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Reportagem Moita Metal Fest – Dia 1 – 06.04.18

Reportagem segundo dia do Moita Metal Fest

O nosso World Of Metal nunca poderia estar completo sem uma passagem pelo mítico Moita Metal Fest que neste ano de 2018 completa o seu décimo quinto aniversário. Uma marca impressionante e que foi conquistando o público aficionado das sonoridades de peso. Pela segunda vez a realizar-se no Largo do Pavilhão Municipal de Exposições da Moita, quando chegámos ao recinto cerca de uma hora antes do início das hostilidades, pudemos encontrar já uma quantidade considerável de fãs ávidos pelo primeiro dia.

Com um atraso mínimo que nunca viria a tornar-se preocupante – é o maior oponente em qualquer festival – os Dark Oath foram a primeira banda a dar início a uma noite de festa. Imersos na escuridão e acompanhados pelo som épico da intro de “Land Of Ours”, o primeiro tema do álbum de estreia “When Fire Enfulfs The Earth” que dominou a setlist da banda e que marcou o mote para a sua actuação, a banda estava pronta para conquistar Moita. Quando Sara Leitão entrou em palco, fizeram-se ouvir os primeiros aplausos e não demorou muito a explodir o seu death metal melódico e épico que beneficiou de um som bem alto ainda que definido o suficiente para que pudessem apreciar os pormenores técnicos nomeadamente das guitarras. Não sendo o som mais convidativo à acção por parte do público, definitivamente conseguiu cativá-lo sendo bem representativo de duas coisas: a forma como o Moita Metal Fest é eclético e como os Dark Oath também conseguem soar bem em qualquer palco.

Os Sacred Sin são uma instituição do death metal nacional pelo que saberá sempre a pouco ouvir um alinhamento mais curto como foi o caso. No entanto, a banda cumpriu a sua missão e conseguiu fazer-nos apreciar um retrato resumido da sua carreira. Temos que confessar que apesar de compreendermos que o formato power trio foi aquele que mais marcou a carreira da banda desde o regresso, o seu som foi feito para ser ouvido com duas guitarras e foi graças a isso que temas como “Ghoul Plagued Darkness” (provavelmente um dos clássicos mais underrated do death metal nacional), “Vipers Rise From The Underground” e “The Chapel Of The Lost Souls” soaram melhor que nunca. A finalizar uma actuação que apenas falhou o arranque da clássica “A Gravestone Without Name” e o facto da voz de José Costa estar um pouco baixa em relação a tudo o resto. Nada que belisque o poder dos temas citados atrás (e da sua entrega) nem do omnipresente clássico, “Darkside” que teve honras de provocar o primeiro circle pit da noite.

A guinada estilística seguinte poderia deixar os mais cépticos com dúvidas, mas apenas os que nunca viram os Viralata é que não poderiam saber aquilo que iriam encontrar. O punk rock irreverente e bem humorado por parte da banda lisboeta agarrou bem o público desde o início e deu largas ao espírito de festa que faz parte do código genético do Moita Metal Fest. “Estrelas Decadentes”, “Estamos Juntos”, “Zé Ninguém”, “A Nossa Religião” e “Lúcio Fernando” – segundo Ulisses Silva, o tema mais metal dedicado a Lúcifer. Com uma boa disposição interminável e contagiante, o punk rock da banda insere-se bem no legado do boom do rock português e de toda uma fase da música nacional que está na nossa memória e principalmente nos nossos corações. Provas maiores que “Carocho” (com o refrão cantado por um fã mais entusiasmado), “E Vai Um Copo” e a brincadeira que puxou o público todo a cantar “Foda-se Moita és Linda” não existem.

A última banda nacional a subir ao palco é também um dos maiores tesouros da nossa música extrema, os sempre peculiares mas excelentes Filii Nigrantium Infernalium que com o seu necro rock’n’roll conseguem juntar heavy metal tradicional, thrash e black metal sem esquecer o bom humor, sempre irónico e sarcástico, tendo como principal alvo a religão católica. As hostilidades negras iniciaram-se com a já clássica “Calypso” (não nos cansamos daquela “Marcha Imperial” no final por muito que a ouçamos) e não faltaram incursões também ao novo álbum a ser lançado no final de Maio pela Osmose Productions, o promissor (pela amostra e pela nossa expectativa) “Hóstia”. Monsenhor Belathauzer e a sua trupe de homens negros até no azar são old school. Quando partiu uma corda da sua guitarra, a actuação teve que ser interrompida por alguns minutos o que fez com que se tivesse direito a menos tempo de antena para espalhar a palavra do senhor. O sempre humilde frontman fez um mea culpa e ofereceu as suas costas à flagelação quarenta minutos depois em frente às casas de banho. Não fomos verificar mas acreditamos na palavra de pessoa mui pia.

A primeira de duas bandas internacionais foi a máquina grega de thrash metal, os Suicidal Angels. A intro com o tema de “Tubarão” fez logo com que as expectativas subissem em flecha para aquele que era um dos concertos mais aguardados deste primeiro dia. Essas expectativas não foram goradas, graças a um desfilar de temas que abrangeram quase toda a sua carreira. Este foi talvez o único ponto negativo da sua actuação – se é que o podemos considerar como ponto negativo – o facto dos gregos não terem tido mais tempo de antena. É o preço a pagar por ter uma oferta tão boa em termos de bandas no mesmo dia.

De qualquer forma a impressão deixada foi excelente e provocaram o rebuliço expectável em frente ao palco. Temas como a abertura “Capital Of War”, “Eternally To Suffer”, “Reborn In Violence” ou o groove demolidor de “Seed Of Evil” puseram à prova a resistência da assistência que não se fartava da rotina circle pit – palco – crowd surfing – circle pit. Um espectáculo à parte portanto. “Ainda se teve direito à “Moshing Crew” dedicado ao público (dedicatória mais que adequada) e ao último tema que levou ao climax e a uma wall of Death, “Apokathilosis”. Uma banda que foi feita para ser vista e ouvida em cima do palco.

Por falar em banda que foi feita para ser vista e ouvida, o maior destaque teria de ir obrigatoriamente para os escoceses The Exploited, que já não editam nenhum álbum desde 2003 mas que mesmo assim conseguem manter-se relevantes ao ponto de atrair uma verdadeira multidão para o seu concerto. O algum atraso com que se iniciou o concerto foi totalmente colocado para trás perante um ambiente de autêntica festa onde os primeiros temas “Let’s Start A War”, “Fightback” e “Dogs Of War” marcaram o mote para aquilo que viria a ser a sua actuação: um corropio de membros da assistência a subir ao palco, de circle pits e de um sentido de animação e festa constante. Para quem diz que o punk/hardcore dos The Exploited representa mensagem de violência para pessoas violentas é porque primeiro nunca perdeu tempo para perceber como as letras apesar de terem sido escritas numa época completamente diferente, ainda fazem sentido – de uma forma bem assustadora. Segundo, é porque não assistiu à entreajuda entre os membros da assistência e a comunhão existente entre essa mesma assistência e a banda. É tudo diversão. A falar de coisas sérias mas ainda assim, diversão.

Este foi o espírito que pudemos encontrar ao longo de um desfilar épico de pérolas punk/hardcore e até, porque não, crossover (embora esta costela mais metálica não seja propriamente a mais audível ao vivo). A entrega dos escoseses foi de envergonhar muitas jovens bandas que se julgam energéticas – destacando obviamente Wattie Buchan que já anda nesta vida há quase quarenta anos e que ia ficando por cá na última ocasião que nos visitou. Felizmente isso não aconteceu e felizmente que o fulgor que demonstrou colocou esse cenário bem longe. Conforme o concerto ia progredindo, mais o cansaço parecia não ser uma questão, até chegando ao ponto em que malhões clássicos como “Fuck The U.S.A.” e “Sex & Violence” tiveram mais pessoas em cima do palco do que propriamente à frente do mesmo, tendo até a particularidade de na última música citada atrás termos podido presenciar crowd surfing em cima do palco. Onde é que se pode ver crowd stage surfing? Only in Moita. A noite acabou com uma épica “Was It Me” e foi um final que confirmou que esta edição do Moita Metal Fest foi das coisas mais épicas que alguma vez houve. E ainda estavamos a meio.

Reportagem segundo dia do Moita Metal Fest

Reportagem por Fernando Ferreira
Fotos por Sónia Ferreira
Agradecimentos Moita Metal Fest

 


 

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