WOM Report – Milagre Metaleiro Open Air – Dia 2 @ Pindelo dos Milagres – 22.08.25

O primeiro dia foi bom, mas as expectativas eram que este segundo dia fosse ainda melhor. Uma coisa que podemos garantir do Milagre Metaleiro é que raramente defrauda as expectativas dos amantes da música pesada. Logo a começar pela primeira actuação, os Praetor. Sofrendo do mal crónico das primeiras bandas no alinhamento – pouco público – o entusiasmo da banda de Hugo Nogueira foi o mesmo e isso, aliado ao seu thrash metal acutilante acabou por chamar à frente do palco todos os que iam chegando. Mesmo sem Noémie na guitarra, o ataque com “The Spiral Of Addiction” (tema-título do último álbum que teve em destaque), “Traitors In Disguise” e a já tradicional cover de “Master Of Puppets” (pelo menos a primeira metade) a antecder a “Screens”.

Do thrash metal poderoso ao heavy metal raçudo e cheio de garra foi uma distância curta – ainda para mais, sendo que a partir deste dia já estavam os dois palcos em funcionamente, a espera entre a actuações foi reduzida drasticamente. Os Bronze são espanhóis, com um guitarrista sueco (Cederick Forsberg, dos Blazon Stone). Com o álbum de estreia, “In Chains And Shadows” lançado no ano passado, foi natural o alinhamento estar centrado quase exclusivamente nesses temas. A magia do heavy metal tradicional não é fácil de capturar mas a banda de Mina Walkure, uma frontwoman implacável, fê-lo com mestria.

Os Godark foi a primeira banda nacional a entrar neste segundo dia do Milagre Metaleiro e foi uma inauguração impressionante. Apresentando-se com um ataque tripo de guitarras, este próximo passo na sua evolução teve um impacto muito positivo. O público já estava em grande número e o seu death metal melódico de cariz épico foi bastante inspirado, principalmente quando tocaram temas novos a figurar no próximo disco de originais. Temas novos esses que foram muito bem recebidos pelo público. Destaque para “Frozen In Time” e “This Is The End”.

Antes dos Aphonnic entrarem em palco já demonstravam ao que vinham com a bandeira da Palestina e o slogan “Free Palestine”. Mensagens políticas aparte, foi a música que falou mais alto – uma característica também de todas as actuações do palco secundário, algo que será falado mais à frente. A banda de Vigo é bastante experiente com quase vinte cinco anos de carreira e a sua abordagem moderna (ora dentro do nu metal interessante, ora na vertente de metal alternativo com laivos de metalcore) saiu fora do que era a proposta global deste segundo dia. Ainda assim, a experiência e a qualidade da sua música cativou todo o público em grande número em frente ao palco.

Num dia em que os piratas escoceses eram os mais aguardados, vieram os piratas suecos, com vocalista finlandês inspirados pelos piratas mor alemões. Confuso? Não, apenas os Blazon Stone, aqueles que pegaram na herança dos Running Wild e deram-lhe uma nova vida assim como também um cunho muito pessoal. A mistura entre heavy, speed e power metal prendeu-nos a todos com um alinhamento que passeou um pouco pela sua discografia, destaque para “Damnation”, o ainda último álbum de originais, lançado em 2021 e para o já clássico álbum de estreia “Return To Port Royal”.

Os senhores que se seguiram dispensavam apresentações: Tarantula, um dos nomes mais clássicos do heavy metal lusitano, eles que estiveram presentes no primeiro Milagre Metaleiro. Com uma carreira longa e muita matéria prima para oferecer ao alinhamento, os fãs do bom hard’n’heavy da banda do Porto só tinham razões para estar satisfeitos. Os clássicos estavam lá mas infelizmente o som, esse, principalmente da guitarra de Paulo Barros, estava demasiado estridente, e com umas flutuações quando mudava o de som na pedaleira/pedal de distorção. Isso e o facto de nos momentos iniciais a banda quase desaparecer no meio do fumo artificial que surgia do palco – outra característica infeliz do segundo palco. No entanto, saldo positivo perante a instituição heavy metal que são os Tarantula.

Endurecendo mais o som – que estava com uma qualidade incrível – vieram as Nervosa para o palco principal para uma autêntica lição de Thrash/Death Metal bruto, como só a banda de Prika Amaral sabe dar. Prika que está cada vez mais confortável no seu papel de frontwoman, demonstrando um talento nato para o papel. Mais talento ainda na hora de soltar faixas demolidoras para o pescoço devido ao headbang impiedoso que promove. “Jailbreak”, o último álbum de originais esteve em destaque, mas também mostraram um tema novo, “Smashing Heads”, single lançado recentemente para comemorar os quinze anos da banda.

Voltando ao heavy metal mais tradicional, ainda que neste caso seja mais power metal com laivos de progressivo, vieram os Vision Divine. A sua carreira é já longa e contaram com muitas mudanças de formação ao longo dos anos, onde uma das posições com bastante rotatividade é a de vocalista – que por curiosidade teve como primeiro Fabio Lione, que tinha actuado no dia anterior. Este foi o primeiro concerto da digressão da banda com o “novo” vocalista Michele Luppi, que regressava à banda passados dezoito anos, sendo também o primeiro concerto que toca com a banda desde então. Uma actuação sólida que teve só as limitações habituais que o palco secundário oferecia.

Quando se começa a ver uma concentração de patos de borracha, colchões de praia, unicórnios e Pikachus, é porque está na hora de sermos abordados pelos alucinados piratas Alestorm. E qualquer que seja o conjunto de palavras empregue, a certeza é que a descrição será sempre pálida para aquilo que aconteceu. Não só tocaram temas do novo álbum – com um impacto considerável com a icónica “Killed To Death By Piracy” e “Frozen Piss 2”, como foram aos clássicos todos como “The Sunk’n Norwegian”, “Mexico” (se recebessem royalties pelos refrões que passam em loop no nosso cérebro, os escoceses estariam podres de ricos) e “Fucked With An Anchor”. Houve de tudo, para miúdos e graúdos naquele que foi provavelmente o mais épico e memorável concerto que deram em terras lusas.

Da euforia extrema para o abismo das trevas foi mesmo um instante. Os Anzv contrariaram todas as expectativas que tinhamos em relação à qualidade sonora. Apesar de ainda estar com o som das guitarras ligeiramente estridente, a qualidade sonora subiu em muito, algo que até nos fez esquecer o ocasional nevoeiro. O ritual foi imersivo e cativou um largo número de público que provavelmente com outra banda não teria o mesmo efeito. “Kur”, o último álbum lançado recentemente esteve no centro das atenções. Um final de dia em alta perante um grande dia do Milagre Metaleiro.

Texto por Fernando Ferreira
Fotos por Sónia Ferreira
Agradecimentos Milagre Metaleiro

We are here to drink your beer
Yeaaaaaaah! \m/