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WOM Report – Laurus Nobilis Music Famalicão – Dia 3 @ Vila Nova de Famalicão

O terceiro dia arrancou com a irreverência dos Besta. Mesmo sem o baixista Gaza – ou alguém para substitui-lo – trouxeram o mais recente “Eterno Rancor” com toda a força pela qual são já conhecidos. Poderia dizer-se que a sonoridade grindcore da banda dá azo a essa força, mas se Paulo Rui não fosse o vocalista expressivo que é – atrevo-me a dizer que personifica o nome da banda – o espectáculo não teria o mesmo impacto. Até duas semanas antes, era suposto ser os Primal Attack a estar ali, mas dada a impossibilidade destes, a escolha dos “Filhos do Grind” (usando o título do álbum de estúdio anterior, do qual também tocaram alguns temas) foi 100% acertada.

Marco Fresco foi o próprio a dizer que aquela era a primeira vez em doze anos que os Tales For The Unspoken estavam em palco sem o fundador Nuno Khan. O guitarrista estava de partida para os Estados Unidos, para iniciar uma nova etapa da sua vida, e continuar a fazer parte da banda num continente diferente não era viável. Mas com o baixista Nuno Raimundo a assumir a guitarra, e convidando Rui Alexandre dos Terror Empire para dar uma mãozinha no baixo, provaram que são capazes de seguir em frente. Miguel Inglês dos Equaleft subiu ao palco em “I, Claudius” e, como habitual, o concerto terminou com “N’Takuba Wena”, sobre qual Fresco comentou, com um sorriso saudoso, não estar presente nenhum dos autores, já que além de Khan, o tema sido composto também por Guilherme Busato, actualmente nos Destroyers Of All.

Gwydion significa “nascido das árvores” em galês mas no metal nacional é sinónimo de “grande festa” – enquanto que os Vikings escandinavos espalhavam o terror Europa fora, estes lisboetas espalham a euforia. “Thirteen” saiu o ano passado e temas como “Strength Remains”, “793” ou “Thirteen Days” já instigam comboinhos humanos, brindes de hidromel e remar Drakkars em terra tanto quanto “From Hel To Asgard” ou “Mead Of Poetry” o fazem há cerca de uma década. Entre uma variação de “Avé Maria” (“Ó Zé traz vinho”) cantada pelo público – que o vocalista Pedro Dias acompanhou -, apresentaram a nova baterista Marta Brissos.

É certo que os Sollar, enquanto banda, são novos nestas andanças (2016) e têm apenas um álbum (“Translucent”), pelo que tocar no palco Porminho pode ter sido uma surpresa para muitos; mas a “rodagem” dos seus membros e a sonoridade mais ecléctica (toda uma variedade de vertentes de rock alternativo e progressivo), são factores que podem já justificar um palco maior e um público mais numeroso. As melodias intensas de temas como “Translucent” ou “Primal”, enquadradas com a voz firme e cativante de Mariana Azevedo, ficaram no ouvido de grande parte desse público. Não vi o baterista Eduardo Sinatra saltar do banco conforme faz no vídeo de “Royal Flush”, mas Mariana dançou com um manto cintilante, como se fossem asas, em “Naked”.

Ainda não sabíamos na altura, mas o Laurus assistiu ao último concerto da vocalista Patrícia Tavares e do baixista Fernando Matias com os Sinistro. Em palco, Patrícia vivia num mundo muito seu, utilizando uma linguagem corporal claramente desenvolvida em escola de teatro, pelo que “Cidade”, “Relíquia” ou “Cosmos Controle” nunca mais serão vistos e ouvidos da mesma maneira como foram naquela noite. Mesmo sem a projecção de slides e o jogo de luzes que costumam contextualizar o sludge/post-metal que tocam, foi uma despedida – não anunciada – cheia de requinte.

Confesso que não contava com tão bom concerto dos Crematory (ainda que, pessoalmente, gostasse de ter ouvido “Ist Es Wahr” e “For Love”) – não pela qualidade musical mas porque sempre tive a sensação de que era banda para ouvir em estúdio, ao vivo não resultaria tão bem. As minhas mais sinceras desculpas! Até as consultas de Felix a uma cábula com as letras das músicas foi feita com semelhante profissionalismo e desenvoltura que, se não estivesse a vê-lo da fila da frente, duvidaria da “batota”. “Greed”, “The Fallen” e “Tick Tack” trouxeram tantas memórias!

Felix apresentou a banda, deixando o co-fundador Markus Jüllich para o fim. Este saiu então de trás da bateria para vir dar umas palavrinhas sobre o que ainda os movia ao fim de tantos anos – a música e os fãs. E para dar o exemplo, chamou ao palco um rapaz que estava na primeira fila, apresentando-o como o “maior fã de Crematory em Portugal”, pois tinha ido à Alemanha duas vezes só para vê-los. Foi ele que apresentou o último tema – aquele que toda a gente conhece, mesmo que não conheça mais nada – “Tears Of Time”.

Perdi o concerto de aniversário do “Ceremony Of Opposites”, no final de 2016, pelo que estava a fazer quase oito anos desde a última vez que vira Samael – as expectativas eram altas e os suiços superaram-nas todas. Sendo “Hegemony” o álbum mais recente (ainda que já de 2017), foi o álbum que visitaram mais, abrindo com o tema-título e, mais para o final, “Black Supremacy” a anteceder o encore. Também este concerto patrocinou uma montanha-russa de emoções e recordações, e o referido encore parece ter sido escolhido a dedo para esse efeito: “Ceremony Of Opposites”, “Baphomet’s Throne” e, claro, “My Saviour”. Uma postura irrepreensível de toda a banda e não posso deixar de realçar o carisma inabalável de Vorph: o vocalista é o que coloquialmente apelidamos de “um senhor”.

Texto Renata Lino
Fotos Fátima Inácio e Renata Lino
Agradecimentos Laurus Nobilis Music Famalicão


 

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