Report

WOM Report – Laurus Nobilis Music Fest @ Casa do Artista Amador, Louro – 21.07.23 – Dia 2

Apesar do nome, não foram os Nada Ético que se atrasaram e sim os Cape Torment (parece que se esqueceram de alguma coisa na sala de ensaios e tiveram de voltar para trás). Ainda assim, quando a intro e “Draining Your Soul” começaram, só três pessoas (contando comigo) estavam a assistir. Os agradecimentos de José Almeida depois da sala estar finalmente compostinha não podiam ser mais sinceros. Estavam a tocar sem baixista – o Eugénio foi pai dias antes; os nossos parabéns! – e o Ari tinha sido “raptado por piratas” (a deixa para apresentarem “The Sea Of Pain”), mas o verdadeiro motivo era conhecido da banda há tempo suficiente para arranjarem um substituto em Nuno Pereira (Buried Alive). Antes de terminarem o seu set de old school death metal, precisamente com “Death Metal Control”, o guitarrista Paulo pegou no micro para dizer três coisas: a primeira, era que o estava despedido (ah ah ah), a segunda era que a mãe fazia 83 anos naquele dia, e a terceira era uma mensagem de apoio não só aos músicos mas também aos lojistas que estavam a lutar contra o encerramento do Centro Comercial Stop.

Estava com curiosidade para ver os Junkbreed ao vivo e as minhas expectativas foram totalmente recompensadas – ainda que, segundo o vocalista Bruno, tenha sido uma semana complicada para a banda, “como se pode ver pela minha voz”. Confesso que não “vi” nada. Afinal, um “cocktail explosivo de rock, punk e post-hardcore” (palavras deles, não minhas, mas com as quais concordo plenamente) é suposto ser cru, pelo que talvez algum problema físico estivesse a afectá-lo. Mas foi o baixista Karia que sofreu um acidente de trabalho e, ainda assim, ali estava a espalhar adrenalina com temas como “Wild Risk” ou “The Thing”. Perto do final, Bruno também expressou a sua solidariedade com a situação dos músicos do Stop e estava confiante que, em breve, uma solução iria surgir.

Enquanto o heavy rock dos Inn Blast dava cartas no palco Faz A Tua Cena, os Hórus faziam o seu soundcheck na Casa do Artista Amador. O guitarrista Diogo Ferreira foi hospitalizado naquela manhã (esperamos que já tenha recuperado) mas a banda não deixou passar a oportunidade de levar o seu groove metal – o único no cartaz do Laurus deste ano – de Lisboa a Famalicão. Foram bem recebidos, mas mereciam maior interacção por parte do público. Não foi por falta de tentativa de Martim Pinto, que foi incansável tanto no seu papel de vocalista como de frontman, incentivando os presentes constantemente. Chegou mesmo a descer do palco e cantar entre nós, e aos poucos lá foi conquistando movimento. Ainda assim, mereciam mais. Como era de esperar, Eduarda Soeiro dos Glasya participou em “The Path”, tal como faz na versão de estúdio, antes da banda se despedir com “Sold The Truth” e “Haunted By Faith”.

A reputação dos Attick Demons precede-os e as vozes dos fãs já se elevavam durante o soundcheck. Afinal, são já 27 anos a recrutá-los para “criar o inferno”, e dado que a banda dá o exemplo em palco, não é difícil alinhar deste lado. Mas, curiosamente, dois dos momentos mais marcantes deste concerto foram os de melodias menos “infernais”: “O Condestável”, de natureza épica e cuja letra, em português, despertou o patriotismo do público e patrocinou um ambiente memorável; e “Dark Angel”, em que Liliana Silva dos Inner Blast não só ajudou Artur Almeida a cantar, mas fez também uma sedutora dança do ventre durante a intro oriental da música. “Atlantis” encerraria o alinhamento, provando que o classicismo do heavy/power metal continua a fazer furor.

O mesmo parece acontecer com o black metal, ou pelo menos o black metal elaborado (musicalmente, não me refiro à imagem, embora ajude) dos ANZV, que tiveram a casa cheia e não desapontaram ninguém (gostava de ter visto como está o death metal dos Ashes Reborn actualmente, que tocaram em simultâneo, mas os ANZV pesaram mais na balança). A entrada ritualista que vi na festa de lançamento de “Galla” mantém-se – cada elemento carregando um objecto místico que deposita num tabuleiro na dianteira do palco – pelo que presumo que será a “marca registada da banda”, pelo menos até ao lançamento de um segundo álbum. Ahnum não estabelece qualquer comunicação com o público excepto através da música e expressões corporais – assim como os restantes membros da banda – mas dado o contexto ominoso em que nos encontramos, anunciar “a próxima música chama-se ‘Isimud’” ou um simples “obrigado”, mesmo em tom gutural, iria arruinar o ambiente por completo.

“Years Of Aggression” saiu em 2019 e os Suicidal Angels estavam tão ansiosos por apresentá-lo ao Laurus como os festivaleiros por recebê-lo – ou pelo menos foi o que os círculos de mosh deram a entender. Isso e os habituais “jogos” em que Nick Melissourgos pergunta qualquer coisa e nunca está satisfeito com o volume das respostas, e à segunda lá nos esgoelamos ainda mais. Thrash metal é algo que resulta sempre muito bem ao vivo, mas temas como “Bloodbath” ou “Capital Of War” (que encerrou o set) parecem resultar ainda melhor nos concertos da banda grega; do último álbum, “The Sacred Dance With Chaos”, “Bloody Ground” e “Born Of Hate” estão a ir pelo mesmo caminho.

22:15 foi a hora “das modernices” (uma mera adaptação ao termo modern metal, sem qualquer conotação depreciativa): os portugueses Oceans Of Apathy num palco, os espanhóis Synlakross noutro. A princípio, Patricia Pons parecia cansada e, ao falar que a tour europeia estava a ser uma confusão e que provavelmente seria a última com ela pois estava certa que iria morrer este ano (esta referência à sua morte até foi feita duas vezes), tive a certeza que a vocalista valenciana não estava no seu melhor. Ao puxar pelo público disse ainda que tinha sofrido um acidente há uns meses, pelo que se ela conseguia, nós também conseguíamos. Não sei se pelo desafio ou se pelo melodic death a embrulhar-se com o metalcore finalmente “assentar” nos ouvidos dos presentes, de repente estava a sala toda aos saltos, imersa num carrossel de strobes em que ora fazia jus a “Pitch Black”, ora encandeava. Não tardou a que o aparente cansaço de Patricia desvanecesse e temas como “Curly Wolves”, “Death/Hate” ou “Dark Seed” fossem interpretados com a garra pela qual é conhecida.

Continuo a achar a intro de Batushka demasiado longa, e a avaliar pelas piadas que fui ouvindo – nomeadamente a música “Põe a Mão na Mão do Meu Senhor (da Galileia)” – não sou a única. Mas assim que as batinas dos músicos foram avistadas em palco e “IRMOS III” ecoou pelos amplificadores, a brincadeira acabou e todos reverenciaram a “liturgia negra” da banda polaca. “Powieczerje”,  “Polunosznica” e “Milost”, entre outras, e a respectiva parafernália propagandística puseram o Laurus num estado de transe, tal e qual uma assembleia de um culto religioso, encerrando as actuações ao vivo do segundo dia com chave de ouro (e incenso).

Texto e Fotos por Renata Lino
Agradecimentos Laurus Nobilis Music Fest


 

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