WOM Report – Discharge, Simbiose @ RCA Club, Lisboa – 01.03.19
As expectativas para este concerto eram consideráveis. Não por constituírem uma novidade mas exactamente por sabermos aquilo que se poderia esperar: castanhada da boa e da pura. Se os Simbiose já nos habituaram (bem) à sua violência sónica, os Discharge são um dos maiores nomes influentes da música pesada ainda no activo. Na memória está ainda presente a actuação da banda na primeira edição do Vagos Metal Fest mas nem a mesma seria necessária para encontrar motivações para comparecer no RCA Club, uma sala à medida da música que se ouviu, neste concerto que se inseriu no Vagos Club Shows.
A noite começou com os Simbiose e com uma sala que foi enchendo aos poucos. A receita da banda lisboeta dispensa apresentações e “Total Descontrolo” foi o início de um cardápio cheio de momentos fortes que percorreram toda a discografia de álbuns da banda. “Buried Alive”, “Modo Regressivo” (este tema a proporcionar o movimento mais acentuado entre o público que de forma geral, encontrava-se demasiado apático para a intensidade vivida em palco),”Ignorância Colectiva” e “Pointless Test” (com o primeiro vocalista Hugo “Mosgo” a subir ao palco para ajudar) foram cuspidos de forma impiedosa e banda gozava de um excelente som.
Pena foi realmente o público estar-se nitidamente a poupar para Discharge ou então ocupados a fazer outra coisa qualquer – tal como Jonhie afirmou, “o pessoal aqui da frente quer é selfies”. Não faltaram as homenagens também na inevitável “Será Que Há Vida Após A Morte” a Sérgio “Bifes” Curto, João Ribas (Tara Perdida e Censurados), Fernando Serpa (Kú De Judas) «e ainda um quarto nome que infelizmente não conseguimos perceber (N.E – O quarto nome foi o de Rui Rocker dos Crise Total). Os Simbiose estão cada vez mais coesa e mais uma vez assinalamos o papel de João Lavagantes numa das fases mais complicadas que qualquer banda pode viver.
Sinceramente ficámos preocupados. Afinal, os Discharge são uma das bandas mais lendárias do hardcore/crust. O seu som cunhou o termo “d-beat” (ou Discharge Beat) e são uma das grandes influências do thrash metal, logo aquilo que desejávamos era que o nosso público deixasse uma boa impressão. Após uma longa intro que parecia ter sido retirado de um velho programa de formação de como agir em caso de guerra nuclear dos tempos da Guerra Fria, a banda entrou em palco com “River Runs Red” e foi o apocalipse, uma coisa a nível bíblico, raramente presenciado. A sala já estava bem composta e a animação era diga de se ver, ainda mais até do que a banda a tocar em palco, que davam a banda sonora perfeita para aquela estranha forma de arte em forma de mosh vitaminado.
Como tem sido hábito nas últimas visitas ao nosso país, a banda passeou um pouco pela sua discografia (menos pelos álbuns mais descaracterizados daquilo que representa o nome Discharge) mas focou atenções, naturalmente, no último álbum “End Of Days”, já de 2016 e na mítica estreia e praticamente no trabalho de culto unânime que é “Hear Nothing, See Nothing, Say Nothing”. Confesso que a noção de tempo desapareceu logo no início da actuação. Como se tívessemos entrado numa espécie de triângulo das Bermudas onde o tempo e espaço e todas as leis da física que os regem tivessem deixado de existir. Assim sendo, malha atrás de malha (“Ain’t No Feeble Bastard”, “Hatebomb”, “The End”, assim como qualquer outra, não houve momentos fracos), a banda britânica deu uma verdadeira lição de como agarrar um público apenas com a música. Apesar de alguns problemas técnicos no início com o microfone de JJ Janiak, não houve qualquer barreira que se colocasse no seu caminho para que o resultado fosse como foi: perfeito para todos os que se deslocaram e encheram o RCA Club.
Sem direito a encore e sem sequer necessidade disso, esta foi uma daquelas noites que ficarão certamente na memória de todos os presentes. As lendas da música podem estar a ficar cada vez mais velhas e algumas até a desaparecer, mas as que ficam fazem justiça ao seu nome. E os Discharge ainda representam boa violência sonora à maneira antiga. Certas coisas não mudam e ainda bem por isso.
Texto por Fernando Ferreira
Fotos por Sónia Ferreira
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