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WOM Entrevista / Review – 800 Gondomar

Foto por Tiago Mogege

Os 800 Gondomar foram desde o início uma das mais peculiares bandas da cena rock portuguesa. Quando cessaram funções, houve um vazio que só poderia ser preenchido pelos próprios. E agora, com o regresso, esse vazio pode ser finalmente preenchido. Fomos falar com eles e aproveitámos e também analisámos o novo disco, “São Gunão”:

Olá pessoal e bem vindos ao nosso World Of Metal. Inevitável começar pelo fim. O que levou ao hiato?

Olá! Foi só e apenas a necessidade de fazer outras coisas da vida que não fossem música. Começámos muito novos. E também é importante saber subverter o presente, nunca entrando em zonas de conforto que se podem saturar. Foi decididamente a melhor coisa que poderíamos ter feito para os 800 e para as nossas vidas.

Quando é que decidiram voltar?

Nunca deixámos de estar frequentemente juntos ou de fazer música, separadamente, duma maneira ou de outra. O regresso foi algo que aconteceu de forma natural e quase até inesperada, e que culminou neste momento.

“São Gunão” é um título muito do Porto e também representativo do espírito desconcertante da vossa música e das vossas letras. Tinham alguma ideia concreta como seria este vosso regresso, musicalmente?

Não tínhamos ideias concretas e continuamos sem as ter. Ainda é cedo para que consigamos entender a nossa nova condição. Temos perfeita noção de que ninguém ficou à nossa espera, o que na verdade é um óptimo alívio!

Como sempre o vosso som é um caldeirão de influências diferentes. Há algum limite que imponham a vós próprios na hora de compor?

O disco foi composto e executado em tempo-recorde; não temos aqui músicas que fomos marinando durante estes anos. Para já, não trabalhamos com limites ou objectivos, acho que somos demasiado preguiçosos para isso. Naturalmente, sem pensar muito nisso, fez-se uma ponte entre o 800 garageiro de antigamente e umas roupagens mais à luz do que ouvimos nos últimos tempos. Talvez tenha havido uma preocupação em se ser mais incisivo na componente emocional; sempre foi um elemento preponderante das nossas cenas e se calhar é nesta objectividade que mais depressa se sente um despedir da adolescência.

Quais são as expectativas e objectivos para esta segunda era dos 800 Gondomar?

Da mesma forma que o regresso se materializou de forma inesperada, o futuro também terá de o ser. Há tanta coisa que ainda gostaríamos de fazer, mas não temos objetivos externos muito concretos. Se calhar é mais fácil depararmo-nos com a panóplia de desafios que ainda nos colocamos a nível pessoal, como músicos; e tantos novos que surgiram só nestes últimos meses! A nível externo, existe sempre uma puxada abstracta rumo à auto-suficiência na produção artística. De forma mais palpável, gostaríamos de descentralizar cada vez mais os nossos espectáculos: ainda nos faltam conhecer uns quatro distritos de Portugal.

Portugal não tem sido particularmente para a música alternativa ou até mesmo a cultura em geral. Aquilo que fazem e o prazer que retira disso fala sempre mais alto ou há momentos em que cansa de remar contra a maré?

Sempre foi pelo prazer e este ligeiro hedonismo provém de uma série de características identitárias, que são difíceis de balançar. Se queremos almoçar durante três horas, temos de aceitar que será geralmente complicado fecharem-se todos os pormenores de um concerto com semanas de antecedência. Todos nós, somos em parte vítimas do nosso próprio prazer.

Em termos de actividade ao vivo, o que podemos esperar dos 800 Gondomar?

Mais e melhores concertos! Guitarras sobressalentes e pratos que não estão rachados! Outro tipo de símbolos de pertença, portanto. Os nossos concertos continuarão a ser um espaço inclusivo, onde tudo pertence a toda a gente (banda, público, todos). A sério, estejam à vontade para se pôr e nos pôr à prova, seremos todos experimentais até morrer.

800 Gondomar – “São Gunão”

2024 – Self Released

Regresso dos 800 Gondomar depois de um regresso anunciado em 2023, que agora se materializa com este disco “São Gunão”. O regresso é aquilo que se desejava, com a faceta rebelde do rock de garagem a cruzar-se com o psicadelismo cru e com uma certa ingenuidade que até já nem se esperava por esta altura. E depois temos o carinho muito português com que começa e acaba o disco com “Rio Tinto” e “Sexta à Noite com o Monstro”. (8/10)


 

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