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Reportagem Pain, The Vision Bleak, Dynazty, Billion Dollar Babies @ RCA Club, Lisboa – 30/10/16

Os Pain são uma banda que conseguiu ao longo dos anos reunir interesse dos fãs da música de peso nacional, facto ao qual não deverá ser alheio o facto de Peter Tägtgren ter construído uma fiel base de seguidores com os Hypocrisy. No entanto, este seu projecto sempre se diferenciou pela sua aproximação mais acessível ao som industrial, apesar das óbvias semelhanças em muitas das músicas de ambos os projectos. A promover o recém-lançado “Coming Home”, a banda de Tägtgren, onde pontua o seu próprio filho na bateria, visitou Lisboa numa data que fez parte da digressão de apoio a esse mesmo trabalho. No entanto, não só em Pain residia o interesse por esta data, já que tinha como bandas de suporte os The Vision Bleak, Dynazty e os Billion Dollar Babies, um cartaz de luxo, quase totalmente sueco (exceptuando pelos alemães The Vision Bleak) digno de um festival itinerante que estava a passear pela Europa e com o qual fomos brindados. 
Os primeiros a subir ao palco, e começando à hora certa, foram os Billion Dollar Babies que colocaram todos a mexer com o seu hard rock de teor sleazy que é bem contagiante em cima de um palco. Apesar da sala ainda estar a encher-se a banda actuou como se estivesse num estádio a aborrotar. “I Want To See You Burn”, “The Junkies Ball”, “In The Back Of My Limousine” e “Everyone’s In Love With A Chemical God” foram os momentos altos de uma actuação que durou pouco mais de trinta minutos mas que foi o suficiente para que quem não os conhecesse ficasse logo fã. E podemos que no final da actuação, a plateia estava dividida entre esses dois grupos: os que já eram fãs e os que acabaram por ficar. O ambiente foi fantástico o que fez com que o vocalista Frankie Rich se dirigisse ao público agradecendo a presença e o entusiasmo num Domingo, quando seria previsível que a adesão não fosse tão significativa.
Depois de uma excelente abertura por parte dos Billion Dollar Babies, era esperada a chegada dos Dynazty, banda que nos chamou a atenção com o seu último trabalho “Titanic Mass” meses atrás. Se em estúdio ficámos impressionados, depois de os ver ao vivo, a fasquia ficou irremediavelmente mais alta. Entrando em palco ao som do tema do “Exterminador Implacável” a servir de intro, a banda não perdeu tempo e atacou logo com “The Human Paradox”, precisamente o tema de abertura do já mencionado último álbum de originais. A forma como misturam heavy/power metal tradicional com o hard rock mais clássico é sem dúvida vencedora, mas a sua presença em palco é realmente de assinalar pelo entusiasmo.
Apesar da sua discografia já extensa (a banda têm já cinco álbuns de originais lançados) devido ao curto espaço da setlist, as escolhas recorreram sobretudo nos três últimos álbuns originais, com “Renatus” a destacar-se com três temas – “The Northern End”, “Incarnation” (com direito a um inspirado solo de baixo) e “The Northern End”. Não faltou o tema-título de “Titanic Mass” e a “Raise Your Hands” do “Sultains Of Sin”, o tema mais antigo que a banda tocou. Bom som, boa onda, uma banda energética e entusiasta e um público ávido por aquilo que estava a ouvir. Tudo coisas que excediam as expectativas mais pessimistas.
Fechada a secção hard rock da noite, a noite adensava-se com uma das bandas de culto do metal gótico de cariz mais extremo. Os The Vision Bleak são uma das bandas mais interessantes dentro do seu género e o mesmo que o seu último álbum de originais tivesse a qualidade que tem, a sua carreira já justifica por si só o valor do bilhete. A banda apresentou-se com um quarteto – a Konstanz e Schwadorf juntaram-se mais dois músicos de sessão, guitarrista e baterista, com o baixo a ficar por conta de uma pista pré-gravada.
Começando com uma pesada e épica “From Wolf to Peacock”, um dos grandes momentos do último álbum de originais, “The Unknown”, as apresentações estavam feitas, com a banda a conseguir transmitir para cima do palco todo o misticismo e magia que cria em disco. “The Unknown” foi, aliás, o grande foco da sua setlist, com três representações no total. Não puderam no entanto faltar clássicos como “The Night Of The Living Dead” e “Wolfmoon” do álbum de estreia ou o tema-título de “Carpathia – A Dramatic Poem” e a “Kutulu!” desse mesmo trabalho. 
Apesar de ser seguida de mais próximo pelas hostes góticas, que obviamente se chegaram mais à frente para esta actuação, a verdade é que o seu som agradou a todos os presentes e a sua prestação esteve imaculada, onde a simpatia de Konstanz foi constante, apesar de ter sido uma performance bem mais teatral do que aquilo que se tinha visto até então. “By Our Brotherhood with Seth” fechou com chave de ouro um excelente concerto.
Chegada a vez da banda cabeça de cartaz, era também altura de profundas alterações no palco. As bandas até então tinham os seus bateristas a tocar do lado direito do palco já que a bateria dos Pain já se encontrava montada no centro, no seu lugar do costume. Esta táctica para, presumimos nós, poupar tempo nos preparativos para o concerto da banda principal, revelou-se vencedora já que não mais de vinte minutos foi o suficiente para se dar as boas vindas a Peter Tägtgren e aos seus comparsas para uma autêntica maratona do seu metal industrial que se formos bem a ver até tem bastante em comum com as duas bandas que iniciaram a noite.
O grande destaque da sua actuação foi mesmo o último trabalho, com sete (!) músicas retiradas de “Coming Home” a terem sido interpretadas, demonstrando a confiança total neste seu mais recente trabalho. Independentemente da opinião que se tenha acerca do mesmo, a realidade é que não se notou em nenhum momento que os referidos temas não se encaixassem nas músicas mais antigas que a banda apresentou. O facto das novas malhas se terem apresentado misturadas com as outras também ajudou a que isso acontecesse, não havendo hipóteses de quebras muito prolongadas de interesse para quem não conhecia o material mais recente.
Com uma carreira já longa (afinal “Coming Home” é já o oitavo álbum da banda) e apesar do já mencionado foco no mais recente trabalho, ainda houve tempo para visitar mais seis outros trabalhos, ficando de fora apenas a estreia auto-intitulada, o que também serviu para termos uma percepção do quão confortável Tägtgren está na sua carreira com os Pain, com um legado considerável, onde é visível uma evolução de trabalho para trabalho, mas onde a sua identidade se manteve constante e sem grandes mutações – algo que seria expectável dado o teor mais acessível dos Pain.
Quanto à prestação em si, a banda esteve bastante sólida, havendo já um entrosamento bastante grande entre os músicos e onde teremos que destacar obrigatoriamente a prestação de Sebastian Tägtgren, filho de Peter, atrás do kit de bateria. Sólido e incansável, está garantido a continuidade do legado familiar de um dos grandes nomes da música pesada europeia. Quanto a Peter, foi um autêntico mestre de ceremónias, comunicativo e até brincalhão e sempre muito expressivo na forma de interpretar (e reinterpretar a sua própria música). 
Também não faltou a presença do boneco que fez o videoclip da “Call Me” e que substituiu Joakim Brodén. Em palco, o mesmo apareceu para assinalar o sample vocal de Joakim Brodén. Ainda presenciamos a espécie de mascote dos Pain a ser levada por um doutor endiabrado na “It’s Only Them”. O final da actuação ficaria guardado com um pequeno encore para a inevitável “Shut Your Mouth”, cantada e entoada por um RCA Club em peso. Sem dúvida uma grande noite da música pesada e a prova de que mesmo com diferenças de estilos, havendo qualidade, o público comparece sempre.

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