Entrevistas

WOM Entrevista – Espiral

“Cuando Vuelve El Sol”, o quarto álbum da banda de Ceuta, será lançado nos próximos dias, fisicamente e nas principais plataformas digitais.  Como uma transmissão de testemunho, um ritual de passagem, os Espiral pegaram em temas de álbuns anteriores e deram-lhes um novo arranjo adaptado ao novo vocalista. Não há um corte com o passado, mas sim uma continuidade reajustada. O tema inédito, que dá nome ao álbum, faz a ponte entre o passado e o futuro. E aqui estamos, a falar com os Espiral, o que é sempre um enorme prazer, para sabermos o que andaram a fazer, desde 2018 e o que preparam para o futuro. por Rosa Soares e Fernando Ferreira

 

Desde a última vez que falámos, no final de 2018, muita coisa mudou nos Espiral. Vamos começar por Alberto que é o último elemento a integrar a banda (Janeiro 2018), após um período em que estiveram menos activos devido à ausência de vocalista. O que é que Alberto trouxe aos Espiral?

Rogelio – A banda estava estagnada e desmotivada para continuar. Espiral estava nostálgica pelo apego emocional que nos unia a Jorge e pelo desejo de nos podermos encontrar, novamente, na sala de ensaios. E foi isso, a sala de ensaios, o que realmente nos levou a considerar a hipótese de substituir a impossibilidade de Jorge, que por estar noutra cidade, não conseguia manter a conexão com a banda. Após a inversão económica no condicionamento da atividade musical, os Espiral queriam mais. E apareceu Alberto. Alberto trouxe faísca, motivação, entusiasmo … oxigénio para cada ensaio, que aos poucos foi gerando uma corrente positiva para novos projetos e novos concertos.

E a ti, Alberto, o que é que os Espiral te acrescentam? Como foi voltar aos palcos?

Alberto – No começo, não estava nos meus planos voltar à música. Pensei que, na minha idade, já tinha acabado o subir aos palcos ao nível de uma banda de rock, principalmente sendo vocalista, com todo o esforço físico que isso implica. No entanto, quando foi apresentada a possibilidade de dar voz às músicas dos Espiral e iniciar uma nova etapa musical, não hesitei em momento algum e aqui estou eu, aproveitando este projeto. Por outro lado, devo admitir que a atmosfera do grupo é excelente, familiar, os meus colegas fazem-me sentir muito bem, acolheram-me com uma atitude fraternal, aceitaram as minhas contribuições para o repertório e fazem com que disfrute tanto musicalmente quanto em nível humano e afetivo.

O registo vocal de Alberto é bastante diferente do de Jorge, o anterior vocalista. De que forma isso se reflecte no vosso som, quais foram as principais adaptações que tiveram de fazer?

Rogelio – A diferença vocal reflete-se, principalmente na modificação das composições. Alberto é um vocalista muito dinâmico. O som dos Espiral foi-se tornando um som mais áspero, mais crú, pelo que as partes instrumentais e acústicas foram modificadas de forma a alcançar temas mais directos, para a nossa proposta musical. De facto, os temas que adaptámos são os que apresentaram melhor desempenho com a nova contribuição vocal de Alberto

Rogelio, António e Luis, vocês são o núcleo dos Espiral, os seus membros fundadores. Como é que mantêm viva a paixão por fazer música e por tocá-la ao vivo?

António – Penso que a chave de não perder o ânimo está na boa relação que temos, na amizade que foi criada e em gostarmos do que fazemos, que nos preenche pessoalmente.

Luís – Eu acho que além da amizade que nos une, é o interesse pelo que fazemos, porque julgo que sem música a vida é triste e sem Espiral ainda mais triste … Eu acho que construímos um grupo muito divertido e humano, o que se reflete nos ensaios e no resto.

Rogelio – A paixão pela música é forjada com amizade e paixão; são os ingredientes básicos para manter o ânimo depois de tanto tempo juntos. E se acrescentares que somos divertidos e que sempre que estamos juntos nos divertimos…. Espiral não conhece chatices ou “más ondas”.

Três gerações numa banda, influências musicais que vão do rock mais clássico às sonoridades mais modernas, passando ainda pelo heavy rock mais melódico. Como é que isto tudo se compatibiliza? Como é o vosso processo de composição?

Rogelio – Nesta nova etapa as composições trabalham-se a partir de um riff ou melodias que se trabalham em casa e que começam a tomar forma na sala de ensaio, com a participação de todos, encarregando-se o vocalista da letra. É uma forma de compor muito colaborativa e participativa. O primeiro tema que compusemos tem influências clássicas e toques de metal mais moderno, fruto dessa diferença geracional.

“Cuando Vuelve El Sol”, é o vosso quarto álbum. Em vez de fazerem um álbum de originais, optaram por um trabalho misto, composto por um instrumental de abertura, um tema inédito, oito temas dos álbuns anteriores e uma versão de um tema da banda “Tharna” (“Una Noche Más”). Parece-me ser um álbum carregado de simbolismo… querem falar um pouco sobre ele, como foi construi-lo?

Rogelio – Foi bastante simples porque seleccionámos os temas dos três álbuns anteriores, nos quais a banda se apoiou ao vivo e as adaptações que tínhamos feito, e que agora mereciam ser gravados com a voz de Alberto. Foi uma nova abordagem da música dos Espiral, onde conseguimos entrar em contacto com o público, atraindo ar fresco para a banda na forma de motivação e ilusão. Gostamos de trabalhar com o simbolismo que muitas vezes permanece oculto para os fãs, mas já que falas disso, digo-te que o tema instrumental que abre o álbum, composto pelo produtor Francis Aliaga, é um agradecimento a ele por todo o seu trabalho. Queríamos que ele estivesse presente, abrindo o álbum. Simbólico é também poder resgatar a versão de Tharna, da melhor maneira possível, com Alberto na voz. É um êxtase musical! E para terminar, o simbolismo de Cuando Vuelve El Sol, significa um retorno às ilusões, um novo amanhecer, um novo ar soprado da alma de Espiral.

Como foi a escolha dos oito temas dos álbuns anteriores? Porquê estes e não outros?

Rogelio – O registo de Alberto tem um matiz claramente identificado com o heavy rock, e essa foi a primeira premissa em conta, na adaptação do repertório. Procurámos temas que soassem diretamente alinhados com a lufada de ar fresco que Alberto trouxe. Deixámos aqueles que, devido ao tom vocal, podem ser muito agressivos, lentos ou melancólicos. Se repararem, verificam que do álbum Cicatrices, apenas “Cuento de Hadas Podridas” foi resgatado, pois esse álbum apresenta composições de metal mais modernas com partes guturais.

Qual o tema dos Espiral preferido de cada um de vós?

Rogelio – Não há acordo… (Risos) Mas digo-te que “Matando Sentimientos”, “Contratiempos”, “Penúltima Estación” y “Cuento de Hadas Podridas” competem com “Cuando Vuelve el Sol”, por ser o mais recente e porque reflecte o momento actual da banda.

Em Março lançaram o Lyric Video “Alas del Silencio”. Como foi a reacção dos fans e do público em geral? Sentiram que atingiram novo público?

Rogelio – No geral foi muito bem acolhido. Partíamos com a vantagem de ser um tema emblemático da banda e acabámos por descubrir que foi emitido em rádios especializadas em música, de países onde não pensávamos poder chegar, como é o caso de Portugal, México e Inglaterra.

Sei que muito em breve lançarão um outro vídeo. Podem falar-nos sobre isso ou ainda é segredo absoluto?

Rogelio – Sim, no próximo mês de Junho, com o lançamento oficial do álbum Cuando Vuelve El Sol, será apresentado o nosso novo videoclip, do tema que dá nome ao álbum. Como nos anteriores, voltámos a ter Cristian Marfil como produtor e será um extraordinário vídeo para um grande tema, que esperamos que seja um impulso para chegarmos ao maior número de lugares possíveis.

Jose, apesar de estares nos Espiral desde 2015, esta foi a primeira vez em estúdio. Como é que foi a experiência?

Jose – A minha primeira experiência em estúdio foi algo inesquecível… entras com grande entusiasmo e, apesar de ser trabalho duro até ao fim, quando vês os resultados é muito gratificante termos conseguido tudo isto

Não resisto a fazer esta pergunta: existem fotos em que tu estás no público dos concertos dos Espiral. Como é que é estar agora do outro lado, fazer parte da banda de que também és fã?

Jose – Desde o início da formação da banda que somos amigos. Vês-me na plateia porque os ajudei a carregar os instrumentos (risos). A verdade é que sempre fiz parte dos Espiral apesar de não tocar com eles. Agora imagina, depois de tudo o que vivi, ser capaz de dividir o palco com os que, mais do que um grupo de música, são amigos… o que mais podia eu pedir…

É inevitável falarmos deste assunto: Espanha foi um dos países europeus que mais sofreu com a pandemia de COVID -19. De que forma isso vos afectou enquanto banda e como é que estão a retomar a actividade normal?

Rogelio – O dia 7 de março, foi nossa última actuação ao vivo na FESTEA e fomos de lá praticamente para o confinamento. Felizmente, todos os elementos da banda se encontram de perfeita saúde. Esse Estado de Emergência significou uma paragem obrigatória a meio da atividade promocional da banda, mas temos que continuar até onde pudermos. As previsões em Espanha não são muito positivas e o Presidente do Governo acaba de anunciar que o estado de Alarme continuará até 6 de Maio. A partir daí, e como a atividade normal dos cidadãos é retomada, podemos começar a retomar os ensaios e continuar com a procura de palcos para apresentar o nosso novo álbum.

Como consequência desta situação o concerto de apresentação do álbum, dia 20 de Junho, em Ceuta, foi adiado?  Sabemos que tinham várias bandas convidadas para o evento. Como está a ser a gestão deste adiamento e o que estão a planear até ao final do ano?

Rogelio – O concerto de apresentação do novo álbum agendado para 20 de junho não está oficialmente adiado, mas, dada a evolução do Covid-19, atividades públicas como eventos musicais não serão autorizadas para essa data, o que inevitavelmente significará o seu adiamento. Como alternativa e com previsão de futuro, pretendemos transferi-lo para o próximo mês de Setembro. Para a apresentação do álbum, tinhamos confirmadas três bandas convidadas, duas de Portugal – Gwydion e Enchantya, e outra de Ceuta – Inferno. Pretendemos tê-las para o mês de Setembro, levando em consideração as datas que possam ter fechado anteriormente, para tentar ajustá-los à nossa apresentação. Até ao final do ano, temos dois concertos agendados, Lisboa e Porto, para o mês de Outubro e pretendemos marcar datas em Granada, Sevilha e Cádiz para poder levar a nossa música e a nossa proposta além do nosso país.

N.E. – Entretanto a banda lançou o comunicado rectificando que a data em Ceuta com os Inferno, Enchantya e Gwydion seria adiada não apra Setembro e sim para 2021, ficando ainda por confirmar as datas em Lisboa e no Porto.

Falando de concertos, porquê a escolha de duas bandas portuguesas para o concerto de apresentação de “Cuando Vuelve El Sol”?

RogelioApós a boa experiência com a banda portuguesa Attick Demons, com quem tocámos em Ceuta em Dezembro de 2018, a Rosa Soares entrou em contato conosco para nos entrevistar para a revista World Of Metal. A partir daí surgiu uma grande amizade com ela e, quando terminámos de gravar o álbum, começámos a considerar as diferentes possibilidades de deixar Ceuta de forma autónoma, e uma delas incluía chegar a um acordo com outras bandas para uma troca de concertos cobrindo as despesas da banda convidada. Com essa intenção e conhecendo o grande nível musical das bandas portuguesas, contactámos a Rosa Soares, a quem explicámos a nossa intenção e rapidamente chegámos a um acordo com Gwydion e Enchantya.

Na conversa que tivemos em 2018, disseram que vir a Portugal, seria a realização de um sonho. Neste momento, com os dois concertos agendados no nosso país, para o mês de Outubro (um em Lisboa e outro no Porto), parece que o sonho se vai realizar…

Rogelio – É verdade que foi um sonho e, desde que temos estas duas datas agendadas, não paramos de sonhar com esse dia. Estamos cheios de ilusões com essa experiência de poder deixar a nossa cidade e o nosso país para um lugar onde somos tão bem tratados nas redes sociais e nos meios especializados, dando uma difusão à banda não alcançada em Espanha. Temos o privilégio de poder realizar esse sonho.

Com este álbum, vemos os Espiral a sair de Ceuta, a tocarem na rádio portuguesa, a serem notícia ou a darem entrevistas em sites portugueses, ingleses, mexicanos… será este o álbum da internacionalização?

RogelioPara nós já é (risos). Como dizes, aparecer no rádio, dar entrevistas e ser notícia em Portugal, México ou Inglaterra é muito mais do que esperávamos. Mas não estamos satisfeitos, queremos mais, queremos alcançar o mundo inteiro com Espiral.

Curiosamente, sendo uma banda espanhola, não são muito conhecidos em Espanha.  Mas com este álbum, vimos alguns sites da península, divulgarem o vosso vídeo ou as notícias sobre o seu lançamento. Na vossa opinião, a que se deve este desconhecimento, e o que mudou com este novo trabalho? Acham que se fossem de uma outra cidade, mais central, teriam mais oportunidades?

Rogelio – Somos praticamente desconhecidos, mas aos poucos Espiral está alcançando alguns lugares da península. A ajuda das redes sociais e os videoclipes são uma importante carta de apresentação e é por isso que optámos por um novo vídeo da banda. Não acho que seja ignorância, nós é que não alcançamos todos, falta-nos uma campanha promocional para a banda e para os seus álbuns, é preciso vender Espiral em todos os lugares e isso só se consegue com uma empresa, o que não é o nosso caso, mas gostaríamos!!!! A nossa localização geográfica influencia as oportunidades de darmos a conhecer a nossa banda. Partir de Ceuta, para começar, é muito mais caro do que para outra banda na península que só precisa de uma carrinha, toca e regressa. Nós temos que apanhar o Ferry, pernoitar, regressar…. E isso implica despesas extra que, ao nível da nossa banda, são suportadas por nós. Se a música já nos custa dinheiro, muito mais dispendioso fica sair para tocar…  praticamente pagamos para tocar! Portanto, as oportunidades em Ceuta são muito menores.

Nos álbuns anteriores, as letras foram escritas pelo Jorge. Agora, quem terá essa tarefa? Será este o momento para que outros elementos da banda se aventurem na composição lírica?

Rogelio – Como aconteceu na música Cuando Vuelve el Sol, será Alberto, quem preferencialmente assumirá as letras.  Ele tem uma capacidade lírica ao alcance de muito poucos. O que não será um impedimento para o resto da banda criar letras ou temas que serão adequados e adaptados pelo próprio Alberto.

Consta-me que já estão a compor temas novos e que em 2021 teremos novidades… é verdade?

RogelioSim, já estamos imersos na composição de novos temas. Estamos muito motivados com todas as novidades que nos chegam e muito animados com a apresentação do novo álbum. As ideias surgem e no doce momento em que a banda se encontra, tudo corre bem. Há que preparar o repertório para os concertos e aproveitar a oportunidade para compor e trabalhar em novas músicas.

Para terminar, qual o melhor momento da banda, até hoje? E o que gostariam que vos acontecesse, num futuro próximo?

Rogelio – Houve dois momentos muito importantes: a gravação do álbum Contratiempos, que foi uma óptima aposta, tanto para o investimento quanto para as ilusões que depositamos nele. Infelizmente, não conseguimos atender às expectativas. O outro momento é sem dúvida o actual. Estamos empolgados com este novo álbum e com o calor que recebemos além de nossa terra, e isso se deve em grande parte ao apoio de nossa querida amiga, a sexta Espiral, Rosa Soares, que leva a banda por onde quer que seja, pelo que agradecemos imensamente o seu esforço altruísta. Gostaríamos que a banda tivesse uma progressão ascendente e que pudéssemos tocar no maior número possível de cidades e ter o reconhecimento dos fãs de heavy rock.

Muito obrigado! Tenho a certeza de que, se não for antes, no início de 2021, voltaremos a falar.

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