Report

WOM Report – Fleshgod Apocalypse, W.E.B., Nest Of Plagues, Structural, Serenity In Murder @ Hard Club, Porto – 24.01.23

À terceira é de vez – depois de ter sido adiada duas vezes (pandemia, logística e afins), a tour europeia dos Fleshgod Apocalypse arrancou e chegou a Portugal, nos dias 24 e 25 de Janeiro (mais uma vez agradeço de coração à Notredame e ao Carlos Freitas por continuar a apostar em datas duplas). Além das datas, também o cartaz original sofreu alterações, e embora tenha tido imensa pena de que os Ex-Deo não tenham vindo, fiquei contente pela oportunidade de ver três bandas que desconhecia por completo e uma que há já bastante tempo tinha curiosidade em ver.

Há bandas de melodic death em que as raízes de New Wave of British Heavy Metal são mais notórias e os japoneses Serenity In Murder são uma delas. E em conjunto com a postura animada dos músicos por trás das cordas – especialmente o baixista Yu-ri -, se não fossem os guturais de Ayumu, quase que passariam por uma banda de power metal. Estão no activo desde 2009, contando já com quatro álbuns de longa-duração (e se os dois singles que saíram o ano passado, “Revolt” e “Infect Bellum”, servem de ponto de referência, um quinto deve estar a caminho), mas creio que esta é a primeira aventura ao vivo fora das fronteiras asiáticas; dizer que não estava muita gente quando subiram ao palco é um eufemismo, mas os poucos presentes fizeram-nos sentir bem-vindos, retribuinto a já referida animação na mesma moeda.

Como já é costume nos concertos que começam – para os padrões nacionais – demasiado cedo, a casa foi enchendo gradualmente e já estava bem mais compostinha para receber os israelitas Structural. Com menos tempo de carreira e uma discografia que se resume apenas a um álbum (“Metacognition”, editado em 2018), a garra com que desempenharam o seu death metal meio melódico, meio progressivo justificou em pleno terem tocado depois dos Serenity In Murder. Não era a sua primeira vez em Portugal, mas temas como “Apocalypse Has Begun” ou “The Ceremony (Cut To The Point)” foram claramente uma agradável estreia aos ouvidos de muitos (eu incluída). Tivemos ainda a oportunidade de ouvir uma música nova (ou relativamente recente), “Your Damnation”, que integrará o próximo álbum, e o fim chegou cedo demais com “Turn On The Lights”.

A primeira palavra que me ocorre quando falam em deathcore é “breakdowns”, pelo que a falta de abundância deles na música dos húngaros Nest Of Plagues é sinal por si só de que a sua sonoridade não é convencional. A promover o segundo álbum “To Kill A God”, editado o ano passado, o vocalista/baixista Dániel Ivanics expressou o prazer que era tocar no nosso país pela primeira vez, depois de tê-lo visitado como turista. Envergando uma camisa estampada com bananas, e depois de ter perguntado se era do nosso agrado, pediu para convivermos com eles no final do concerto na banca do merch, onde poderíamos comprar qualquer coisa para ajudá-los. Alguém perguntou se iam ter camisas de bananas, provocando o riso geral. Num tom mais sério, Dániel admitiu sofrer uma doença de foro mental e agradeceu aos membros da sua banda todo o apoio, acrescentando que se algum de nós estava a passar pelo mesmo, com metal e bons amigos tudo ficaria bem.

Um concerto cheio de vida em que, com excepção de “Auto-da-Fé”, do EP de estreia de 2016, o foco foi obviamente “To Kill A God”, e foi o tema-título deste que encerrou o alinhamento. Não sei se o baixo de Dániel sofreu algum problema ou se a saída do palco do artista a meio da música foi propositada, de modo a regressar mais livre e entregar-se ainda mais à performance, que incluiu o desapertar da camisa e cantar de joelhos. Uma postura de rock star, mas claramente genuína.

Embora não familiarizada com o seu trabalho, os gregos W.E.B. eram a única banda de suporte que eu conhecia – culpa de partilharem o mesmo nome, ainda que escrito de modo diferente (a sigla significa Where Everything Begun), com uma das minhas bandas nacionais preferidas. Oficialmente designados como “metal gótico extremo e sinfónico”, por vezes roçam as fronteiras de uns Dimmu Borgir, mas mantendo uma identidade muito própria. “Colosseum” é já o quinto trabalho, editado em Novembro de 2021 pela Metal Blade Records, e do qual destaco “Murder Of Crows” – não só pela excelência de composição, mas também pelo momento que proporcionou: o vocalista/guitarrista Sakis Prekas começou por apresentá-la como uma “música triste”, mas éramos metaleiros, gostávamos de músicas triste, certo?; concordámos, e alguém acrescentou, “somos portugueses”. E Sakis contrapôs “e nós somos gregos”. Antes da tristeza da melodia, partilhámos uma boa disposição luso-mediterrânica.

 Não dei conta quando a sala 2 do Hard Club encheu, mas quando os italianos subiram ao palco depararam-se com um mar de cabeças e braços no ar. Foi a primeira vez que vi Fleshgod Apocalypse “dentro de portas” e não sei se por o som não se dispersar tanto, se pela proximidade que proporcionou uma empatia mais coesa – provavelmente a combinação de ambos – apreciei mais do que nos dois festivais que tinha visto anteriormente. Francesco Paoli estava mais comunicativo, agradecendo a nossa presença, que significava muito ter o nosso apoio “nestes tempos difíceis”, e também Veronica Bordacchini, sempre sorridente, revelou-se humilde e grata ao pegar no telemóvel de um fã e fazer ela própria videos com o aparelho.

Em 2020 justificava-se promover “Veleno”, mas em 2023 faz mais sentido apostar nos hits de toda a discografia – e ainda no recente “tributo” a Britney Spears, “No”. “The Forsaking” encerrou a passagem pela Invicta da tour Motorcultor Festival Across Europe, deixando os presentes com um sorriso a condizer com o já mencionado de Veronica.

Texto e fotos por Renata Lino
Agradecimentos Notredame Productions


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