WOM Report – Dream Theater @ MEO Arena, Lisboa – 16.11.24
Quarenta anos de Dream Theater. Motivo mais que suficiente para encher o MEO Arena, não fosse o facto desta digressão de celebração também marcasse o regresso de Mike Portnoy, baterista membro-fundador e também um dos primordiais pontos de ligação da banda com os fãs. Assim que as luzes se apagaram, o rugir do público de entusiasmo, provou que as expectativas estavam altíssimas. Expectativas que posso desde já adiantar não foram em nada defraudadas. O início deu-se com “Metropolis Pt 1: The Miracle And The Sleeper”, um clássico incontestável e uma forma de agarrar logo os fãs pelo factor nostalgia, factor esse que esteve quase omnipresente ao longo de todo o espectáculo, o que também é compreensível. Alguns comentários logo a assinalar, a produção de palco foi a maior que a banda apresentou no nosso país, com foco no uso de lasers e dos ecrãs gigantes estarem sempre com animações constantes relativas a cada um dos temas. Em termos sonoros, a voz de James Labrie estava um pouco alta – e com eco – o que nem sempre permitiu que fosse perceptível da melhor forma, no entanto, tratando-se da sala em questão, esta nossa percepção não será certamente geral, sendo que sabemos que o som varia muito do sítio onde se está posicionado naquela que é a maior sala de espectáculos do país.
Continuando na temática “Metropolis”, vieram as sequelas (ou seja, os primeiros temas do álbum “Metropolis Pt 2: Scenes From a Memory”) “Overture 1928” e “Strange Déjà Vú”. Foi curioso ver que após apenas três temas, a banda aproximou-se do público como se o concerto tivesse acabado – uma ovação por parte dos fãs que também justificou por inteiro isso mesmo. Labrie deu as boas vindas a Mike Portnoy, com o público a reagir novamente efusivamente perante a materialização de algo pelo qual ansiavam ao logo de mais de uma década – algo que julgariam não ser possível voltar a ver. Continuando pelos clássicos do passado, foi a vez da “Mirror” que tem um dos riffs mais pesados do início da carreira da banda. Apesar dessa música estar conectada com a “Lie” em disco, foi apenas no solo final da mesma que o tema foi representado. Ainda com o foco no peso, “Panic Attack” permitiu o headbang fluir livremente, sendo também um dos temas favoritos dos fãs, logo a começar pelo riff de baixo por parte de John Myung no início.
A primeira das poucas incursões pelo passado pós-Portnoy foi com “Barstool Warrior”, um tema recuperado de “A Distance Over Time” mas era nos clássicos onde a banda apostou mais, ainda que alguns deles surgissem de forma revitalizada, como a “Hollow Years”, um tema que teve uma intro prolongada por Jordan Ruddess e John Petrucci e com algumas alterações em relação à versão no álbum “Falling Into Infinity” – consta que apoiaram-se na versão demo de 1996. Uma balada que sempre tive a sensação de ser mais apreciada pela banda do que propriamente pela maioria dos fãs (muitos poderão discordar onviamente desta sensação) mas onde sempre Petrucci arrasa no solo emotivo. O regresso ao peso deu-se com uma das favoritas dos fãs, “As I Am”, mais uma a convidar ao headbang – e mais uma com um solo estrondoso por parte de Petrucci e com uma secção onde Portnoy também brilha particularmente. A forma ideal de acabar a primeira parte.
A segunda parte começaria (após um longo interregno) com uma intro orquestral em forma de medley onde ia passando por todos os álbuns da banda lançados até ao momento, passagens ilustradas pela animação nos ecrãs gigantes. Um avançar cronológico que iria desaguar noutro dos momentos mais aguardados, “Night Terror”, o primeiro single de avanço do novo álbum “Parasomnia”, com data apontada para o seu lançamento em Fevereiro de 2025 – e James Labrie referiu que depois do lançamento do álbum, iriam voltar novamente ao nosso país no próximo ano. Um tema que abre o apetite para o álbum e que mostra Dream Theater no seu melhor quando mete o pé no peso. “Under The Glass Moon” é um clássico indiscutível e que já não era tocado há alguns anos. Outra canção que não era tocado também há já algum tempo e o outro dos tempos de Mike Mangini, foi “This Is The Life”, que serviu para trazer mais alguma dinâmica ao concerto.
A segunda parte terminaria com uma sequência insuperável, onde a curta e emotiva “Vacant” abriu o caminho para a instrumental “Stream Of Consciousness” – bastante aplaudida pelo público – e à qual se seguiu o épico “Octavarium” que também foi recebida efusivamente por parte dos fãs. Devo confessar que nem sempre é eficaz esta escolha, mas neste contexto foi talvez das rendições mais bem conseguidas que vimos/ouvimos do mesmo. Mais de vinte minutos de excelência musical que colocaram o final à segunda parte e anteviram que o final da noite estava iminente. O que em termos dos Dream Theater queria dizer que ainda faltava mais cerca de meia hora de concerto.A pausa foi mais curta e para dar início ao encore, passou nos ecrãs gigantes um trecho do clássico filme “O Feiticeiro de Oz” de 1939, com a personagem Dorothy a repetir “there’s no place like home”, o que desaguou imediatamente na “Home” de “Metropolis Pt 2”, mais um tema incontornável da sua discografia e que o público recebeu de forma entusiasta.
Ainda dentro do álbum, veio talvez a música mais tocada pela banda desde então – “The Spirit Carries On”. Um momento que se tornou mágico pela forma como o público cantou e emocionou-se e também como o MEO Arena ficou iluminado com a luz dos telemóveis. Sempre um ponto alto que só seria superado pelo seu clássico maior e, segundo a própria banda, o seu primeiro e único êxito comercial, “Pull Me Under”. Uma música mágica que continua eficaz mesmo após mais de trinta anos do seu lançamento. Arrepiante como o público cantou aquele refrão de forma audível – ou como o refrão praticamente obriga qualquer um a cantar – e um final de concerto mais que digno para uma noite mágica. Os Dream Theater são uma das bandas essenciais do metal progressivo, uma banda que sempre demonstrou ser única e que apesar de alguns tropeços criativos pelo caminho, demonstraram que com quarenta anos de carreira às costas, continuam com energia e talento para ainda dar muito mais aos seus fãs, fãs esses que encheram de vida um MEO Arena que cumpre o seu potencial precisamente em noites como estas.
Texto por Fernando Ferreira
Fotos por Sónia Ferreira
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