WOM Report – Heavy Duty Fest @ RCA Club, Lisboa – 13.12.25
Expectativas bem altas para a primeira edição do Heavy Duty Fest. Afinal o cartaz não permitia que fosse de outra maneira. Com o início pouco depois da hora prevista, os Ladon Heads subiram ao palco perante uma sala ainda a meio gás. Assim que a música começou a soar, parte do público que estava fora da sala começou a ser atraído para dentro sendo que ao segundo tema, “Birth Of Hellfire”, a sala já estava bem composta. O trabalho de estreia “Steel For Fire” lançado recente foi naturalmente o foco da sua actuação. Uma actuação que foi sólida, com heavy metal tradicional no seu melhor onde destacamos “Master Of Sorcery” e “See In Hell”, cover dos Grim Reaper que fechou em alta o concerto dos Ladon Heads.

Do heavy metal ao thrash metal, a proposta mais pesada da noite veio na forma dos Speedemon. A banda Ribatejana continua a parecer-nos cada vez mais forte a cada vez com que nos cruzamos com ela. O alinhamento foi uma mistura entre os dois álbuns editados, a estreia “Hellcome” e o segundo trabalho, “Fall Of Man” lançado neste mesmo ano, com clássicos a serem disparados e muito bem recebidos pelo público. “Thunderball” é um clássico e “Midnight Ripper”, último tema de “Fall Of Man”, que também foi o último tema da sua actuação, já é sentido da mesma forma. Actuação sólida que nem um problema na guitarra de Brutus na “Road To Madness” beliscou. Sem dúvida que os Speedemon já não precisam de provar nada a ninguém.

A incursão dos Wanderer à capital não poderia ter sido mais poderosa. A sala estava completamente cheia e o público estava àvido por ouvir o heavy metal da banda do Porto. Público que não foi tímido a cantar de forma entusiasta temas como “Freedom’s Call” e “Force Of Ancient Steel”, celebrando uma sinergia que foi arrepiante de presenciar entre banda e público. Nem o aroma a refogado de cebola (true story!) que começou a circular pela sala na primeira metade do concerto desconcentrou todos da sua missão, a veneração ao heavy metal. O impacto foi tão grande que após o final da sua actuação criou-se um vazio, com a sala a ficar vazia e a sensação geral no ar de que esta é uma banda que temos todos que ver mais vezes na nossa vida.

Com o vazio que ficou após a actuação dos Wanderer, infelizmente muitos aproveitaram para ir jantar. Pelo menos foi a conclusão que chegámos como justificação da sala não ter tantas pessoas para a estreia dos Raptore em solo nacional. O que logo à partida foi um crime. Tanto pela banda que os Raptore são, pela data histórica em si e pela sua actuação que foi explosiva. Curiosamente não foi o último trabalho “Renaissance” a ter mais tempo de antena no alinhamento e sim o já clássico “Blackfire” que nos proporcionou grandes momentos como a “Prisoner OF the Night” com o seu excelente solo de guitarra. Já de “Renaissance”, foi “Imperium” que nos marcou por ter sido cantada (e muito bem), pelo baixista Christian Blade e com o vocalista/guitarrista Nico Cattoni nos coros. Uma estreia que grita por mais passagens pelo nosso país.

Com os Toxikull, a sala ficou à pinha, o que é testemunho pela crescente forma como a banda tem sido acarinhada pelo público nacional. Afinal a justiça sempre existe no mundo da música. “Night Shadows”, o primeiro tema do mais recente álbum “Under The Southern Light” deu o tiro de partida para uma actuação épica por parte de Lex Thunder e seus pares. O último álbum de originais foi o mais representado no alinhamento mas houve ainda uma surpresa para os fãs quando tocaram um tema do próximo álbum. “Midnight Fire” tem uma melodia contagiante e o refrão entrou logo à primeira. Um outro momento importante, diria mesmo histórico, foi quando Antim, ex-baixista/vocalista da banda, subiu ao palco para cantar e rockar com a sua antiga banda no hino “Metal Defender” num momento de sinergia absolutamente épico. Apesar de curto (porque sabe sempre a pouco) esta foi uma das mais celebradas actuações do Heavy Duty Fest.

E o que dizer da estreia dos lendários Sortilège? Antes de embarcarmos na actuação da banda francesa, temos que referir a importância deste cartaz, da coragem para o mesmo. Apesar do ser uma banda histórica que nunca veio a Portugal, a incerteza da sua recepção é sempre um ponto incontornável. Mas a organização do Heavy Duty Fest tomou bem o pulso à cena portuguesa e ao que os fãs desejavam, porque a recepção do público a este concerto foi algo digno de ser apreciado. Apesar de todas as questões legais que fizeram com que se tivessse duas encarnações da banda francesa, é esta facção de Christian “Zouille” Augustin que tem estado activa desde a cisão lançando já três álbuns, sendo o mais recente, “Le Poids De L’Âme”, lançado há menos de um mês atrás desta actuação.

O público estava completamente efusivo em relação à presença da banda e sobretudo, aos temas clássicos como “Messager”, “Chasse Le Dragon”, ou a inevitável “Sortilège” que encerrou a actuação, ou até mesmo nos temas mais recentes, como a “Cours D’ Acier” do último álbum de originais que foi tocada ao vivo pela segunda vez. Impressionante a forma como cantou e fez headbang perante uma actuação de luxo onde toda a banda, sem excepção, estava em topo de forma. Mas temos de dar uma palavra especial para “Zouille”, que esteve imparável. Com quase sessenta e oito anos (68!), ele não parou quieto, parecendo muitas vezes que estava numa aula de aeróbica, e a sua voz nunca falhou. Esteve sempre lá. E quando dizemos “lá”, é naquele ponto em que os vocalistas poderosos estão em pico de forma para dar prestações únicas. Foi impressionante e absolutamente histórico.

Naturalmente depois do final de Sortilège, muitos abandonaram o recinto mas ainda ficou uma boa mole humana para presenciar outra banda histórica e outra estreia em solo nacional: Savage Grace. Uma banda histórica do heavy metal norte-americano que lançou dois álbuns essenciais na década de oitenta, sendo a estreia “Master Of Disguise” uma pérola incontornável. No entanto foi com o último álbum muito pouco consensual, “Sign Of The Cross”, que a banda iniciou o alinhamento, uma entrada fulgorosa que meteu logo todos a mexer. Todavia eram os clássicos da década de oitenta que todos aguardavam e malhas como “Bound To Be Free”, “Fear My Way” e sobretudo “Master Of Disguise que fechou o alinhamento, tiveram um sabor muito especial.

A encerrar o Heavy Duty Fest, tiveram os alentejanos Danger Machine, cuja actuação não nos foi possível assistir. No geral, foi uma iniciativa valorosa e inteligente, a aproveitar um espaço vazio no nosso underground e para o qual existe público como tão bem ficou comprovado. Há espaço para mais edições, e para crescer para além daquilo que foi possível presenciar. A magia do Heavy Metal está viva e agora existe um festival para a celebrar em pleno.
Texto por Fernando Ferreira
Fotos por Sónia Ferreira
Agradecimentos Heavy Duty Fest
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