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Road To Vagos – Satyricon

Encerramos este ciclo da nossa caminha para Vagos pelo segundo ano consecutivo parceiros oficiais com uma das grandes atracções do cartaz da edição de 2019: Satyricon. Tudo começou na Noruega, curiosamente, com um grupo de músicos que tocava death metal e depois resolveu começar a tocar black metal, chamando esta nova entidade de Satyricon. Consta que só posteriormente Satyr entrou na banda. O primeiro resultado desta formação foi a demo “All Evil”.

Algo bastante embrionário e ainda longe da sonoridade da banda que também foi mudando de lançamento para lançamento. No entanto, era possível apreciar que a banda já aqui era fã dos midtempos trituradores que viriam a caracterizar a sua identidade musical. Após a demo, o baterista Exhurtum foi expulso da banda enquanto o baixista Wargod decide seguir a vida militar, tornando-se soldado das Nações Unidas. Ficando apenas Satyr e Lemarchand na banda, contrataram o Frost como baterista de sessão e lançaram a segunda demo em 1993, “The Forest Is My Throne”.

Sonoridade mais caótica e mais próxima do que seria o standard da segunda vaga de black metal. Lemarchand saíria da banda pouco tempo depois e Frost foi promovido a membro oficial. E este seria o núcleo duro dos Satyricon durante muitos anos, com poucas excepções à regra. No entanto, ainda antes de sair, Lemarchand gravaria as guitarras para o primeiro álbum da banda, “Dark Medieval Times”, lançado em 1994.

“Dark Medieval Times” foi lançado num ano em que o black metal norueguês lançou muitos das suas obras primas e talvez por isso se tenha tornado um objecto de culto algo subvalorizado mas que anos mais tarde muitos dos fãs gostariam de referir como um dos pontos mais altos da banda – o que é igualmente discutível. Ainda em 94, os Satyricon lançariam o seu segundo álbum de originais, contando com os préstimos de Samoth dos Emperor nas guitarras e baixo. “The Shadowthrone”

Curiosamente, “Shadowthrone” sendo um álbum superior a todos os níveis (produção, composição e performance) acabou por não impressionar tanto os fãs do género quanto a sua estreia. Seria o terceiro álbum que se revelaria uma autêntica pedrada no charco e que faria as atenções todas da cena se voltassem para a banda. Contando com Nocturno Culto em vez de Samoth nas guitarras, “Nemesis Divina” foi o álbum que fez com que os Satyricon subissem ao próximo nível.

Tal como todos os álbuns da banda, “Nemesis Divina” foi lançada pela Moonfog Productions, editora de Satyr. O impacto deste lançamento pode ser sentido tendo consciência da quantidade de vezes que os temas “Mother North” (um dos mais reconhecíveis e marcantes de sempre da banda muito graças à força do seu riff principal reconhecível em qualquer ponto) e “Forhekset” surgiram em compilações de black metal nos próximos anos. Em 1997 lançariam o EP “Megiddo – Mother North in the Dawn of a New Age” que dava indicações acerca do caminho a seguir em termos criativos.

Contando com apenas quatro temas, a banda apresenta uma remistura do tema “The Dawn Of A New Age” pelos Apotygma Berzerk, uma regravação do tema “Night Of the Divine Power”, “Forheskset” ao vivo e uma versão algo podre da “Orgasmatron” dos Motörhead. Mesmo que não fosse totalmente perceptível, os temas mais midtempo e as influências electrónicas seriam o prato principal do próximo álbum, “Rebel Extravaganza”. Mas antes disso, um outro EP, “Intermezzo II”, esse sim, mais próximo da sonoridade do já mencionado quarto álbum.

Sonoridade mais suja, as guitarras a ficarem mais afoitas por sonoridades midtempo e arrastadas e as influências electrónicas a marcarem cada vez mais presença, com o facto de Satyr ter rapado a cabeça ser apenas mais um indicador das profundas mudanças que se formos a ver… não foram assim tão profundas. Passado alguns meses, finalmente, o já aguardado “Rebel Extravaganza”.

Obviamente que o álbum não foi bem aclamado. Nem pela crítica, muito menos pelos fãs que encararam o trabalho como uma traição – a digressão com uma banda como Pantera também não ajudou.. Voltando a ele, duas décadas depois, é possível não só ver como Satyr e Frost estavam bem à frente do seu tempo como também influenciaram toda uma série de novas bandas e novas sonoridades onde o black metal se expandia para novos campos. Isso é um facto inegável, inedependentemente daquilo que se pense deste trabalho. Inegável também é o facto que ao vivo estas canções tinham uma potência completamente superior.

Apesar de toda a polémica, o saldo para a banda foi sem dúvida positivo, já que a par da mudança de sonoridade assim como a exposição a um público totalmente diferente – como já mencionado atrás, devido à digressão com os Pantera – e como tal, lançaram um DVD que se assemalha mais a um diário de bordo da banda do que propriamente ao tradicional registo das bandas quando têm um grande êxito nas mãos. Ainda a aproveitar o bom momento e também pela sua Moonfog productions, a compilação “Ten Horns, Ten Diadems”

Poucos meses depois, o novo álbum que representava o início de uma nova era para os Satyricon. Por um lado, via a banda a largar as suas influências electrónicas, mas por outro assumia uma espécie de black’n’roll que por esta altura, 2002, tornou-se bastante popular. Por outro lado, “Volcano” via a banda chegar às chamadas “majors”, com o álbum a ser distribuído pela Virgin Records e pela Capitol Records, além da própria Moonfog.

Não foi uma jogada que reconquistou por completo todos os fãs perdidos com “Rebel Extravaganza”. Para alguns até piorou ainda mais a aversão, no entanto, a banda foi capaz de chegar a novos públicos e a uma geração que se iniciou com o nu metal e que procurava por algo mais extremo. A simplicidade das músicas de “Volcano” ajudou a que esse alcance fosse bem sucedido.

A banda demoraria o seu tempo para preparar o sucessor de “Volcano” e apenas em 2006 se teria nova música, com os dois singles “The Pentagram Burns” e “K.I.N.G.” a abrirem caminho para “Now, Diabolical”. Se antes era possível vislumbrar uma progressão de álbum para álbum, desta feita, essa progressão foi mínima. Podemos mesmo dizer que “Now, Diabolical” é um disco sequela de “Volcano”, seguindo a mesma fórmula, as mesmas soluções musicais, embora fosse nalguns pontos mais eficaz que o seu antecessor.

Lançado pela Roadrunner, “Now, Diabolical” continuava o namoro entre de Satyricon e as multinacionais (Roadrunner por esta altura já tinha sido comprada pela Universal). “My Skin Is Cold” foi o EP que antecedeu o próximo álbum de originais. Apresentavam uma faixa nova (o tema-título que surgia aqui diferente da versão que saíria no álbum) e a “Mother North” em vinil e em CD estes dois temas mais a “Repined Bastard Nation” e outros dois temas remasterizados.

“The Age Of Nero” seria o primeiro álbum lançado pela Roadrunner Records e também ele era uma continuação dos dois anteriores. Espírito e de certa forma, a ambiência do black metal movida a riffs midtempo e a inconfundível voz (e métrica) de Satyr a declamar canções de ódio e de amor ao ódio. Por esta altura parecia que a banda estava presa à mesma fórmula, mas tal não se iria verificar por muito tempo.

O próximo álbum só surgiria cinco anos depois, o trabalho auto-intitulado que foi uma autêntica pedrada no charco. Em todos os sentidos. E como tal, também a polémica não poderia andar longe desta vez por uma faixa “Phoenix”, em que tem voz limpa cantada por Sivert Høyem e é aquilo que mais se aproxima de uma balada de tudo o que a banda fez. No entanto, qualquer pessoa terá de admitir que é uma das melhores músicas do álbum mesmo que não soe a nada que a banda tenha feito até então.

Independentemente de todas as críticas, na nossa opinião, este é um dos grandes trabalhos da banda. De sempre. A banda não tinha medo das críticas, nem tinham medo de experimentar para além do que lhes diziam que deviam ou não fazer. E isso inclui tocar numa sala de excelência para a Ópera e Ballet em Oslo mas em vez de tocarem com uma orquestra, tocaram com o Coro Nacional de Ópera. Seria obviamente gravado e lançado dois anos depois, em 2015, pela mão da nova editora da banda, a Napalm Records.

“Live At The Opera” vai bem para além do lugar comum de lançamentos em que bandas tocam com orquestra. Isto porque o coro realmente enaltece e torna todas as músicas bem mais poderosas. Diríamos mesmo assombrosas. Um dos melhores álbuns ao vivo do novo milénio, coloquemos as coisas neste ponto.

Mais uma vez a banda não se iria apressar para lançar o novo trabalho principalmente após a notícia de 2015 onde foi indicado de que sofria de um tumor cerebral que desde que não revelasse sinais de crescimento não iria ter necessidade de ser removido. Em 2017 a banda lançaria o seu nono álbum de originais, “Deep Calleth upon Deep”.

De certa forma, este novo álbum era um marcar passo em relação ao que a banda tinha apresentado com “Satyricon”. Voltando a seguir pela via do black’n’roll mais declarado e com uma produção mais crua, “Deep Calleth Upon Deep”, acabava por ir reconquistar alguns dos fãs alienados e não deixou de ser um trabalho sólido.

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