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WOM Report Primordial, Decayed, Aura @ RCA Club, Lisboa, 22.09.2018

Vamos directos ao assunto. O que se passou no RCA esta noite foi uma grande lição de metal. “We are not one of those bands who you pay 25€ and leave after 56 minutes“, diria Alan Averill ‘Nemtheanga’ lá pelo meio do concerto, anunciando mais umas cenas ‘old school’ e metal à séria. Já lá chegamos.

São 9h da noite, e é daqueles dias em que a fila já chega à esquina da rua, mesmo antes de abrirem as portas do RCA. É noite de festa grande! O mote deste concerto é a Warm Up Session para o festival Under The Doom, trazido pelas mãos da Notredame Productions, que acontecerá em Dezembro e já é muito badalado por todos, tal é o cartaz e a expetativa. Desta feita, celebram-se agora dois concertos, encabeçados pelos Primordial, que cá vieram em exclusivo para estas duas datas, em Lisboa e no dia anterior no Hard Club, Porto. Na noite de Lisboa, contámos com talento português para abrir as portas do Inferno, com a presença e devastação dos Aura e Decayed. Comecemos.

Aura

Os Aura têm andado envolvidos em certo secretismo, que antecedeu o lançamento do seu trabalho de estreia: o muito recente EP “Hamartia“, editado pela Larvae Records, Julho de 2018. Eis o apontamento da banda, sobre o lançamento:

“Hamartia” is the first offering from Portugal’s Aura. The four-piece craft expansive black metal that seamlessly weaves in post-rock influences on this three song EP. Clocking in just under 20 minutes, Aura boast a sound beyond their years together; a dense-yet-visceral soundscape punctuated by full throated screams.”

Há uns meses, os nossos camaradas da LOUD! publicaram-nos como ‘um dos segredos mais bem guardados’, a antecipação sobre esta banda de Guimarães.
Agora chegou o momento. O primeiro concerto de apresentação foi em Vigo, depois Porto, agora Lisboa. Em 2 meses voltam ao Porto, Metalpoint para abrir o Concerto “The Apostoles of Eternal Fire”, organizado pelos Ominous Circle. E já têm um punhado de concertos agendados numa tour nos EUA. Way to go!

Por tudo isto, e depois de ouvir e repetir o EP, estava muito curioso para os ver ao vivo. Situação: casa meio cheia, muita fila ainda à porta, os Aura começavam a tocar. Apresentaram o EP.

Campos melódicos rasgados por visceral gritaria vinda de uma masmorra dos confins do abismo, o som é muito cru mas muito audível, e se atuação foi curta em tempo, foi grande em intensidade. A voz a esmagar que aparece com a batida após as partes ambientais assinalam o poder, o desespero a brutalidade deste black metal. Foi uma boa introdução, que só peca por ter a condição de banda de abertura e uma casa ainda a meio que se estava a compor.

Acho que muitos fãs de metal clássico facilmente se identificam com a música dos Aura. Podem verificar o “Hamartia” na página de bandcamp da banda Aura e editora Larvae Records.

 

 

Decayed

São 25 minutos de intervalo que agora separam o público da descida ao inferno, ao som da negritude e blasfêmia desta banda, uma embaixada de black metal nacional. Chegavam os Decayed, para nos rezar a missa negra, e trazem as músicas a estrear do novo álbum “Of Fire And Evil”, lançado em Junho de 2018.

Para interessados, deixo a ligação do Alta Tensão em Junho com o António Freitas à conversa com o J.A. fundador da instituição, a situar este novo trabalho, como uma introspectiva da história da banda, que já soma quase três décadas de existência!

Do que os Decayed trouxeram para esta noite, destaca-se obviamente o novo álbum, em que tocaram os temas ‘FireStorm’, ‘The Skull Of Akator’, ‘Alvorecer De Almas Perdidas’, e o anterior de 2016 “The Burning Of Heaven” (Helldprod / Chaosphere Recordings), com as malhas ‘Son of Satan’ e o puro rasganço do imperdoável ‘Cravado na Cruz’. Vulturius e J.A. dividem vozes, na bateria a pulsação é brutal, black metal clássico, servido como um banquete. Ali pelo meio, ainda revisitados os discos “Chaos Underground” de 2010, ‘Hexagram…’ de 2007, com os temas ‘Martelo do Inferno’ e ‘Spikes Leather and Bullets’. Por esta hora, o ambiente estava excelente.

A encerrar o festim, ‘Fuck Your God’ (Resurrectionem Mortuorum, de 1996). Isso, toda a aceleração e agressividade naqueles 3 minutos para um final a partir. Este álbum marca uma época, confessa J.A., em que eles estavam um bocado f*didos com a cena do metal na generalidade.

Foi forte, foi consistente, tiveram a casa lotada e muito compacta nesta atuação muito digna a durar perto dos 40 minutos. “Obrigado, boa noite e até à próxima”. Poderiam tocar o dobro, repertório não faltaria e ninguém se importava. Venha então essa próxima. Até lá, o caminho que é preciso para a discografia da banda passa por aqui.

 

 

Primordial

São 23h10, tudo pronto a começar. Está uma casa cheia daquelas compactas, o ambiente está escuro, as luzes apagadas por uns quantos minutos… chegam ao palco os músicos e estreiam com o novo álbum no tema de abertura ’Nail Their Tongues’, todo aquele ambiente é luz vermelha e a batida e riffs épicos da introdução. E o momento em que entra para cantar o frontman A.A. Nemtheanga, e os aplausos.

O que aconteceu com o concerto de Primordial foi uma grande lição de metal. Uma cena old school com grande ambiente, muito peso. Grande festa.
Estiveram a tocar 2 horas e mais uns 10 minutos. Encore? Intervalos? Não! Foi massivo. Apenas breves pausas para apresentar as canções, falar com o público, pedir vinho, as coisas normais. “Are you with me?” E estávamos! Estávamos todos.

Com Primordial cada música é uma história, a encenação, o teatro está presente para aumentar a canção. Só me chegavam dois adjetivos à cabeça: Brutalidade e perfeição.

São 30 anos de carreira, a música é tocada e cantada com mestria. E Nemtheanga sabe como agarrar a audiência. E sempre a puxar, até que ao fim de poucas músicas, o mosh, os refrães, estava tudo imparável!

Em resumo, grande destaque para o novo álbum ‘Exile Amongst the Ruins’ lançado em Março via Metal Blade Records, que tocaram quase na íntegra, incluíndo “To Hell or the Hangman” com direito a introdução e diálogo com o público, e uma corda com um nó à mistura, “Stolen Years”, e ‘Upon Our Spiritual Deathbed’, para nomear alguns.

A setlist arrancou com muito peso e drama, constituído uma ‘primeira hora’ da atuação muito intensa, intercalando ‘Babel’s Tower’, ‘No Grave Deep Enough’ e ‘As Rome Burns’ com os temas novos. O big Irish metal dude foi incansável e de voz arranhada não evidenciava sinais de abrandamento, pois corria todos os cantos ao palco, e estava muito envolvido com o público!

Perto do meio, a viagem ao tema “Journey’s End”, que é anunciado com uma boa apresentação, ao falar da celebração dos 20 anos deste álbum, e o concerto em Lisboa há 19 anos quando tocaram esta mesma música.

Com alguns momentos mais calmos, até um ambiente doom, mas não era a prestação a fraquejar ou a perder intensidade, porque a duas músicas do fim, a encerrar com final épico devolvem “Wield Lightning to Split the Sun” e “Empire Falls”, e este final ficou fortíssimo.

My friends it is a beautiful pleasure to play for you in your beautiful country”. Acabaram à 1h30 da noite, e penso para mim que não poderia haver uma alma naquela casa que não se tivesse sentido numa jornada épica e de coração cheio numa noite de alto espírito e boa música.

 

 

Texto e Fotografia por Hélio Cristóvão para a World of Metal
Agradecimentos ao RCA Club e Notredame Productions

 

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