WOM Report – Caligula’s Horse, Circles, I Built The Sky @ RCA Club, Lisboa – 15.10.18
Hoje vamos falar-vos da magia dos concertos ninja. Mediante a tonelada de concertos que acontecem todas as semanas (muitas vezes, todos os dias!), é natural que alguns escapem, por muita vontade que tenhamos (e temos!) de vos trazer tudo neste vasto mundo do metal, a nossa equipa continua reduzida e o número de braços e pernas continua também, infelizmente, o mesmo. E por isso motivo quase que nos passou despercebido esta grande noite de metal progressivo – quase a nós e também a muito boa gente pelo que sabemos. Uma noite que juntava no mesmo palco, três grandes bandas australianas, todas diferentes mas todas com uma qualidade estupidamente alta, sendo que o foco vai para os Caligula’s Horse, que lançaram no ano passado o excelente “In Contact”, uma das nossas escolhas para os vinte melhores trabalhos de metal progressivo.
A noite começaria com os I Built The Sky, a banda do mago australiano Rohan Stevenson, que além de talentoso, tem uma secção rítmica de apoio absurdamente boa com o baixista Sam Tan e o baterista Rob Brens. Com um feeling muito bom nas melodias, e dinâmicas impressionantes indo do zero aos cem em segundos, o facto de ser instrumental não foi motivo para aborrecimentos, não deixando de puxar pelo público numa actuação que começou com alta intensidade com “Stratiformis” e que marcou o nível que teríamos durante o resto do alinhamento. Tanto Sam como o próprio Rohan não pararam quietos – este último até dando uma aparatosa queda para trás que nem assim o impediu de debitar notas na sua guitarra. Para nós que somos fãs de música instrumental, foi um grande concerto, no entanto, temos a certeza que qualquer apreciador do som de guitarra acompanhados a bateria e baixo ficariam igualmente impressionados.
Os senhores que se seguiram foram-nos apresentados recentemente – e que nos passámos a vez a todos os nossos leitores na nossa mais recente edição, onde analisámos o seu mais recente trabalho “The Last One”. A impressão positiva com que os Circles nos deixaram em disco foi reforçada pelo que pudemos ver ao vivo, onde a banda conseguiu conjugar as paisagens mais atmosféricas e clássicas do metal e rock progressivo com as tendências modernas onde a aproximação ao djent e metalcore difere completamente da banda que os antecedeu mas ainda assim consegue ser efectiva numa sala já bem composta e com bastantes fãs da banda. De “Breaker” a “Arrival”, ambos do já citado último álbum de originais que foi o grande foco do alinhamento, a actuação foi bastante sólida.
Chegava a vez dos senhores da noite, Caligula’s Horse. E que concerto. Tal como os Circles, os cabeças-de-cartaz apoiaram-se no seu último álbum de originais, “In Contact”, conseguindo encaixar no seu alinhamento sete temas do mesmo. E se o número parecer excessivo, só temos a dizer que a actuação fluiu de forma muito orgânica e sempre muito bem recebido pelo público que demonstrou estar perfeitamente encaixado na frequência da banda. “Dream The Dead”, o épico, abriu da melhor forma e demonstrou logo que esta banda ao vivo é uma visão digna de se ter. Não se trata apenas da exuberância técnica, nem da forma como tudo soa perfeito, mas sobretudo como a componente musical aliada ao sentimento transmitido pelas letras e sobretudo pelas emoções colocadas nas interpretações que fazem com que se fique desarmado. Outra da arma infalível da banda é a sua extrema simpatia, sendo que o seu porta-voz, o frontman Jim Grey, sabe como comunicar aos corações daqueles que estão à sua frente.
Grey indicou que esta digressão europeia era a primeira que a banda fazia como cabeça de cartaz assim como era a primeira vez que visitavam Lisboa, não sabendo muito bem o que encontrar. Era visível nas expressões dos músicos que a reacção do público superou as suas expectativas. A interacção foi fantástica em todo o espectáculo onde houve espaço para que o público escolhesse o tema que queria ouvir (entre “Rust” e “Turntail”, sendo que foi o primeiro escolhido) e até a que cantasse na “Songs For No One”, em que o tinha o papel de cantar “We Are All”, depois de devidamente ensaiado. Momentos de beleza memorável onde “Graves” – um grande épico de mais de dez minutos – foi um dos pontos altos assim como os dois últimos temas já em regime de encore, “Inertia and the Weapon of the Wall” – uma arrepiante peça de spoken word que serve de introdução para a “The Cannon’s Mouth”, que colocou um ponto final adequado a uma grande noite de metal progressivo.
Segundo Jim Grey, o mais importante de andar em digressão pelo mundo é dar a conhecer a sua música e espalhar uma mensagem de amor e aceitação e que é esse mesmo amor que é a nossa verdadeiramente a riqueza, algo que vem muito da forma como se sente a música e que vai ao encontro daquilo que temos por base aqui na World Of Metal e tudo isso foi o maior tesouro que foi entregue a todos os que estiveram presentes numa noite mágica, daquelas que raramente acontecem.
Texto por Fernando Ferreira
Fotos por Sónia Ferreira
Agradecimentos Daniel Makosh e Clap Box
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