WOM Entrevista – Alcoholocaust
Os Alcoholocaust são um bom exemplo de como temos cá dentro condições para igualar qualquer coisa que venha lá de fora. Infelizmente, e apesar de já estarem activos desde 2005 e com 3 demos já editadas, apenas agora em 2019 vimos o seu álbum de estreia a chegar aos escaparates, o “Necro Apocalipse Bestial”. Fomos falar com Possessus, guitarrista dos Alcoholocaust e preparamo-nos da melhor forma que pudemos para o dia do apocalipse. Thrash, cerveja, imundice e agressividade… Alcoholocaust. Por Daniel Pinheiro / Foto por Rita Moniz
Antes de mais os meus parabéns pelo petardo Thrash que é este “Necro Apocalipse Bestial”. Levou o seu tempo a estreia, mas chegou. O que impediu ter sido lançado antes? Foi algo forçado ou por opção vossa?
Obrigadinho, mas petardos é mesmo o departamento do Thrashminator e do Sordidus. Enquanto isso, vou ouvindo aqui o “Speedway” de Warhead, que tem para aí meia hora, que é o tempo ideal dum disco. Nunca fomos forçados, nem impedidos, a nada, e as merdas vão acontecendo quando as circuntâncias assim o proporcionam. Quando não estabeleces objectivos nem compromissos com ninguém, tudo acaba por ser um opção válida da tua parte.
Como decorreu os trabalhos de gravação? Sentiram a pressão de ser o vosso primeiro trabalho?
A gravação foi uma batalha interminável entre o nosso alcoolismo, falta de preparação e qualidade de execução versus querer gravar alguma coisa de jeito. A única pressão que se poderia sentir era a da máquina da cerveja do tasco mais próximo. O nosso único trabalho foi começar o conjunto, o resto é mais um dia no escritório em que levas roupa formal e bebes cerveja enquanto o Speed Bastardo canta Angel Witch aos berros.
O vosso som continua bastante próximo daquilo que nos apresentais desde 2006. Escapou-me algum elemento de evolução ou sois da opinião que há sons que se devem manter fiéis à génese?
Se os Motörhead durante 40 anos tocaram a mesma cena, para quê sequer pensar em evolução? Normalmente quem quer evoluir muito, faz uma cagada do caralho. É como ouvir cantigas de Hellhammer tocadas por Tripykon.
Que temática lírica serviu de base para este novo trabalho? Além do álcool, claro…
Como sempre as letras retratam, mesmo que de forma alegórica e metafórica, todas as nossas experiências vividas durante noites de alcoolismo desenfreado e sem sentido. São o reflexo da caminhada interminável para o fim dos tempos anunciado quando as legiões do Inferno tomarem conta do mundo em busca da cerveja perdida no turbilhão do tornado metálico.
Do alinhamento deste novo trabalho fazem parte uma série de músicas que foram incluídas nas Demos. São, na vossa opinião, músicas que mereciam estar presentes neste que é o vosso primeiro longa-duração de estreia?
Foram incluídas duas, a “Patrulha do Thrash” e a “Anti-Gótico”, do “Ensaio do Diabo” e do “Speed Degredo Metal”, respectivamente. Ao longo dos anos, e com as mudanças de membros, são cantigas que foram sendo alteradas e que, de alguma forma, representam o nosso percurso como conjunto extremamente eficaz e de execução exímia. É como gravares uma cover duma banda que curtes, mas nós gravamos de nós próprios.
No que às influências se refere: continuais a ter, hoje, as mesmas bandas que tinheis no início, como influência ou houve entretanto algumas influências que se infiltraram no vosso som?
A vantagem de um gajo ao longo dos anos ter um processo de recrutamento muito elaborado é que, mesmo tendo o Sordidus e o Thrashminator no conjunto que são 15 anos mais novos, eles curtem Kreator, Sodom ou Sabbat da mesmo forma que eu e o Blasphemator curtíamos há mais de 20 anos atrás quando nos conhecemos. E isso leva a acompanhares o underground da mesma forma, ouvires o mesmo tipo de som e curtires da mesma forma bandas mais recentes com Deathhammer, Condor, Inculter ou Wanderer como Accept, Exodus ou Dark Angel. Ou Exciter. Depois tens o Speed Bastardo que curte Razor e Exumer. Mas canta muito bem Running Wild.
Recordo-me de em 2006 vos enviar uma tape virgem e receber a Demo “Ensaio do Diabo”. Isso hoje sería visto como algo absurdo? Na vossa opinião a cena perdeu essência, têm esses tipos primordiais como algo que deixou de haver?
Nessa altura ¾ da banda vivía na mesma casa. Fizemos as capas e íamos gravando as k7s juntos. São vivências diferentes, contextos diferentes e, mesmo eu e o Blasphemator que somos os que ficamos desse tempo, já não temos a mesma disponibilidade e a paciência que tínhamos… Continuo a preferir trocar do que vender, manter tudo a um nível primordial mas nem sempre as circunstâncias o permitem. Das quase 200 cópias que tive nas mãos da “Speed Degredo Metal”, se vendi 1 ou 2 foi muito, o resto foi trocado nem que fosse por cerveja num concerto. Outros tempos. Rock n’roll!
Com este novo trabalho, pretendeis dar o belo do “chuto no traseiro” a todos aqueles que fazem Thrash bonito e limpinho?
Queremos lá saber! Cada vez mais nos concentramos naquilo que curtimos e o resto que se foda. É um desperdício de tempo tripar com o que nos circundam. A não ser que sejam góticos! Ou sóbrios! Ou “Thrashers”!
Alcoholocaust teve uma boa repercussão no underground nacional, pelo que pudemos recolher, como é a vossa perspectiva? Que balanço fazem agora com alguma distância do impacto do álbum?
Parafraseando um grande guru das frases feitas: “Não quero pertencer a um grupo que à partida me aceite como membro”. Como tal, o suposto impacto do álbum era a menor das nossas preocupações à partida. Entretanto, vamos ouvindo o “Ride with Death” de Speedwolf enquanto esperamos por vos encontrar no balcão mais próximo para beber umas cervejas! ROCK N’ROLL IS THE ONLY WAY!
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