WOM Report – Milagre Metaleiro Open Air – Dia 4 @ Pindelo dos Milagres – 24.08.25

E chegámos ao quarto e último dia da edição de 2025 do Milagre Metaleiro Open Air. Para começar bem o dia, subiram ao palco principal os Ruttenskälle, apostados em fazer o sangue ferver com o seu death metal old school, que estava com um som especialmente potente. As honras do alinhamento dividiram-se entre o álbum de estreia de 2021 “Skin’Em Alive” e o split de 2023″Disgorged Exsanguination”, que foi praticamente tocado na íntegra. No final houve um momento especial e inédito, que saibamos pelo menos, onde Paulo Soares pediu em casamento em palco à sua, agora noiva, Tatiana perante os aplausos de todos os presentes.

Quem também fez um bom casamento com o público foram os Affäire, com o seu hard rock bem sleazy, ideal para dar continuamente a todos os presentes. O feeling nostálgico do hard rock clássico estava todo lá, feeling esse que transmitem em cada actuação, no entanto foi pena a banda parecer algo cansada e que Tawny Rawk estivesse com algumas limitações vocais. O que para outras bandas seria um problema intrasponível, no caso dos Affäire foi combustível para o desfilar de grandes malhas como “Devil’s Cross”, ou da novidade “En Route”, “Way Out Of Line”, “Joke’s On You” ou ainda o já clássico “Paradise Café” e a cover dos Slade “Cum On Feel The Noize”, popularizada também pelos Quiet Riot.

O palco principal já estava pronto para receber os Living Tales, que têm sido uma banda com uma evolução constante e pulsante, promovendo agora “Hades”, lançado poucos meses atrás. Com um som bem potente, onde as guitarras tomaram a dianteira deixando em segundo planos as backing tracks que continham todas as orquestrações. O alinhamento esteve concentrado quase exclusivamente no já mencionado “Hades”, sendo que a final “Reign”, que terminou a actuação, foi a única retirada doutro lançamento, neste caso, “Persephone”. Mais um exemplo do estrondoso talento do metal nacional.

Na vertente de serviço público, mais uma vez o Milagre Metaleiro proporciona estreia absoluta no nosso país, especificamente os Manticora. A carreira da banda dinamarquesa já é longa, com mais de vinte e cinco anos, portanto havia muita matéria onde pegar. Infelizmente o som estava estupidamente alto, o que, para além de tornar penoso estar perto do palco, também tornava difícil reconhecer alguns dos muito pormenores que a sua música contém, tanto a nível instrumental como a nível vocal. Destaque natural no alinhamento para o seu último álbum de originais lançado em 2024, “Mycelium”.

Também da Escandinávia mas mais concretamente da suécia, vieram os Art Nation, banda que substituiu no cartaz deste último dia os Girish And The Chronicles, que devido a problemas com a atribuição dos vistos, tiveram de adiar a sua participação para o ano seguinte (já confirmada oficialmente). Entraram em grande com “Brutal & Beautiful” de “Inception” de 2023 e “Thunderball” do “Ascendanse” lançado em Abril deste ano. Foram bem recebidos pelo público mas a sua prestação e música em muito que teve influência nesse processo.

Já os Brainstorm são velhos conhecidos do público nacional embora nunca seja demais ver mais um concerto da banda alemã. Com um som demolidor, dos melhores que encontrámos no palco secundário e com muitos clássicos à disposição, dos quais pôde-se ouvir “Devil’s Eye”, “Shiva’s Eyes” e “High’s Without Lows”, sem esquecer o último lançamento, “Plague Of Rats” lançado no início do ano que esteve representado pela ” The Shepherd Girl (Gitagovinda)”, ” Garuda (Eater of Snakes)” e “Crawling”. A mestria e experiência de uma banda faz toda a diferença em cima de um palco e este foi um desses casos onde isso é por demais evidente.

A actuação dos Thyrfing pode-se inserir na vertente de serviço público já previamente mencionada, de trazer bandas pela primeira vez a Portugal. Impacto maior quando se trata de uma banda de grande qualidade com mais de trinta anos de carreira. Som cristalino e uma actuação electrizante, deixaram todos colados em frente ao palco para diversas incursões por terras geladas cheias de misticismo e sobretudo, muito peso metálico, sendo que o clássico “Vansinnesvisor” foi o mais requsitado, sendo seguido pelo último álbum de originais, “Vanagandr” que data já de 2021.

Os senhores que se seguiram foram os Mercenary, que tinham uma hoste de fãs à sua espera para garantir uma sequência de bandas alucinante. “Soundtrack For The End Times” foi o álbum mais requisitado no alinhamento, mas no geral a banda fez um apanhado uma boa parte dos seus lançamentos. O seu death metal melódico garantiu muito mosh, muito crowdsurfin e muitos circle pits e no final é só isso que o público queria.

E se estavam todos à espera dos Mercenary, o entusiasmo pelos Hypocrisy rebentou a escala. Por esta altura, já não há grandes segredos perante um concerto da mítica banda de Peter Tägtgren. O último álbum lançado, “Worship” é de 2021. O tempo de promoção desse trabalho já esmoreceu – apenas tocaram a “Chemical Whore” – e o resto do alinhamento foi passear por uma longa e ilustre carreira. Com o som do melhor que o Milagre Metaleiro nos três dias e com muitas movimentações entre o público, os suecos entregaram aquilo que era devido. Nota para a participação de Andrew Smirnoff da banda de UDO que tinha tocado no dia anterior no tema final, a incontornável “Roswell 472, onde para além de tocar guitarra também cantou.

A finalizar a noite, e todo o festival, surgiram os Patriarkh (designação adoptada pelos Batushka de Bart após a decisão do tribunal que lhe retirou o direito de usar a designação) para uma liturgia que foi apreciada em modo de contemplação. Seria de esperar uma debandada geral após Hipocrisy, mas grande parte do público permaneceu colada em frente sem movimentações mas como em transe. Para além de algumas passagens pelo álbum de estreia, também “Hospodi” (o primeiro álbum dos Batushka de Bart) também foi visitado.

Foi o ponto final em quatro dias intensos, cheios de música boa, onde nós, World Of Metal, imprensa e público em geral fomos recebidos de forma calorosa, como já é hábito, sendo que este é já um evento incontornável no panorama de peso nacional e o qual deverá perpetuar-see no tempo. Todos os presentes saíram de coração cheio e com vontade de voltar no próximo ano.

Texto por Fernando Ferreira & Luís Balsa
Fotos por Sónia Ferreira & Luís Balsa
Agradecimentos Milagre Metaleiro
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