Report

WOM Report – Casaínhos Fest 2019 @ Campo de Futebol dos S.C. Casaínhos, Fanhões – 31.08.19

O nosso regresso a Casaínhos é já um regresso a casa. Para nós e para todos aqueles que ano após ano não dispensam a festa de música pesada que é feita sempre num ambiente familiar, algo sentido pelas próprias bandas. No entanto, apesar disso, temos sempre a noção de que ano após ano há melhorias e tentativa de tornar a festa ainda melhor. Foi essa a nossa expectativa também para esta edição de 2019 e as mesmas foram cumpridas, conforme vão poder ler no nosso relato.

Começou a hora (impecavelmente) certa com os Crab Monsters que subiram ao palco perante um público ainda escasso – sempre uma posição ingrata principalmente neste tipo de maratonas musicais onde muitos preferem comparecer mais tarde. Ainda assim, não se notou em nada na banda de Castelo Branco algum tipo de contenção ou falta de entrega. Pelo contrário, deram tudo. desde “Violent World” com que abriram o alinhamento até à já indispensável “We Love What We Kill”. Punk / hardcore cheio de raça e sobretudo com uma forte mensagem a passar que é passada da melhor forma possível. Uma abertura em grande.

A cadência inicial do Casaínhos Fest é sempre uma das nossas favoritas, onde as bandas dão tudo e conseguem entusiasmar (sempre com o sucesso) o público que vai chegando ao recinto. E no caso dos H.P.S. (Hard Punk Spirit), isso foi feito com muito bom (e desconcertante) humor. Para quem não sabia ao que vinha, Vitor Libânio, frontman da banda, avisou logo que isto eram músicas que não lembram ao diabo. O início com “Zombie Catita” foi um aperitivo e as letras peculiares realmente cumpriam o anunciado, principalmente “Muito Ou Pouco” (que relata a odisseia de um homem preso numa lata de atum), “Hoje Perdi os Sapatos” (um outro sentido para as siglas que identificam a banda” ou “Inciclone” (onde Vítor aproveitou para apresentar todos os membros da banda como seus sobrinhos). Fantástica banda, grande concerto.

Tal como é habitual no festival, existe sempre a participação de uma banda de São João da Madeira que ganhou o concurso de bandas que dá acesso a poder actuar no festival. Este ano foram os Maxila, uma banda competente mas que cujo som não é talvez o mais propício para um festival. No entanto, a entrega da banda foi total e o peso que brotou das colunas do palco inegável e, sobretudo, esmagador. O som contemplativo do seu sludge/doom metal poderá não ter um grande impacto sobre o público mas não temos qualquer dúvida que está aqui um grande power trio o qual queremos ver num outro ambiente, mais intimista. Excelente surpresa apesar de tudo.

De volta às sonoridades mais hardcore, os The Year estrearam-se no Casaínhos Fest com uma grande actuação, onde se evidenciou o músculo e as tendências mais modernas do estilo. Começaram logo por chamar as pessoas para a frente do palco mas estamos desconfiados que mesmo sem o apelo, a forma como empolgaram através da sua música, esse seria o desfecho inevitável. A banda tem andado bastante rodada pelos palcos nacionais e isso sente-se na forma como desempenharam o seu papel onde o centro foi o EP “Beasts” editado o ano passado pela Hell Xis. Som poderoso e na definição certa fez com a sua actuação fosse um dos pontos altos.

Já nem dizemos nada em relação aos HoChiMinh, ou melhor, não dizemos nada de novo que já não seja bem público – são sempre um nome consensual na boa disposição, na forma como se conectam com o seu público e na energia com que deitam cá para fora a sua música. A banda de Beja tocou para um público considerável neste que seria o último concerto do seu baterista, Pina, o que fez a ocasião ainda mais especial. Também não faltaram agradecimentos para o sucesso do crowdfunding lançado para financiar o novo álbum e, claro, a excelente boa música regada à boa disposição habitual de João Ramos que não deixou de aproveitar a ocasião para crowdsurfing..

Os W.A.K.O. pegaram no fogo ateado pelos The Year e HoChiMinh e propagaram-no de forma apocalíptica resistindo a tudo, até mesmo o vento gélido que se começava a instalar.. A banda de Almeirim é um caso de estudo para todos os que estão interessados em conhecer a difícil arte de pegar num público e conquistá-lo enquanto o mete em movimento. E nesse aspecto Nuno Rodrigues é um frontman monstruoso, não parando um segundo e não deixando que o público pare um segundo, indo inclusivamente para o meio dele, a incitar aos circle pits que foram constantes. Da mais velhinha “Abyss” até ao mais recente single “Perish”, os W.A.K.O. deram um concertozorro. Nada mais propício para o que se seguiria.

Aquecimento lusitano mais que apropriado para a autêntica máquina debulhadora dinamarquesa que subiu ao palco de seguida. Os Hatesphere já são velhos conhecidos do público português e têm a fama (e proveito) de dar concertos explosivos. Casaínhos Fest não foi excepção e a banda espalhou o seu charme de thrash/death metal moderno sempre com grandes dinâmicas características de temas como “Resurrect With Vengeance” e “Can Of Worms” (apelidada carinhosamente pela banda de “The Hot Dog Song” e que levou a que Esben, vocalista, pedisse mais pessoas no pit). No final ainda se teve direito à participação de Raça dos Revolution Within na “Sickness Within” e a uma wall of death. Memorável.

Memorável também foi o regresso dos Devil In Me a Casaínhos, principalmente por ter sido aqui que tinham posto um ponto final, que felizmente era apenas ponto e vírgula, na sua carreira. Apesar de algum atraso no início do concerto, o público não arredou pé, já que esta era uma das principais atracções do cartaz. As palavras de ordem de justiça e fraternidade são sempre algo que dão um sentido especial às músicas tocadas e que as tornam ainda mais poderosas. Poder que o público não foi indiferente e correspondeu com uma enorme energia, incansável, tal como a própria banda em cima do palco. Destaque para as incontornáveis “Soul Rebel” e “Knowledge Is Power” e também para o mais recente tema da banda, “Celebration”, perfeito para o dia em questão e esta actuação em específico.

Antes dos Tara Perdida subirem ao palco, subiram três representantes das organizações que permitiram (e permitem) a organização do evento – Tiago Fresco da Associação Casaínhos Project e a ainda um representante do Sporting Clube Casaínhos e da Câmara Municipal de Loures, três frentes unidas para a realização deste evento exemplo de como é possível levar a música pesada e fazer a festa mesmo nos sítios mais deslocados dos grandes centros – apesar da proximidade de Lisboa, Casaínhos fica localizado num meio rural – sendo recebido de braços abertos por todos.

Outro regresso bastante aguardado era sem dúvida o dos Tara Perdida, que aqui foram cabeças-de-cartaz com toda a justiça, posição totalmente justificada não só pelo seu historial e importância na música pesada nacional como pela forma como assumem uma enorme coragem de continuar em frente, mesmo após a perda de uma peça fundamental como João Ribas, que foi relembrado e homanageado nesta noite. Tiago Afonso dos Easy Way é uma fantástica escolha para pegar no microfone da banda e isso foi algo que se verificou de forma absolutamente neste concerto.

Com uma carreira discográfica bem rica, a banda passeou confortavelmente por pontos chave, não deixando de dar também o devido destaque ao mais recente “Reza” editado meses atrás. O público, esse, recebeu entusiasticamente toda e qualquer malha que lhe era atirada das quais destacamos “Lambe-Botas” (com direito a trecho da “Raining Blood” dos Slayer), a velhinha “Batata-Frita” (motivo para uma wall of death) e “À Quem Coma Sufocado”. E até se teve direito a um encore com uma sempre emocional “Lisboa” a ser cantada por Ruka, enquanto Tiago Afonso não estava em palco.  Ainda se ouviu “Nada Me Vai Parar”, “Desalinhado” e “Nasci Hoje” (com trecho de “Ace Of Spades” dos Motörhead incluído) e o público e banda saíram de coração à aborrotar.

No caso do público, houve muitos que não resistiram ao avançar da hora e do desconforto que o frio estava a causar pelo que o público que ficou para os Angelus Apatrida foi efectivamente reduzido. O que foi pena porque a banda espanhola são receita infalível para boa diversão metálica que foi o que entregaram ao longo de cerca de uma hora. “Cabaret The La Guillotine”, o último trabalho de originais, foi um dos destaques óbvios, mas a banda saltitou entre a sua discografia, sendo uma pequena colecção de hinos thrash metal impossível de resistir – circle pits e moshes foram uma constante e fizeram com que o fim de mais uma edição do Casaínhos ocorresse da melhor forma.

Sem os azares e problemas de som das edições anteriores, esta edição foi um verdadeiro sucesso, ainda que tenha tido, pareceu-nos, um menor público na assistência. No entanto, em todas as vertentes parece-nos que foi dado mais um passo em frente que solidifica – tal como foi referido na intervenção das entidades que ajudam a manter o festival vivo – o lugar Casaínhos Fest no panorama e itinerário da música pesada no nosso país onde se sente que se faz parte de uma verdadeira família que se vai revendo ano após ano. E posto isto, só nos resta dizer: até para o ano Casaínhos!

Texto Fernando Ferreira
Fotos Sónia Ferreira
Agradecimentos Casaínhos Fest


 

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