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WOM Cartas de Vinil – A Selecção do Padeiro Jorge ou como comecei a ouvir Rock

Aqui vou eu em mais uma das minas viagens de comboio e nos meus headphones toca “Dazed and Confused” – Led Zeppelin, claro! A banda que consegue exercer em mim algo de superior, físico e espiritual, trespassar o meu ser e acalmar-menos momentos mais tensos, dar-me clareza quando tudo parece negro ou elevar-me a outra dimensão, quando apenas preciso de estar no meu canto. Mas não é sobre os Led Zeppelin que hoje vos escrevo – isso fica para outras cartas.

Ia eu aqui neste balanço de músicas e comboio, quando dei por mim a pensar sobre quando e como comecei a ouvir rock. Lembro-me da saída do álbum de Bruce Springsteen “Born in the U.S.A” e de estar sentada à janela da casa da amiga mais velha (morava numa cave), a ouvir a voz rouca do Boss. Lembro-me de a minha mãe me chamar para ouvir a música que estava a tocar na rádio – “Contentores” dos Xutos e Pontapés – e de ser ela a culpada, nesse preciso momento, de uma das paixões da minha vida. Lembro-me da primeira vez que ouvi Metallica: “For Whom The Bell Tolls” foi o baptismo. “Another Brick In The Wall” – Pink Floyd, “Patchouli” – Grupo de Baile, “Cavalos de Corida e “Rua do Carmo” – UHF, fazem parte das minhas memórias.

Mas a primeira memória de rock, aquela que é a mais recôndita, remonta aos meus 3/4anos de idade e a viagens num Mini 850, onde tocava… George Baker Selection.  Sim, foi com esta cassete, que o meu pai colocava no rádio do carro, que comecei a ouvir rock. Muitas mais cassetes havia no carro. Mas é desta que me lembro! De ouvir os dois lados e pedir pra tocar novamente. Naquele tempo, sem cinto de segurança ou cadeirinhas, sentada no meio do banco de trás, debruçada para a frente (apesar das constantes chamadas de atenção) aquela cassete foi “infiltrando” em mim o gosto pela música e pelos sons que na altura eram rebeldes e irreverentes.

Fui crescendo, e “Litlle Green Bag” ou “Baby Blue” nunca me saíram da memória. A cassete andava lá por casa dos pais, até que um dia, há mais ou menos dois anos, a resgatei das trevas e trouxe para a luz do meu Bunker… e ao colocá-la a tocar, todas as memórias renasceram e descobri que, mais de quarenta anos passados, sei as letras todas de cor e a ordem das músicas na cassete.
Actualmente, a cassete continua a tocar muitas vezes, e o vinil também, que encontrei numa feira, novo e selado!

Tenho a certeza que, se o meu pai soubesse o que aquela cassete iria provocar, numa adolescência barulhenta, nunca a tinha posto a tocar… ou se calhar tinha… Fica a dúvida… Mas fica também a certeza que tudo começou com a “Selecção do Padeiro Jorge”

Rosa Soares


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