WOM Report – Carach Angren, Wolfheart, Thy Antichrist, Nevalra @ RCA Club, Lisboa – 15.06.19
A noite adivinhava-se escura e quente, apesar da frieza do metal negro que viria descer ao RCA Club, após a missa a norte no dia anterior. Os Carach Angren gozam de uma popularidade crescente no nosso país – nem precisamos de lembrar as passagens pelo nosso país recentemente com Rotting Christ e no Vagos Metal Fest do ano país – e desta, com honras de cabeças de cartaz e com uma companhia que era de luxo, com os enormes Wolfheart e com os surpreendentes Thy Antichrist e Nevalra que conquistaram em Lisboa muitos novos fãs. World Of Metal incluída.
A noite começou com os Nevalra, um power trio dos infernos (ou dos E.U.A.) que até pode ter encontrado uma sala a meio gás em termos de assistência mas que contrariamente ao que é comum, a frente do palco estava preenchida por fãs que queriam marcar o lugar para o resto da noite. Estes não se demonstraram desiludidos com o black/death metal melódico e de extrema qualidade. Aliás, o termo correcto será mesmo “surpreendidos” já que a qualidade e dinâmicas musicais foram de qualidade extrema. A banda acabou de editar o seu álbum de estreia, “Conjure The Storm” que foi o centro da actuação, e ao longo de meia hora evidenciou destreza técnica com alma (porque não basta conhecer escalas e dominar padrões rítmicos, é preciso torná-las vivas e orgânicas e nisso Scott Eames (vocalista e guitarrista e também irmão do infame Jered Eames dos Threatin), brilhou de forma particular, embora tanto a bateria como o baixo estavam coesas. O público ficou rendido e o concerto terminou com “Prophet For Prophit” que também providenciou o primeiro mosh da noite.
A mudança de palco foi rápida – vantagem de a bateria (imponente) ser praticamente a mesma para todas as bandas da noite e do já mencionado Scott Eames dos Nevalra ser guitarrista ao vivo dos Thy Antichrist, a banda que se seguia. Donos de uma sonoridade mais pura dentro do black metal, a banda de origem colombiana e sediada actualmente nos E.U.A. também não era estranha à componente teatral. Com uma intro onde se podia ouvir um sample do filme “Hellraiser”, e com uma entrada imponente Antichrist 666, o vocalista da banda demonstrou ser um enorme frontman, não só em termos de tamanho como pela capacidade de estabelecer uma conexão com o público. E sim, ainda estamos a falar de black metal. Teatralidade, tremolo riffs para a frente e uma atmosfera muito bem conseguida com o som na perfeição a ajudar, havendo apenas alguma dificuldade (pelo menos da nossa parte do sítio onde nos encontrávamos) em ouvir por vezes a voz, com algumas notórias flutuações. Nada que prejudicasse no entanto o espectáculo, onde até nem faltou sangue (falso, obviamente) a jorrar da boca de Antichrist 666.
Os Wolfheart são um caso curioso (e sério) de sucesso. A banda finlandesa que nasceu como uma one-man band por parte de Tuomas Saukkonen que acabou com todos os projectos e bandas que tinha (uma delas os Before The Dawn) e resolveu criar esta nova entidade que cresceu exponencialmente devido à qualidade ímpar dos seus primeiros trabalhos e acabou por se tornar numa banda a sério a partir do segundo álbum, “Shadow World”. Desde então a aclamação tem sido enorme à qual “Constellation Of The Black Light” não foi excepção. Foi precisamente com o primeiro desse trabalho que o concerto começou, o épico de dez minutos “Everlasting Fall”.
A comunicação com o público, curiosamente foi estabelecida pelo baixista Lauri Silvonen, com Saukkonen ter-se dirigido uma vez ao público, com um “thank you” no final do espectáculo. A estranheza não prejudicou o espectáculo já que Silvonen demonstrou estar bem à altura da tarefa, principalmente quando perguntou ao público se sabia o que era um moshpit e perante a resposta geral afirmativa, perguntou porque é que ainda não tinham visto nenhum. Claro que a reacção foi o caos que músicas como “Veri”exigiam. Foi esta ligação e o vívido entusiasmo do público no RCA, agora já com uma sal bem preenchida, que levou Silvonen a afirmar que este tinha sido o melhor público que encontraram em toda a digressão. Sabendo que é o tipo de afirmação que é potencialmente dita todas as noites, perante o frenesim autêntico entre os fãs que estavam ali para os ver, não soa descabida nem forçada a afirmação.
A preparação de palco para os Carach Angren foi um pouco mais morosa, sempre com um som tenebrosoe misterioso sempre presente, como que a criar a atmosfera para aquela que seria a razão principal para estarem todos presentes. Conforme os membros da banda começaram a entrar em palco, o público começou logo a entrar ao rubro, um estado do qual não iriam descer pelo menos até ao final do concerto da banda holandesa. “The Sighting Is A Portent Of Doom” foi a o início que colocou logo todos em sentido. A componente teatral é tudo mas não basta ter adereços e boas ideias, é preciso também ter quem as lhe dê vida e não deixa de ser impressionante a performance de Seregor, principalmente a forma como consegue cativar (hipnotizar?) e trazer à vida todos aqueles contos macabros e sobrenaturais que músicas como “In De Naam Van De Duivel” (a provocar um headbanging bruto pelo público) que têm um impacto totalmente diferente do que aquele se estivéssemos no conforto do nosso lar, por muita imaginação vívida que se tenha.
O facto da banda ser cabeça de cartaz permitiu que tivesse mais tempo disponível e pudesse explorar a sua discografia completa embora, curiosamente, o anterior trabalho “This Is No Fairytale” não tenha sido focado. Falar de pontos altos neste concerto é algo complicado, já que esta é uma máquina muito bem oleada (de belo efeito a paragem para um “Ugh” por parte do baterista na “The Carriage Wheel Murder”) e que funciona como se uma peça de teatro que actua todas as noites – e nesse aspecto, é sempre belo o efeito da brutalização do manequim na “Blood Queen”, a máscara de caveira extremamente realista na “Pitch Black Box” e o cortar de língua na “A Strange Presence Near The Woods” com o pedaço da mesma a ser colocado na boca de uma fã relutante da primeira fila.
Houve direito a um encore na figura de “Bloodstains On The Captain’s Log” que acabou um concerto que encheu a barriga de todos os presentes mas que mesmo assim ainda estavam dispostos para mais. São concertos assim que nos fazem aperceber que por vezes o que chama ter grandes produções e de um espectáculo teatral no que ao metal diz respeito não tem de passar forçosamente por gastar metade do orçamento de estado em efeitos cénicos. Basta ter imaginação e capacidade de dar espectáculo. A música depois preenche todos os espaços em branco e quando falamos de Carach Angren, os espaços em branco até transbordam. Até ficarem negros.
Texto por Fernando Ferreira
Fotos por Sónia Ferreira
Agradecimentos Moita Metal Fest
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