WOM Report – Comendatio Music Fest Dia 2 @ Paço da Comenda, Tomar – 22.06.25

A dar início ao segundo dia do Comendatio tivemos os Above the Ocean, que foram umdos dois vencedores da Batalha das Bandas. O colectivo de Évora trouxe consigo uma sonoridade que junta elementos de metalcore e de nu metal. Frequentemente neste estilo um aspecto importante é o balanço entre agressividade e melodia, algo que os Above the Ocean conseguem fazer com grande sucesso. O principal destaque vai para as guitarras que no meio da intensidade musical vão sempre incluindo um riffs e detalhes melódicos. A preparar o álbum de estreia, o concerto foi uma boa oportunidade para ouvir temas ainda não editados como “Until My Dying Breath” ou “Saying Goodbye” bem como os dois singles já lançados “Therapy” e “Love Song (For the Broken)” com que terminaram a atuação. O vocalista José Saruga era uma presença dinâmica em palco, e, ao longo do concerto, foi puxando pelo público, para se aproximarem e interagirem com a banda, chegando de forma bem disposta a ameaçar cantar algo dos Anjos. O facto é o que público foi crescendo em número e mostrou-se bem vivo, culminando no último tema em que José Saruga desceu até junto das grades para cantar, e o riff cheio de groove de “Love Song (For the Broken)” colocou muita gente a mexer.

Depois de terem atuado na edição de 2022 os Phase Transition regressaram agora ao Comendatio, a representar o que de melhor se faz no metal progressivo em Portugal. A banda foi chamando o público para junto do palco com uma introdução orquestral épica que nos iria levar até “Your Guide”, talvez o tema mais directo que a banda tocou, com um riff forte e um refrão bastante melódico que fica na cabeça, logo seguido de “Shadows of Thought”. Algo a destacar na sonoridade da banda portuense, é o uso de violino tocado pela vocalista Sofia Beco, que não sendo caso único (Ne Obliviscaris vem à memória), dá um elemento diferente e muito interessante à música dos Phase Transition. É de resto muito bem usado, em particular em conjunto com a guitarra de Luís Dias. Os últimos temas do set seriam dedicados a apresentar o novo álbum lançado este ano, “In Search of Being” do qual foram tocadas “The Other Side”, “Veil of Illusions”, e para terminar com uma dose de headbang, a pesada “Becoming, (R)evolution”.

Ao longo da última década, o vocalista e guitarrista João Corceiro veio a trabalhar no material que ganhou a forma de “Black and Blue”, o álbum de estreia dos Lysergic, e que era agora apresentado no Comendatio. O Death Metal Melódico / Groove da banda está repleto de riffs poderosos e que tornam o headbang algo obrigatório. Entre a densidade e o peso debitado pela dupla de guitarras de João Corceiro e Pedro Ricardo e o excelente trabalho na bateria de Xinês (que até teve direito a solo), a banda conquistou completamente o público, que mostrou muito movimento, como a própria música pedia. “Natureborn” abriu as hostilidades onde temas como “Lysergic” ou “Biography” foram mostrando a qualidade deste primeiro trabalho, esta última a apresentar uma faceta diferente do restante material, uma música mais longa e exploratória. O riff cheio de groove de “Liquid Lust” trouxe de novo mais peso e velocidade ao concerto e com isto circle pit. Para o fim, “Of Rage and Power” foi um título bem adequado para encerrar um concerto que foi uma excelente surpresa.

O dia continuaria em grande intensidade com os espanhóis The Broken Horizon. A oferecer uma união entre Metalcore, Deathcore e Djent, este foi um concerto com o pé no acelerador e carregado de brutalidade, ocasionalmente “interrompida” por vocalizações limpas. Um momento interessante e também dos mais melódicos e “calmos” do set da banda de Pamplona, foi “Isiltzen Banaiz”, tema cantado em basco, uma cover dos Berri Txarrak, uma banda de rock também da região de Navarra. De resto por entre temas como “Falling Apart”, “Until Silence Speaks” ou “Before Becoming Lost” foi um destilar de violência sonora que trouxe muitos momentos de circle pit, moche e até uma wall of death. Antes do fim houve ainda oportunidade de ouvir o single mais recente da banda, “Nebular Echo”, um dos temas que mais ficou no ouvido. Energético e tecnicamente bem conseguido, este foi sem dúvida um momento animado.

Os noruegueses AVKRVST lançaram o álbum de estreia “The Approbation” em 2023 e rapidamente ganharam notoriedade como uma das mais interessantes bandas do metal progressivo atual. A forma mais fácil de descrever o som da banda é como contendo elementos de Opeth e Porcupine Tree, não deixando de vir a formar uma personalidade muito própria, algo confirmado pelo novo trabalho “Waving at the Sky” lançado poucos dias antes da atuação da banda no Comendatio. Foi precisamente com as primeiras três faixas do novo álbum que começaram o concerto. Depois do instrumental “Preceding”, veio o excelente single “The Trauma” com um riff inicial fortíssimo, e a melancólica “Families Are Forever”. Seguir-se-ia o regresso ao álbum de estreia com os temas “Isolation” e a autêntica viagem sonora que é “The Approbation”. Uma grande prestação da banda, exímia na execução dos temas, que puderam ser apreciados com toda a nuance graças à boa qualidade de som. Não sendo uma banda muito efusiva em palco, e não tendo chegado a ainda a uma dezena de concertos ao longo da carreira, os vários elementos mostraram-se relaxados e calorosos para o público com o vocalista Simon Bergseth a agradecer em português várias vezes ao longo do concerto. Foi uma grande estreia em Portugal dos AVKRVST, que apenas pecou por ser curta.

Depois de um momento para respirar com os AVKRVST, com os Humanity’s Last Breath chegámos ao concerto mais negro e musicalmente mais pesado de todo o festival. Com um estilo muito próprio que funde Deathcore com Djent, a banda sueca trouxe ao Comendatio uma enorme demonstração de brutalidade sonora. A começar com o instrumental “Väldet” que se uniu a “Abyssal Mouth”, foi impressionante o peso e a densidade do som que saía da guitarra de Tuomas Kurikka e do baixo de Buster Odeholm, ao que se juntou o gutural cavernoso e irrepreensível de Filip Danielsson. O vocalista, ia-se mantendo em palco encapuzado e com uma atitude propositadamente distante e indiferente, como um arauto vindo de outro plano da existência a entregar negras notícias. Sombrio, tenebroso e ao mesmo tempo com uma frieza mecânica, o ambiente que a banda conseguiu criar, era que estávamos a presenciar verdadeiramente a banda sonora para o fim da humanidade, e estava a ser estranhamente agradável. Pelo meio a humanidade que populava o Comendátio ia respondendo com um obrigatório headbang, e com muito circle pit.

A encabeçar o segundo dia do Comendatio, tínhamos os dinamarqueses VOLA, que são neste momento um dos maiores nomes do metal progressivo. Estatuto, para que muito contribuíram álbuns como “Witness” e “Friend of a Phantom”, este último lançado no ano passado. Foi precisamente nestes dois trabalhos que se focou o concerto, em que era palpável a antecipação do público que compunha bem o recinto. “We Will Not Disband”, foi “suavemente” dando início ao concerto, a que se seguiu uma sequência que é uma boa amostra do porquê os VOLA merecerem o destaque que têm com “Stone Leader Falling Down”, “Paper Wolf”, “Head Mounted Sideways”. O público rendido, e animado, ia dançando e cantando com a banda, que mostra estar em grande forma, e onde mais uma vez a boa qualidade do som permitia ouvir na perfeição os temas, desde os riffs mais pesados aos elementos electrónicos que populam a música do quarteto.

O primeiro momento a fugir dos dois álbuns mais recentes foi “Alien Shivers”, e mais tarde “Stray the Skies”, este último retirado o primeiro álbum “Inmazes” que celebra agora o décimo aniversário do lançamento. Depois voltar ao passado da banda, tempo para uma surpresa num dos temas novos, “Cannibal” que originalmente conta com a participação de Anders Fridén dos In Flames, contou no Comendatio com a ajuda de Filip Danielsson dos Humanity’s Last Breath, numa oportunidade única. Na música seguinte, outro momento especial quando o Asger Mygind deixou o público a cantar o refrão de “24 Light-Years”, a que este correspondeu da melhor forma. O vocalista foi sendo sempre muito comunicativo e simpático para com o público, que ajudou muito à festa e ao ambiente positivo que se vivia. Antes do fim, destaques para “Break My Lying Tongue” ou “Inside Your Fur” antes de um final apoteótico com “Straight Lines” que deixou o público a pedir por mais uma música. Ficaria na memória um grande concerto, e uma forma perfeita de terminar esta 5ª edição do Comendatio Music Fest.

No fim o balanço destes dois dias de música na aldeia do Paço da Comenda, não poderia ter sido mais positivo. Um cartaz variado, um fim de semana repleto de grandes concertos, onde passámos desde sonoridades mais agressivas como o Deathcore ou Metalcore, ao Industrial, Black Metal e Metal Progressivo. Tudo isto num ambiente acolhedor onde houve tanto espaço para o moshpit, quer para ver muita gente a assistir aos concertos em família, e a que dá vontade voltar ano após ano.
Texto por Filipe Ferreira
Fotos por Filipa Nunes
Agradecimentos Mónica Moreira & Comendatio Music Fest
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