WOM Entrevista – Patrulha do Purgatório
Uma das boas surpresas do panorama punk rock nacional foi sem dúvida o nascimento da Patrulha do Purgatório. Nascidos inicialmente de forma descontraída, cedo a solicitação para coisas mais certas falou mais alto e aqui estamos agora perante o terceiro álbum de originais, “Salvo-Conduto Para o Inferno”. Muitos assuntos para debater com Miguel Newton, voz inconfundível e lendária dos Patrulha do Purgatório. Por Fernando Ferreira
Olá Miguel e bem vindo ao nosso World Of Metal. A Patrulha do Purgatório está de volta mantendo uma regularidade editorial impressionante. Algo que esperavas quando começaram?
Bem haja boa gente do World Of Metal pelo interesse na Patrulha, prometemos que a vossa passagem pelo purgatório não será das mais penosas mas também não contem com um cruzeiro no barco do amor. A regularidade editorial foi algo que nos impusemos desde a gravação do primeiro álbum. Mas já estamos a procrastinar que o quarto registo já devia estar a ser batalhado. Vou ter que mandar um esquadrão punitivo ao Algarve para meter os magalas na ordem…
Voltando atrás, até 2017. Os Patrulha do Purgatório nascem com o intuito de promover os documentários “A Um Passo da Loucura – A Primeira Vaga” e “Enterrado na Loucura – A Segunda Vaga”. Quando é que se deu o clique de começar a trabalhar exclusivamente em originais e o que deu origem a essa decisão?
Vamos recuar mais um ‘bocadechinho’ que o primeiro concerto da Patrulha do Purgatório ocorreu em Dezembro de 2016 no Rock’O’Clock (agora X-Treme Bar) em Castelo Branco. O fazer versões para tocar ao vivo foi ideia louca para animar as apresentações do documentário mas desde logo nos apercebemos que funcionávamos bem como banda e houve logo no inicio das hostilidades dois ‘semi-originais’, o ‘Bicas e Bagaços (Caos no Sabugal)’ com música dos Faíscas mas letra da Patrulha e o ‘Lisboa a Arder’com letra dos Minas & Armadilhas e música da Patrulha. Findos os documentários não havia grande interesse em continuar a atacar em versões (actualmente só tocamos ao vivo as duas mencionadas e o ‘Bolinhas de Sabão’ dos Tilt. Não quer dizer que, caso assim nos de na veneta, não se venha a incluir mais uma ou outra ao repertório da Patrulha.
Como é que funciona o vosso processo de composição? Simplesmente tocar e as coisas aparecem?
Ensaiar é bastante complicado e oneroso. Estou a viver na Fatela, Fundão e o resto da Patrulha no Algarve. Ensaia-se quando calha, normalmente antes de concertos ou quando trabalhamos novo álbum. Eles ensaiam mais vezes eu menos. Mas funcionamos bem à distância. O Hugo Conim e o Toni Cagaita encarregam-se da composição das malhas, gravam para escuta. Eu escrevo logo 10 ou mais letras e vamos vendo como as coisas encaixam, mudando música ou letra de modo a ganhar o prémio de ‘Lego-musical’ do Purgatório…
Em termos de letras, fazes algum esforço para que haja uma diferenciação daquilo que fazes com Mata-Ratos, por exemplo?
Não tenho essa preocupação e o que tem saído parece-me diferente do que tem sido feito pelos infames. O imaginário da Patrulha está a léguas do de Mata-Ratos e as letras são muito inspiradas pelo convívio e ‘private jokes’ que existe nesta banda de ‘Simones’.
Como decorreram as gravações de “Salvo-Conduto Para o Inferno”? Voltaram a trabalhar da mesma forma que os anteriores?
O processo foi o mesmo mas desta vez algo mais demorado e as gravações decorreram em vários locais: Vale de Pega, Ilha do Farol e Rinchoa. Ficou a lição de que gravações de vozes movidas a medronho não são grande ideia…
Sabemos que já tocaram músicas novas ao vivo, como foi a recepção destes novos temas?
Bem, como a maioria do público não digeriu sequer ainda os dois primeiros álbuns não sei bem o que dizer. A Patrulha do Purgatório permanece segredo bem escondido. Provavelmente é melhor assim. Pode ser que pelo décimo quinto álbum alguém diga «Fod***-**, estes gajos são mesmo maus!»…
Sabemos que é ao vivo que algumas bandas acabam por sentir os temas crescerem e maturarem. Aconteceu alguma vez um tema que gostassem de gravar depois não resultar tão bem ao vivo?
Não tenho essa percepção. Sucede é que vamos fazendo a escolha dos temas a tocar pelo gosto que por eles temos. Mas o primeiro grande passo foi abandonar as versões em favor dos originais. Algumas não conseguimos de todo atirar para a compostagem porque nos afeiçoamos a elas. No Purgatório também há corações moles…
A Patrulha é bastante activa em cima dos palcos, podemos considerar que nada vai mudar nesse aspecto agora com o terceiro álbum? Quais são os próximos concertos que já têm agendados?
Nada vai mudar. O palco é um campo de batalha e há que lá deixar sangue, suor e couro sempre com muita alma. Vamos marcar presença, início de Abril, no Moita Metal Fest. Por enquanto é o que está na agenda mas certamente alguns outros promotores, quando não estiverem num dos seus melhores dias, cairão no erro de convidar a Patrulha para arruinar a festa.
Sendo composto por músicos que têm outros projectos, a gestão ou a conciliação de todos os compromissos é complicada?
Nem por isso. Pessoalmente, como pré-reformado, tenho todo o tempo do mundo e vontade de fazer coisas. Difícil é encontrar quem me acompanhe. Poucas sobreposições de datas tem ocorrido. E a Patrulha é malta com ‘ginástica’ infernal. Já toquei duas vezes no mesmo dia. Toquei à tarde no Mira Fest com a Patrulha e à noite com Mata-Ratos nas Caldas da Rainha. Mais recentemente, toquei no mesmo concerto – Fatela Sónica – com as duas bandas. Quem tem vontade, faz.
Sendo uma das figuras históricas da cena nacional punk, como é que comparas o período actual onde temos uma oferta maior com o período da década de oitenta, quando estava tudo a nascer?
Não sou figura histórica, sou um gajo como qualquer outro. É isso que o punk deve (ou deveria) ser. Sem pedestais, sem idolatrias. Infelizmente, como sabemos, o mundo não funciona assim e o punk é um reflexo distorcido do mundo ‘lá fora’, da ‘normalidade’. A comparação que posso fazer é essa mesma, hoje é possível fazer muito mais mas não necessariamente melhor. Basta ter vontade. Tudo ficou bastante mais acessível. Mais espaços, mais meios técnicos, etc. Por outro lado as pessoas estão mais acomodadas. Nos oitenta a haver Festa Tribal a maralha, mesmo sendo pouca, marcava toda presença. Quando começamos – Mata-Ratos – em 1982 se dessemos um concerto por ano já era uma festa. Actualmente e sem teres que ir atrás deles consegues dar de 20 a 30 concertos num ano. Mas hoje é tipo, se chove, se faz frio, se seja o que for, fica-se com os chinelos felpudinhos junto à lareira a teclar nas redes socias da vida.
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