WOM Report – Leprous, Gåte @ República da Música, Lisboa – 02.11.25
Foi na Republica da Música em Alvalade o regresso dos Leprous a Portugal, sendo esperada casa cheia para receber a banda norueguesa e as duas bandas de suporte Royal Sorrow e Gåte. O concerto em Lisboa acabou por envolver também a Lei de Murphy, mas com uma conclusão positiva no final. Algures em Espanha o autocarro que transportava os Royal Sorrow avariou, deixando a meio do caminho, não só a banda finlandesa, mas também equipamento necessário para os Gåte poderem atuar e o merchandise das bandas. Isto levou ao cancelamento do concerto dos Royal Sorrow, já que não chegariam a tempo de tocar, tendo-se decidido avançar à mesma com o concerto dos Gåte, sendo necessário esperar que chegasse o material. Com a sala já cheia há algum tempo, foi anunciado o sucedido e que seria necessário esperar mais algum tempo para que os Gåte pudessem começar a tocar, e que isso implicaria um atraso na atuação dos Leprous, que no entanto fariam o set completo. Com o ar condicionado da sala avariado, e a espera a prolongar-se por mais do que o esperado, começou-se a sentir alguma impaciência e descontentamento em alguns elementos do público, algo que acalmou bastante quando finalmente a crew pode começar a montar tudo em palco.

Foi uma longa espera pelos Gåte, mas quando a figura da vocalista Gunnhild Sundli surgiu em palco, ouviram-se muitos aplausos até começar “Skarvane”. A banda segue na linha da vaga atual de folk “moderno” vinda de países escandinavos, adicionando elementos eletrónicos e metal progressivo ao seu som. O folk dos Gåte tem uma qualidade quase mística para a qual a voz de Gunnhild contribui muito, criando uma combinação interessante quando se liga com riffs pesados e elementos progressivos. Depois do tema inicial, prosseguiram com a nova “Oskorsreia” e com “Jomfruva Ingebjør”, onde o guitarrista Magnus Børmark ia sendo o elemento mais irreverente em palco no pouco espaço que dispunha. Todo o processo até finalmente os Gåte entrarem em palco foi seguramente tenso, mas tudo isso parecia ter-se desvanecido por agora com a banda a mostrar-se muito energética e animada, e o público a mostrar muito apoio com palmas ao longo da atuação. O set acabaria por ter de ser encurtado e rapidamente chegámos à última música, que não poderia deixar de ser “Ulveham”, com que representaram a Noruega no festival da Eurovisão de 2024. Um tema que fica no ouvido e que mostra bem o som da banda.

Já passavam das 23:30 quando os Leprous deram entrada no palco da República da Música. Se a atuação dos Gåte foi acalmando ânimos, o início de “Silently Walking Alone” funcionou como um verdadeiro tónico. Einar Solberg acabaria por abordar o sucedido de forma bem humorada, comentando que a espera parecia confortável e questionando quem se ia “baldar” ao trabalho no dia seguinte dizendo que estava doente. Quando a banda chegou a “Stuck”, o terceiro tema da noite, o ambiente que se vivia na sala era de boa disposição, com o público totalmente rendido à banda. O alinhamento do concerto acabaria por ser uma equilibrada passagem por toda a discografia pós “The Congregation”. Seguiu-se “Nighttime Disguise” um tema que demonstra bem como a banda consegue juntar técnica, musicalidade e emoções de forma perfeita. É também um momento para apreciar a qualidade vocal de Einar, em particular no refrão. Depois, dose dupla de “Pitfalls”, possivelmente o álbum mais emotivo da banda, com “Below” e “Alleviate”, dois temas de grande fragilidade e ao mesmo tempo com um poder muito único dos Leprous, e que para um álbum que na altura foi tão divisivo, não deixa de ser interessante ver como são sempre bem recebidos.

Recentemente a banda esteve nos estúdios Musora no Canadá onde participou na rubrica “Covers on the Spot”, onde é feito um desafio de criar uma cover de uma música “surpresa” e com muito pouca preparação. Aos Leprous calhou “Take on Me” dos conterrâneos A-Ha, que tem feito parte do alinhamento desta tour. Uma boa cover deste clássico que continua completamente reconhecível, mas com uma “roupagem” cheia da personalidade musical dos Leprous. Outro momento diferente foi em “Faceless” , tema do álbum mais recente que contou com a participação de um coro de fãs a convite da banda. Ao vivo voltou a ser formado um coro agora com vários dos presentes na República da Música a subir ao palco, criando mais um momento de ligação da banda com os fãs. Uma das secções do concerto mais energéticas veio com “Like a Sunken Ship”, com um fantástico final de peso e uma dose dupla de “The Congregation” com “Rewind”, possivelmente o momento musicalmente mais pesado da noite, e a obrigatória “The Price”, que Einar Solberg se divertiu a apresentar como sendo um tema que a banda não tocava há muitos anos. Já no fim ficaria “From the Flame”, uma música que se tornou num clássico quase imediatamente e é sempre um momento apoteótico em concertos dos Leprous, e “Atonement” colada ao final de “The Sky Is Red” deram o concerto como encerrado.

Os Leprous são sem dúvida uma das grandes potências do metal progressivo nos últimos anos. Uma banda de uma excelência técnica assinalável, mas que coloca essa capacidade ao serviço das músicas, mais do que do exercício de virtuosismo. Consegue transformar a técnica em emoção, vulnerabilidade em força. Ao vivo, onde tudo é mais cru, estes aspectos saltam ainda mais a vista. Einar Solberg não só impressiona sempre pela capacidade vocal dos agudos cristalinos aos momentos mais guturais, mas como frontman tem um talento para criar uma ligação com o público em particular por uma postura aberta que emana naturalmente do vocalista. Pode ter sido um início de noite duro, num dia repleto de azares impossíveis de controlar, mas no fim fica mais um enorme concerto dos Leprous.
Texto por Filipe Ferreira
Fotos por Filipa Nunes
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