Report

WOM Report – Blame Zeus, Allgema, Ionized @ Hard Club, Porto – 04.11.23

“Alternativo” – quer rock, quer metal – é provavelmente o termo mais abragente do mundo da música e bandas com sonoridades distintas acabam por levar todas o mesmo carimbo. Talvez tenha sido este o critério para reunir Ionized, Allgema e Blame Zeus no mesmo cartaz, no passado dia 4, no Hard Club, mas o mais certo é ter sido a criatividade das suas composições e o modo com que a interpretam em palco, destacando estes três nomes dos demais, o denominador comum.

A vertente mais post-grunge dos Ionized foi a primeira a fazer-se ouvir, abrindo com “Lower”. Melodias que entram bem no ouvido, a carga progressiva no peso certo para esse efeito, Miguel Craveiro abordou o encerramento iminente do Centro Comercial Stop e como isso era um travão à cultura, aos músicos de hoje e de amanhã que ficavam sem um local para ensaiar (“Força, Stop!”) em jeito de apresentação de “Corporate Aggression”. De seguida, o vocalista informou que, ao contrário dos Allgema e dos Blame Zeus não tinham nenhum novo álbum para apresentar, mas tinham um tema novo, “Subterranean Cooperative Of Broken Dreams”, que irá fazer parte do sucessor de “Denary Breath”. “Answers” terminou um concerto que certamente trouxe novos fãs à banda de Santa Maria da Feira.

O videoclip de “Black Sheep” dos Allgema figura Edgar Alves sentado numa cadeira, a tentar libertar-se de uma camisa de forças, e embora o concerto tenha arrancado com “Bad Moon Rising”, foi esse o cenário com que nos deparámos. E quando o vocalista, finalmente, abriu os fechos. Abriu um simultâneo as proverbiais portas do inferno. Heavy rock intenso e cheio de vida que pôs a sala em alvoroço – em especial um grupo de jovens turistas franceses que tinha “caído ali de pára-quedas” e saltou, berrou… ir ao Hard Club foi claramente a decisão mais acertada desta sua estadia na Invicta. Depois do EP “Eyes Without Soul”, “Find The Way Out” é o primeiro longa-duração da banda lisboeta e este concerto de apresentação/promoção do mesmo foi prova das cartas que os Allgema têm para dar no nosso underground. Mais ou menos a meio do alinhamento, os ânimos suavizaram um pouco para o requinte da balada “Home”, com a participação especial de Sandra Oliveira, mas logo de seguida “Peter Pan” retomou todo o arrojo que caracteriza a postura da banda. Ricardo Fernandes dos Marvel dá uma mãozinha extra nas guitarras do tema-título e também ele subiu ao palco nesta noite, encerrando um concerto surpreendente.

“Laudanum” é já o quarto álbum de estúdio dos Blame Zeus e ao longo da sua bem-sucedida carreira têm coleccionado fãs dedicados, pelo que as primeiras filas estavam preenchidas por eles. E tendo o trabalho sido editado precisamente um mês antes, todos puderam acompanharam as letras, mesmo daquelas que estavam a ouvir ao vivo pela primeira vez. Um ambiente esplêndido, como a banda merece. Tocado na íntegra, pela mesma ordem de estúdio, a banda contou com as vozes de fundo de Maggie All para enaltecer a de Sandra – não que fosse necessário, mas deu um outro toque de primor. Depois de “Resuscitate” – e da apresentação de cada membro ao público – foi hora de visitar alguns dos pontos altos até então e apreciar temas que já se tornaram obrigatórios como “The Apprentice” ou “Accept”. E “Burning Fields”, que tem inclusivamente uma versão remasterizada em “Laudanum”, restabeleceu ter estofo de grand finale.

Texto e fotos por Renata Lino
Agradecimentos Blame Zeus


 

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