WOM Report – Ceve Laurus Nobilis Music Fest – Dia 3 @ Casa do Artista Amador, Louro – 20.07.25
O último dia do festival arrancou meia hora mais cedo, e depois de tanta adrenalina nos dias anteriores, era natural – ainda que injusto – que os Demidead tivessem um público mais escasso à sua espera. Thrash/death italiano, com letras focadas na morte e nos conflitos pessoais que levam ao suicídio, “War Against Ourselves” foi editado pelos próprios o ano passado e alguns dos temas que nos trouxeram incluiram “Rorschach Test”, “Revelation Within” e “Incaranation Of Death”. De notar que foi a única banda que vi, até hoje, conseguir uma wall of death com menos de uma dúzia de pessoas…

Os Abstracted Mind formaram-se na Argentina – e os primeiros singles são cantados em espanhol – mas depois dos fundadores Yami Ladner e Juli Hope mudarem-se para os Países Baixos, optaram por cantar em inglês. Ainda só lançaram singles avulso, “Eternals” e “Despair” os mais recentes, de um metal sinfónico com originalidade q.b.. Juli saiu de tom uma ou outra vez, mas a sua postura e simpatia fez o público não se importar muito com isso.

Desde o lançamento de “Momentum”, os Equaleft têm dado vários concertos pelo país, a promovê-lo. Tendo estado presente em vários deles, torna-se complicado não me repetir, principalmente quando são todos igualmente de uma qualidade soberana e, além da euforia que os fãs sentem e expressam, há ainda aquele orgulho por “isto” ser feito cá. “And It Will Thrive”, “Wavering” ou “Heartless Machine” dividem agora com “New False Horizons”, “Invigorate” e “We Defy” a energia que vem do palco – e que o público retribui.

O metal industrial dos Yokovich também está a dar as suas cartas. “Ubiquitous” saiu em Outubro, de onde destaco “Gone With The Frost”, pois resulta muito bem ao vivo não pelo seu “peso” ou “velocidade” mas pela sua carga emocioinal. “The Society Expectations” ou “Pure Illusions”, mais mexidas, puseram o públio a movimentar-se ao seu ritmo, e a dada altura o vocalista João Farinha saltou para o meio deles, em total cumplicidade: nem só de mosh vivem os festivais de metal.

Cristina Lopes e Hugo Soares, além de darem voz ao hino do Laurus Nobilis – que naquele último dia fez-se ouvir em todos os intervalos de bandas – dão também a uma das bandas do gótico progressivo nacional que mais marcou o nosso underground no início do milénio. Os Ethereal tinham acabado em 2008, sim, mas o amor pela música voltou a juntá-los em 2021. O ano passado lançaram “Downfall”, de onde trouxeram “Betrayal”, “Turmoil” e “The Allure Of Daryah”, mas não esqueceram os fãs que os apoiaram ao longo dos anos, presenteando-os com “The Darkest Room”.

Uma voz limpa alternada com uma gutural é um modelo clássico de melodic death metal, mas quando são duas mulheres acaba por ser refrescante. Não foram elas, no entanto, que gravaram o mais recente álbum “Oblivion’s Legacy” dos Ancient Settlers: Noelia e Nia juntaram-se à banda espanhola este ano, em substituição da venezuelana Argen Death, mas não vou fazer comparações; vou simplesmente dizer que, pelo que vi e ouvi, tanto os timbres como as atitudes das novas vocalistas contrastam e completam-se, dando todo um novo fulgor a temas como “Subversive”, “Coven Garden” ou “Modern Travellers”. E o público estava visivelmente entusiasmado.

Mas o entusiasmo maior chegou a seguir. Não é que os Dark Funeral tenham algo novo na bagagem, mas com a discografia de luxo dos seus mais de trinta anos de carreira, quem precisa de músicas novas para assistir a um grandioso concerto de black metal? Pelo menos foi a sensação que deu, perante a reacção a “Unchain My Soul” (logo a abrir), “Open The Gates”, “When I’m Gone” ou “Let The Devil In” (já no encore). Sempre com uma postura dramática, Heljarmadr mostrou aos mais cépticos o porquê de terem sido chamados para a posição de cabeças de cartaz.

Secret Rule foi uma agradável surpresa, com um hard rock cheio de vida. Angela Di Vincenzo tem uma voz firme, feminina sem ser operática, e a maneira como a emprega em “Just A Sacrifice”, “Echoes Of The Earth” e “Silent Pain” – os singles de promoção do seu já décimo álbum, chamado precisamente “X”, que vai sair em Outubro – cativou o Laurus logo desde a primeira nota. As melodias também são bastante ritmadas e os nossos ouvidos não conseguem ficar indiferentes àquelas malhas. Apesar dos seus mais de 20 anos, não me pareceu que a maioria do público estivesse familiarizado com estes italianos – eu não estava – mas este concerto certamente que fez muitos investigar a sua discografia.

Há quem considere os Quinteto Explosivo um conjunto de entertainers em vez de uma banda propriamente dita; outros, dizem que são uma banda de covers. Pessoalmente, creio que são uma mistura de ambos, composta por músicos geniais. As suas máscaras de Deadpool inspiraram dois festivaleiros a mascararem-se também, mas de Power Rangers, o que os Quinteto acharam imensa piada e, logo na segunda música (um dos poucos originais que tocam, “Tu Levas No Cú”), convidaram-nos para o palco, onde ficaram a dançar o resto da actuação. Se pensavam que estava combinado, não, não estava. Entre covers de Kalashnikov, Ena Pá 2000, Sepultura e Ratos de Porão, os Quinteto Explosivo tornaram o Laurus num arraial – com Ivo Conceição a envergar uma batina branca, numa sátira aos Éden. Se a celebração dos dez anos do Laurus Nobilis podia acabar de melhor maneira, não me ocorre nenhuma.
Texto e fotos por Renata Lino
Agradecimentos Ceve Laurus Nobilis Music Fest
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