas ‘Once Ordained’ (1999) e ‘Kingdom Of Conspiracy’ (2013).

Aplausos. “Querem mais? Querem mais uma?” Seguiriam-se duas. Mais aplausos, mas já sem tempo para mais uns quantos, pois começam: encore, fechando com a chave de ouro ao som de ‘Immolation’ (1991), agora re-gravado e incluído no novo disco como décima-segunda faixa, uma bonus track presente apenas no CD em versão limitada digipack. Com o artwork impressionante e a exclusiva bonus track, esta é a versão que vale a pena encontrar.

Ross Dolan faz referência à última passagem da banda por Portugal, em Lisboa no ano de 2014, e agradece aos fãs: “Obrigado por virem a este clube vernos e apoiar este estilo de música extrema”.

Concertão.

 

 

A noite do Death Metal. Do Grindcore. A Atonement Europe Tour 2018 foi avassaladora pelas salas europeias onde passou, a medir pelo feedback de mais fãs e das bandas elas próprias. E vai continuar, com mais datas em Abril. Ao nosso país, a data de Lisboa foi-nos trazida pela Notredame Productions, e revelou mais uma noite inesquecível no RCA Clube. Quatro bandas, o espírito underground, a celebração da música extrema. Locus Horrendus, ilustres presentes entre a audiência. Irmandade.

‘Sky of fire… Ground of dust
Flames around me… Heaven has lost.’

 

Texto e Fotografia por Hélio Cristóvão para a World of Metal
Agradecimentos ao RCA Club e Notredame Productions

 

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2 thoughts on “Reportagem Immolation, Full of Hell, Monument of Misanthropy, Omophagia @ RCA Club 24-03-2018

  • Grande noite! No fim de Immolation falámos uns minutos Hélio Cristóvão, boa reportagem e excelentes pic’s. Forte abraço e continua com o bom trabalho.

    Reply
    • Boas Rui.
      Isso! Foi uma grande noite. Obrigado por teres aparecido aqui na report, fico contente por teres gostado. Abraço!

      Reply

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