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Vagos Metal Fest – Dia 1 – 11/08/17 @ Quinta do Ega, Vagos

“Finalmente Vagos”, era o pensamento geral entre as hostes metaleiras que finalmente tinham entrado no recinto neste primeiro dia da segunda edição do Vagos Metal Fest. As expectativas eram altas tanto para o festival geral como para este dia, com muitos nomes e algumas estreias no nosso país. Não muito tempo depois da entrada do público no recinto, os Tales For The Unspoken estavam prontos para começar a agitar e avivar os ânimos. A primeira posição num cartaz como este poderá ser ingrata, já que as primeiras bandas normalmente são sacrificadas pelo público que surge sempre mais tarde. Aqui podemos dizer que a banda de Coimbra teve uma excelente recepção com uma plateia muito composta e ávida por metal. Apesar do som estar algo confuso inicialmente, foi algo que a experiência da banda conseguiu contornar – afinal já é uma década de carreira – e que se foi corrigindo ao longo da actuação. “Mental Strength”, “Say My Name”, “I, Claudius” e o já clássico “N’Takuba Wena” foram alguns dos temas debitados num excelente início da hostilidades. De salientar o apelo de Marco Fresco, o vocalista dos Tales For The Unspoken, para o apoio às bandas nacionais presentes no evento e à cena, um apelo que foi sem dúvida ouvido.

And The She Came foram os senhores que se seguiram e talvez a banda mais fora do alinhamento metálico deste primeiro dia, donos de uma sonoridade mais moderna situada entre a fronteira do rock e o metal, como que uma mistura entre nu metal e metalcore mais melódico. Apesar de uma reacção mais tímida por parte do público, a energia constante de Ji-In Cho acabou por ir conquistando o público aos poucos. Primeira vez da banda em Portugal e demonstração de que há espaço para a banda voltar, talvez noutro contexto. “Like A Hurricane”, “Public Enemy No1” e “Would You Die Tonight” foram bons exemplos da energia e da potencialidade da banda que ainda detém apenas um álbum de originais. A banda acabou com a frase “We are And Then She Came and you are fantásticos”. Yes we are.

Revolution Within foram os senhores que se seguiram. Senhores Thrash vitaminado (com T maiúsculo e tudo), com três álbuns editados e bastante experiência no departamento de distribuir fruta sonora. E fruta não faltou, do início ao fim, assim como o entusiasmo e energia por parte do público que recebeu de bom grado a que vinha de cima do palco. Malhões como “From Madness To Sanity” e “Revenge Now” foram bons motivos para bailarico e até uma wall of death que fez com que todos em cima do palco tivessem um sorriso na cara. Ainda houve oportunidade para a participação de Marco Fresco, o vocalista dos Tales For The Unspoken, que já anteriormente tinha falado da união da cena nacional, não só por parte do público como parte das próprias bandas. Um festival nacional que em nada fica atrás das propostas que nos chegam de fora.

Por falar em bandas thrash que nos chegam de fora, era a vez dos Gama Bomb subir ao palco. Poderíamos dizer que são thrash mas a banda da Irlanda do Norte vai muito mais além do que simplesmente thrash. Com um espírito crossover no seu som, com um feeling non-sense nas suas letras e com uma maneira de estar em cima do palco muito boa onda – graças em grande parte a Philly Byrne, o vocalista – esta actuação apanhou grande parte do público de surpresa e conquistou-o simultaneamente. “Slam Anthem”, “Three Witches”, “Hammer Slammer” e “OCP” foram alguns dos temas que provocaram bastante reboliço, mosh e circle pits entre o público. Philly provou ser um grande frontman, sabendo conquistar o público com muito bom humor, dando de ares de Freddie Mercury pela forma como interagia com a audiência. Por breves instantes parecia estarmos de volta a Wembley (havendo até tempo para a adulteração do refrão .clássico “Friends Will Be Friends”aquando o pedido para uma wall of death, afirmando que a ideia é diversão e não violência, e na realidade era uma wall of life que estavam a pedir). Uma autêntica festa e uma banda que urge voltar ao nosso país em nome próprio.
A última oportunidade para ver o alinhamento original (excepto Alex Staropoli, que não participou nesta digressão) duma das maiores responsáveis pela explosão da cena power metal italiana e parte extremamente importante da segunda vaga do género no final da década de noventa foi um dos grandes chamarizes para este primeiro dia. Os Rhapsody.  As expectativas para recuar no tempo e ver ao vivo um dos grandes momentos do power metal sinfónico eram elevadas. Como já dissemos atrás, o teclista Alex Staropoli foi o único que não quis integrar a digressão o que obrigou a que a banda actuasse com recurso ao uso de samples em larga escala. Este detalhe não passou disso mesmo, de um mero detalhe, numa actuação praticamente sem falhas, onde todos os pormenores instrumentais, principalmente das guitarras fizeram-se ouvir na perfeição.

Nota também muito positiva para Fabio Lione, o vocalista que actualmente está nos Angra e que por esse motivo revelou comunicar muito bem em português (com sotaque brasileiro, é certo, mas ainda assim, de forma bastante clara. Desde a intro “Epicus Furor” (que depois pede imediatamente a “The Emerald Sword”, que nos foi concedida) desde à final “Holy Thunderforce”, assistiu-se a um festim de power metal de alta qualidade. O alinhamento foi algo encurtado em relação àquele que a banda tem apresentado pela Europa e América do Sul, mas os clássicos como “Wisdom Of The Kings”, “Beyond The Gates Of Infinity” (raramente tocada ao vivo), “Land Of Imortals” e “Symphony Of The Enchanted Lands” não falharam. Talvez a “Lamento Eroico” pudesse ter sido trocada por outra mais uptempo. Acabou por quebrar um pouco o ímpeto na recta final da actuação embora tenha sido um veículo para uma excelente interpretação por parte de Fabio Lione, em tons mais operáticos e a conjugar-se bem com os coros de samples atrás de si. Majestoso.

Não interessa quantas vezes os Arch Enemy vêm ao nosso país, cada vez atraem mais multidões. No primeiro dia do Vagos Metal Fest tal não foi excepção. Alissa White-Gluz está perfeitamente integrada com dois álbuns já lançados, um terceiro a caminho (“Will To Power” com lançamento apontado para Setembro) e ainda um ao vivo, que é o motivo desta digressão que passou pelo festival de Vagos. O início deu-se com o primeiro single do já mencionado próximo álbum de originais, “The World Is Yours”, uma boa forma de começar as hostilidades e seguir por um alinhamento já algo previsível mas sempre satisfatório.

O primeiro ponto marcadamente menos positivo desta actuação é o facto da banda não ter permitido a transmissão do concerto pelos ecrãs gigantes. Não sabendo as motivações para esta decisão,  é algo que tem algum impacto a partir do momento em que se tem um recinto cheio e que nem todos os pontos do mesmo têm uma boa visualização. Para compensar a falta da parte visual, a parte auditiva esteve impecável, com um som nítido e com as guitarras ( principalmente as harmonias que são fulcrais do som. “Ravenous”, “War Eternal”, “Revolution Begins”, “Dead Eyes See No Future” e “We Will Rise” foram algumas das bombas lançadas pela banda. Uma boa actuação que só pecou pela falta de surpresas em relação ao que temos visto deles nos últimos anos.

Ainda no espectro do death metal melódico, uma das bandas mais queridas pelo público nacional (e por aquele presente em Vagos) e que também nunca tinha vindo ao nosso país: Wintersun. A banda lançou o seu terceiro álbum recentemente, “The Forest Seasons” e foi precisamente com ele que abriu a sua actuação. Embora envolto em polémica (toda a questão do crowdfunding), a banda não precisa de muito para calar os seus críticos. Basta tocar. E foi isso que fizeram. Tocaram muito em poucos temas. O primeiro tema (“Awaken From The Dark Slumber (Spring)”, retirado do já mencionado último álbum de originais, foi um épico monumental e recebido como um clássico. E pela maneira que soa ao vivo, é disso mesmo que se trata.

O som esteve muito bom, por vezes algo alto e com alguns pormenores a soarem demasiado estrindentes – algumas passagens vocais – mas mesmo assim nada que prejudicasse  o  feeling épico, sinfónico e até folk que temas como “Winter Madness”, “Beyond The Dark Sun” e “Sons Of Winter And Stars” mandam. Uma aposta ganha, num nome que já nos deveria ter visitado há mais tempo. Como diz a sabedoria popular, “mais vale tarde que nunca”. Um concerto monumental que poderia ter tido o dobro do tempo e das músicas que ninguém se importaria, apesar de ter começado às onze da noite.

Era uma da manhã e apesar de alguma parte do público ter saído com os Wintersun, os Therion ainda tiveram direito a uma boa multidão. A banda não tinha boas recordações de Portugal, já que a última vez que estiveram no nosso país foram alvo (eles e outras bandas, entre as quais, Crematory e Haggard) de um enorme rip-off por parte de um organizador que não lhes pagou para encabeçar o Lisbon Dark Fest que acabou por se realizar a meio gás já que a banda não quis deixar os fãs pendurados. Desde então já passaram quatro anos e a memória atenuou essa má imagem deixada. E depois da recepção que a banda teve, as melhores memórias certamente prevalecerão, ainda para mais com Christopher Johnsson (guitarrista, membro fundador e principal instigador da banda) a confessar que teve meio ano parado sem conseguir levantar o braço e a sentir-se bem em tocar todos aqueles riffs.

Mesmo com a banda sueca a não lançar material novo desde 2010 ( o último álbum foi de covers), não faltaram motivos para festejar. Iniciando de forma clássica com a “Rise Of Sodom And Gomorrah” e com algum atraso, tudo se esqueceu, apenas o momento presente importava. A banda foi passeando por alguns dos seus maiores êxitos, ficando grande parte da discografia de fora (da primeira metade da carreira já nem se fala, mas essa já foi colocada de parte há muito tempo), tivemos ainda assim grandes momentos como “Son Of The Sun”, “Lemuria”, “Wine Of Aluqah” e as inevitáveis “To Mega Therion” e “Cult Of Shadows”,  Como curiosidade fica a revelação que Johan Kullberg, o ex-baterista da banda saiu para ir para os Hammerfall que vamos ver no último dia do festival, A assegurar os concertos tem estado Fredrik Andersson, ex-baterista dos Amon Amarth. Um excelente concerto que soube a pouco. Som perfeito, a fazer uso de muitos samples, tal como Rhapsody, mas a ter um trio de vozes soberba que funcionavam quase como um coro.

Já de madrugada e algo após prevista, foi surpreendente ver a forma como ainda havia público suficiente para ver os Grunt, sendo cumprido o pedido de Marco Fresco, tal como citado atrás nesta reportagem, de apoiar as bandas nacionais. O som não é propriamente acessível e o cansaço era mais que muito mas mesmo assim ainda houve muita energia para circle pits e muito bailarico ao som de grindcore ou pornogrind com muitas influências death metal. Quer pela apresentação da banda que conta com membros de Holocausto Canibal e Dementia 13, quer pela bela moçoila que se desnudou, quer pela jarda sonora potente que debitavam e salvo algumas falhas com o som, feedbacks e problemas com máscaras, esta foi um ponto final mais que adequado para uma longa maratona, daquelas que dá gosto repetir e que ficam certamente na memória.

Reportagem por Fernando Ferreira

Fotos por Sónia Ferreira

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