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Rock Zone Reviews – Urban Dream, Elettra Storm, Meridian, Hell In The Club, Paradox

Rock Zone é um programa de rádio na Rádio Alta Tensão e na Songs For The Deaf Radio da autoria de Miguel Correia e todos os meses, estes são os seus destaques.

Urban Dream – “Human Eclipse”
Heavy Tones Recordings

Os Urban Dream não querem apenas tocar metal alternativo. Querem construir um universo inteiro à volta dele. “Human Eclipse” é o seu primeiro grande manifesto, um mergulho sombrio na era digital e, convenhamos, um espelho nada simpático da humanidade contemporânea. Gravado no próprio estúdio da banda (porque quem quer liberdade, constrói-a), o álbum soa a distopia com alma, a cyberpunk com consciência e a raiva com propósito.

Aqui o metal não vive isolado: funde-se com eletrónica, pulsações industriais e atmosferas quase cinematográficas que alternam entre o caos e a contemplação. É um disco que tanto te dá um murro com riffs pesados e ritmos tensos, como te arrasta para momentos de pura reflexão sobre o que andamos a fazer da nossa humanidade. “Human Eclipse” é o nome certo, uma escuridão provocada por nós próprios, uma sombra lançada por ecrãs, algoritmos e ego digital.

A banda acerta em cheio no equilíbrio entre o músculo e a mensagem. Há peso, há groove, há melodia, mas o que fica é a sensação de estar a ouvir o futuro a derreter-se diante de nós, em modo som surround. Andrea Moriello proporciona vocalizações intensas e viscerais, Dave Pecoraro conduz a guitarra como quem manuseia um cabo de alta voltagem, e a secção rítmica (Francesco D’Elia e Fabio Quaggia) mantém a energia viva e pulsante como o coração de uma máquina prestes a explodir.

“Human Eclipse” não é um disco fácil, nem quer ser. É um aviso embalado em distorção e neon, um grito vindo das ruínas digitais da nossa própria criação. Se o mundo fosse controlado por IA e esta tivesse bom gosto musical, este seria o seu hino.

 

 Elettra Storm – “Evertale”
Scarlet Records

Os Elettra Storm voltam a soprar ventos fortes no power metal com “Evertale”, um álbum que confirma o que o nome já prometia: isto vem em forma de tempestade. Depois do entusiasmante “Powerlords”, a banda italiana mostra-se mais coesa, mais técnica e mais segura do seu som com aquele equilíbrio, sempre difícil, entre velocidade, melodia e fantasia épica que só o power metal europeu consegue oferecer sem corar de vergonha.

Há aqui de tudo um pouco: a fúria do speed metal, o requinte do prog e refrães que se colam ao ouvido como se viessem embalados pela própria fada madrinha do género. A produção é polida, moderna e cheia de brilho, cortesia de Simone Mularoni, e dá espaço para cada instrumento respirar. Todos os membros da banda têm o seu momento de destaque, mas é impossível não focar os olhos e ouvidos em Crystal Emiliani. A vocalista é o tipo de frontwoman que não canta apenas, domina, misturando carisma e técnica num desempenho que seria digno de um palco iluminado por dragões e trovões. Liricamente, “Evertale” é uma viagem por universos fantásticos, guerras, vinganças e heróis improváveis, uma espécie de “A História Interminável” com guitarras duplas e pedal duplo. Não vai reinventar o power metal nem precisa disso. O que faz, faz bem: entrega energia, emoção e uma boa dose de escapismo épico.

Por fim, “Evertale” é aquele álbum que te lembra porque é que o power metal, quando é bem feito, é irresistível. É grandioso sem ser pretensioso, técnico sem perder alma e tão contagiante que vais dar por ti a levantar o punho mesmo sem saber porquê. A banda italiana não está aqui para brincar, mas sim para comandar a tempestade.

 

 

Meridian – “Meridian”
Target / Mighty Music

Há álbuns que soam a renascimento. “Meridian”, o quinto trabalho dos dinamarqueses Meridian, é exatamente isso: um valente “soco” de metal clássico na cara da complacência moderna. O título diz tudo, pois é um disco que define quem eles são agora, um regresso às raízes feito com punhos cerrados e amplificadores no máximo.

Depois de anos a incorporar sonoridades mais melódicas e progressivas, a banda decidiu cortar o acessório e voltar ao essencial. O resultado é puro heavy metal, direto ao osso, com riffs que cheiram a ferro quente e coros que pedem para ser cantados em coro com uma cerveja na mão. É a celebração do espírito dos 80, mas sem parecer uma caricatura: há vitalidade, há músculo e, acima de tudo, há atitude.

A entrada de Søren Adamsen (ex-Artillery) na voz é meio caminho andado para este renascimento. A sua entrega é rouca, agressiva e cheia de presença, como se tivesse passado os últimos anos a beber whisky e a gritar contra o vento. E resulta. A produção de Marco Angioni mantém tudo cru e real, sem artifícios de estúdio, apenas a banda em modo “killer”, como se estivessem a tocar no meio de uma tempestade elétrica.

“Meridian” é um daqueles discos que não tentam reinventar nada, mas lembram-nos porque é que o heavy metal nunca morreu. É um hino à honestidade sonora, feito por quem vive o género e não apenas o imita. Direto, barulhento e cheio de alma, tudo feito como deve ser. Se ainda duvidas que o velho guarda-chuva do heavy clássico continua a proteger-nos das modas passageiras, basta ouvires este álbum. O velho ainda manda… e fá-lo com classe.

Hell In The Club – “Joker in the Pack”
Frontiers Music

Há discos que não precisam de revoluções para abanar o sistema. “Joker in the Pack” é um desses. Os Hell In The Club com este novo trabalho, simplesmente vieram pôr, na sonoridade, gasolina e atirar-lhe um fósforo. Sétimo álbum de estúdio, primeiro com a nova vocalista Tezzi Persson, este é o renascimento de uma banda que já tinha garra, mas agora tem dentes afiados. A entrada de Tezzi foi um golpe de mestre. A sueca traz uma voz poderosa e uma presença que eleva o som da banda a outro nível. É como se alguém tivesse ligado o hard rock dos anos 80 a uma central elétrica moderna. O resultado? Dez faixas de pura adrenalina, cheias de riffs sujos, refrões pegajosos e uma produção tão musculada que quase dá para sentir o cheiro a palco e cerveja.

A abertura com “The Devil Won’t Forget Me” é um murro no estômago, daqueles bons, que acordam e fazem sorrir. Pelo meio há malhas que piscam o olho aos tempos de Mötley Crüe e Skid Row, mas com um toque fresco e descarado que só os Hell In The Club sabem dar. E quando chega “When the Veil of Night Falls”, a balada que encerra o álbum, é impossível não abrandar e admitir: sim, ainda há espaço para emoção no meio de tanto músculo.

A produção de Simone Mularoni é o toque final. Tudo soa grande, cheio e com aquele brilho rockeiro que pede som alto e cabelos ao vento. “Joker in the Pack” não tenta reinventar nada, mas, simplesmente lembrar-nos porque é que o hard rock é, e sempre será, uma festa barulhenta e viciante…e com estilo.

Paradox – “Mysterium”
High Roller records

Há quem diga que o thrash alemão é como a cerveja de Munique: forte, consistente e com aquele travo que só os veteranos sabem apreciar. Os Paradox confirmam tudo isso com “Mysterium”, o seu nono álbum de estúdio, e provam que a idade não é desculpa para abrandar. Charly Steinhauer faz praticamente tudo sozinho, guitarras, baixo, voz e até bateria programada, com este brilhante resultado, num disco que soa a banda completa, a suor e a convicção.

“Mysterium” é uma aula de como manter viva a chama do thrash e speed metal sem parecer uma cópia do passado. O som é moderno, mas com o espírito intacto. Riffs rápidos, solos que parecem saídos de outro planeta e uma produção que consegue ser limpa sem perder o grão que dá sabor. Há ali momentos de puro brilhantismo, especialmente no início e no final do álbum, com faixas como “Kholat” e “One Way Ticket To Die” a lembrarmos porque é que o thrash alemão continua a ser uma força respeitável.

Nem tudo é perfeito, claro. O meio do disco tem um ou outro tema que parece ter sido escrito depois de uma noite longa de cerveja e nostalgia, mas mesmo esses mantêm um certo charme. E o facto de Steinhauer ter feito isto praticamente sozinho é digno de respeito. Há bandas inteiras que não soam metade tão coesas. Liricamente, o disco navega por temas místicos e histórias pessoais, como a homenagem comovente a Axel Blaha em “Grief”. É um trabalho honesto, feito por quem ainda sente a música nas veias. “Mysterium” é um lembrete poderoso de como o género pode envelhecer bem quando quem o cria ainda acredita nele. Se gostas de metal rápido, riffs afiados e daquela sensação de que o mundo pode acabar a qualquer momento enquanto bebes uma cerveja, este álbum é para ti.

 

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