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Reportagem Soen, Madder Mortem @ RCA Club, Lisboa – 21/10/17

Depois de uma grande noite no Hard Club, no Porto – esgotada – seria a vez de da capital ser bafejada com um dos espectáculos do ano para os fãs da música progressiva, um espectáculo que percorreu grande parte da Europa e que agora terminaria precisamente na sala lisboeta: os suecos Soen, acompanhados pelos norueguese Madder Mortem, uma combinação que se revelou perfeita, confirmando as suspeitas que já tínhamos. Apesar da noite mais fria, mostrando que o Outono finalmente estava a dar sinais de vida, o público apareceu em força para uma noite que se previa especial, não só por ser o último espectáculo da digressão, nem por se saber à partida que iria ser gravado para o lançamento de um eventual DVD. Especial apenas porque… bem, são os Soen, certo? A banda sempre foi muito acolhida em solo nacional e o RCA provou que tal não tinha mudado. Após uma espera já com a sala cheia, seriam os Madder Mortem os primeiro a subir ao palco, com o seu som muito melancólico e emocional.

“If I Could” abriu as hostilidades, com um volume bem alto mas também impecavelmente definido e marcaria o mote para o resto da actuação. Há catorze anos que a banda não vinha a Portugal, um período demasiado longo para uma banda que não só tem qualidade para que passe por cá mais vezes, como tem público para o receber. E este último ponto foi fulcral para que a banda se sentisse em casa e a sua actuação fosse sentida de forma ainda mais emocional. E quando uma banda que tem música bastante emocional consegue fazê-la ainda mais, é porque ela é viva e orgânica e vive não só das emoções dos músicos mas também da energia e sentimento que estes recebem do seu público.

Exemplo perfeito dessa vida foram as interpretações de temas como “Resolution” (do álbum “Eight Eyes” que segundo Agnete, a vocalista, nunca teve uma digressão de apoio), “Armour” e “Hangman”, principalmente este último que foi de tal forma emocional que arrepiou. De levar às lágrimas, vocalista incluída. Segundo Agnette, a música é a melhor forma de lidar com este tipo de sentimentos. Nós concordamos em absoluto. Os Madder Mortem demonstraram que o metal progressivo não tem que ser frio e clínico. Pode ser visceral e orgânico, mesmo sendo impecável no requisito técnico. Mesmo com o guitarrista de sessão – já que Richard Wikstrand teve uma tendinite doze semanas antes de começar a digressão e fui substituído na mesma por Henning Ramseth (dos Ramzet) que se integrou de forma perfeita. “Underdogs” colocou um ponto final de forma apoteótica, onde não faltaram os agradecimentos à crew, aos Soen e, claro, ao público que esteve com a banda desde o primeiro momento da noite.

Um grande concerto que sem dúvida demonstrou que esta deverá ter sido uma das melhores digressões de metal progressivo que andou pela Europa. Tanto para os fãs como para as próprias bandas. Confessamos que ficou um certo vazio após a saída de palco dos noruegueses. Pelo menos por breves momentos, até nos lembrarmos que seria a vez dos Soen entrarem em cena. Apesar de terem um som manifestamente diferente, o que têm em comum é o mais importante – emoção e proficiência técnica.

É uma intensidade diferente, todavia. “Canvas” iniciou de forma explosiva a actuação dos Soen e a resposta do público não poderia ter sido mais entusiasta. Com uma intensidade metálica acrescida – na qual se junta a voz de Joel Ekelöf, que tem o seu quê de Maynard James Keenan dos Tool – e uma emocionalidade omnipresente, estavam reunidas todas as condições para que todas as expectativas (que eram bastante elevadas) fossem todas correspondidas e até ultrapassadas.

A exemplo do que se tinha passado com a banda anterior, os Soen gozaram de um som excepcional, onde todos os membros, sem excepção brilharam. Teve-se o equilíbrio perfeito entre a perfeição técnica e uma entrega emocional à qual o público não foi alheio. Muito pelo contrário. Alimentou essa entrega e recebeu-a também de volta. Talvez fosse o já referido facto do concerto ter sido registado para o lançamento de um DVD. Na nossa opinião, esse foi apenas um pormenor, estava magia no ar, magia que não se reproduz quando se quer.

A banda passeou pelos seus três álbuns lançados mas o foco principal foi mesmo o mais recente trabalho, “Lykaia”, de onde interpretaram cinco temas, mas o alinhamento fluiu de forma natural, para não dizer perfeita. Os pontos altos acabaram por ser as rendições dos temas “Pluton” (com o público na parte final a entoar a melodia cantada pela guitarra sem distorção, um momento belo de comunhão entre a banda e o público), “Jinn” (onde aconteceu algo semelhante aquando tocaram a “Pluton”) e a “Fraccions” (a ser finalizado em a capella e com o público a ovacionar a banda sueca).

O público esteve incansável e o tempo de espera para o encore foi mínimo. “Tabula Rasa”, já um clássico, e uma “Lucidity” bastante introspectiva foram os últimos temas a serem tocados naquela noite. Segundo Ekelöf, esperavam encontrar uma boa recepção, mas nada assim – segundo as palavras do próprio – tão fantástico. Um RCA estava cheio não só de música de qualidade irrepreensível mas principalmente de alma e aquela magia que acontece uma vez em mil. Com este sentimento no coração, abandonámos a sala de alma cheia. Apostamos que os Madder Mortem e Soen também.

Reportagem por Fernando Ferreira
Fotos por Sónia Ferreira
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