WOM Cartas de Vinil – O Sonho de Ver Espiral
Por Rosa Soares
(Foto por Hugo M. Cruz)
No dia 9 de outubro vivi um dos momentos mais mágicos da minha vida, senão O momento. O sonho de ver os Espiral a tocar ao vivo, em Portugal, tornou-se realidade e a emoção tomou conta de todos nós. Pelo menos de mim tomou que, enquanto coleccionadora assumida de emoções, não tirei uma única foto, tendo fotografado todos os momentos com a lente da alma. Por isso, escrever uma reportagem sobre este evento, não me é possível, pois nunca seria imparcial nem seria ético escrever sobre algo em cuja organização estive envolvida e em que alguns momentos, fui uma das protagonistas através de surpresas e subidas ao palco nas actuações das duas bandas. Assim, contarei com toda a minha emoção, o que se passou neste dia e noite, que começou antes das 10h da manhã e só terminou bem perto das 4h da madrugada.
A verdade é que, quando em 2018 publicámos aqui, na World of Metal, a primeira entrevista dos Espiral a um meio de comunicação musical português, estava longe de pensar que este dia chegaria. Mas chegou e foi inesquecível.
Pelas 16 horas, o Meet & Greet na Bunker Store juntou fãs, curiosos e profissionais do meio musical num convívio bem animado e conversas diversas a dois idiomas. No final da tarde rumou-se ao Metalpoint para o soundcheck, que deixou antever a noite que nos esperava.
Com algum atraso, a noite começou com os Enchantya a encherem o Metalpoint de energia, numa actuação cheia de adrenalina. Rute Fevereiro, com a sua estrondosa voz, ora gutural, ora lírica interagia com o público e com os diversos elementos da banda fazendo com que o palco e a sala se fundissem num só.
Seguiram-se os donos da noite – os Espiral com uma setlist de 12 músicas, mais 3, caso houvesse encore… mas alguém duvidava disso? Eu não!
E é aqui que eu salto lá bem para a frente, de onde não saí até ao final a noite. Podiam desabar paredes e tectos atrás de mim, que naquele momento o palco era o meu mundo. Os Espiral sobem ao palco e enquanto colocam os instrumentos e ocupam os seus lugares, uma voz feminina sai pelas colunas e ouve-se pela sala. Creio que poucos perceberam, mas aquela voz era um excerto de uma entrevista minha, onde eu respondia à pergunta: o que são para ti os Espiral? Foi a primeira surpresa de uma noite repleta de emoções. Aos primeiros acordes de “Cuando Vuelve El Sol” percebeu-se logo que a banda de Ceuta estava ali para dominar a noite. O que se seguiu foi uma descarga de adrenalina, garra, paixão e emoção que contagiou todos os presentes.
Este concerto tinha, desde o início, uma carga emotiva muito grande e um significado muito especial: foi o primeiro fora de Ceuta (com a excepção de um em Granada há já alguns anos) e foi a abertura da primeira tournée da banda. Acontecer em Portugal, tinha para todos nós, muito significado. Ao longo de todo o concerto, o carinho dos Espiral e o agradecimento por estarem naquele palco foi visível. Para além de nos brindarem com um concerto absolutamente fantástico, ainda saudaram e agradeceram em português, sempre com uns sorrisos e um brilho nos olhares que não conseguiam esconder a felicidade que sentiam.
Um dos momentos mais emotivos, foi quando Rogelio Pitalua, pega no seu baixo Yamaha, com o qual já não tocava ao vivo há 30 anos e o toca, sem palheta, durante toda uma canção – uma versão de “Uno Más”, de Sheilan – cantada pelo guitarrista José Luis Corrales e Francis Heredia, presidente do Clube de Heavy Metal Ceutí, Septimo Infierno. E se ainda não me tinha recomposto da emoção, esta seria prolongada pela minha subida ao palco conduzida pelo vocalista, Alberto Mateos, para receber das mãos de Rogelio a oferta daquele baixo. A partir desse momento, passei a acreditar na imortalidade, pois se não morri de emoção ali, em cima daquele palco, não sei se morrerei algum dia.
Depois desta emotiva paragem, a banda volta a descarregar a sua energia em palco, provando-nos que os Espiral são merecedores de um lugar de destaque no meio musical espanhol e não só.
Tudo isto foi sempre acompanhado pelo grupo de fans, que de Ceuta se deslocaram ao nosso país para apoiar a sua banda conterrânea. Um gesto muito bonito e de enorme significado.
E se por cá se diz que “de Espanha nem bom vento nem bom casamento”, a verdade é que num dia de sol e pouco ventoso, sem casamentos à vista, de Espanha veio um furacão de boa música, energia, boa disposição e convívio como há muito não se vivia.
Esperamos pelo novo álbum dos Espiral, pois eles prometeram voltar!
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