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WOM Report Raging Planet Showcase – Desalmado, Besta, Surra @ Music Box, Lisboa – 13.10.18

As preocupações da noite de Sábado estavam centradas no furacão Leslie mas nada nos iria impedir de assistir a um outro furacão. Um luso-brasileiro que se dividia em três frentes que iriam fustigar, da melhor maneira o Musicbox. Apesar do mau tempo lá fora, depois de entrarmos neste clima, tudo o resto ficou aparte.

Os primeiros a subir ao palco foram os Surra, que iniciavam com aquele concerto a sua digressão europeia, uma digressão organizada pela própria banda e que os levaria ao Porto no dia seguinte, e posteriormente a Espanha, França, Alemanha e até Républica Checa. Sendo este o nosso primeiro contacto com a banda, podemos dizer que ficámos fãs. Donos de um sentido de humor único entre as músicas que falam de coisas muito sérias (e infelizmente, muito reais), este power-trio deitou abaixo o Musicbox com uma série de descargas thrash/crossover, onde não deixou de ser impressionante a sua entrega, com destaque para o baterista, que parecia um polvo a castigar a bateria. Não faltaram também as palavras de ordem anti-Bolsonaro, anti-fascismo e anti-tolerância que são urgentes ouvir, interiorizar e espalhar. Um grande concerto de uma banda recomendamos conhecer e apoiar.

De seguida viriam os nossos Besta, que já não precisam (há muito tempo) de introduções alongadas. Começaram com um “Boa noite, Musicbox! Bem vindos ao ritual da Besta!” Para quem não sabe o que é o ritual da Besta, passamos a descrever com poucas palavras: Caos, brutalidade, violência sónica e um frontman que é a personificação perfeita de um sacerdote excêntrico cuja missão é exorcisar toda a loucura do mundo – e há tanto trabalho a fazer nesse campo. Tivemos as micro-descargas de rajada que nem nos dão tempo para respirar, um ritmo frenético onde não faltaram também algumas mensagens políticas e referências não só a à situação no Brasil como também à tendência generalizada a nível mundial do apoio à extrema direita por parte de um povo ignorante vítima de propaganda e dos seus próprios medos. Musicalmente perfeitos, com um som triturador, esta é uma das bandas de topo no que ao grindcore diz respeito, um exemplo da perfeição daquilo que o género é e deve representar.

Era chegada a vez dos Desalmado, os cabeça-de-cartaz da noite que estão a terminar a digressão ibérica com os Besta, retribuindo assim a parceria encetada no outro lado do Atlântico (onde aliás os próprios Surra colaboraram na sua cidade natal, Santos). Apesar de ser a segunda actuação que víamos da banda em pouco tempo (aliás, tal como os próprios Besta, ambos presentes no primeiro dia do Festival Bardoada e Ajcoi), esta fez-lhes mais justiça, tendo mais tempo de antena e depois de um público já previamente aquecido para eles. Apesar deste concerto ser apoiado na edição em vinil do seu último trabalho de originais, “Save Us From Ourselves”, a banda brindou um Musicbox entusiasta com temas de toda a sua discografia, focando tanto a fase de temas cantados em em português como a mais recente, em Português. Tirando alguns problemas técnicos com a bateria durante um tema, o som esteve, aliás como em todas as bandas, perfeito.

Muito humildes, sempre também muito humorados mas nunca esquecendo a actual situação do Brasil que já tinha sido referida pelas bandas que os antecederam que deu o mote para vários temas como “Estado Escravo”, escrito quatro anos atrás e que a banda embora soubesse que seria algo provável de acontecer, nunca esperaria que acontecesse tão cedo. Na nota do bom humor destacamos o comentário feito aquando do agradecimento aos Besta e aos Surra, onde Caio Augusttus, vocalista referiu que a propósito da banda de Santos, que provavelmente estariam ambas bandas juntas na prisão em 2019 – esperemos que o Brasil não se depare com essa realidade, de ter o fascismo de Bolsanaro à frente dos destinos dos nossos irmãos. É o preço a pagar pela democracia e o fundamento para o propósito do tema-título do último álbum dos Desalmado que supostamente iria encerrar a sua actuação. Falamos obviamente de “Save Us From Ourselves”. Supostamente porque o público queria mais e de forma quase improvisada tocaram “Todos Vão Morrer” em regime de hardcore onde até contaram com um membro do público mais entusiasta que subiu ao palco para ajudar nos coros.

Uma noite de temporal exterior que não abalou o temporal interior, um temporal onde a música é arma de arremesso contra as injustiças sociais deste mundo, num retrato de sociedades e problemas que mesmo do outro lado do oceano, são dolorosamente reais – infelizmente os abusos de autoridade, corrupção e mutilação de liberdades são prática em todo o lado, mesmo que na maior parte das vezes as mesmas aconteçam pela calada na surdina de escândalos de futebol, celebridades e outros tipos de areia para os olhos semelhantes. Saímos reforçados para enfrentar a tempestade lá fora que tinha acalmado – parece que a música, mesmo furiosa, consegue acalmar a mais raivosa das bestas.

Texto por Fernando Ferreira
Fotos por Sónia Ferreira
Agradecimentos Daniel Makosh / Raging Planet Records


 

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