WOM Report – Moonspell + Orquestra Sinfonietta de Lisboa @ MEO Arena – 26.10.24
Não é exagero dizer que este era um momento muito aguardado, tanto para os Moonspell como para o público. Começando pelo óbvio, a experiência sinfónica com a música da banda que tem um óbvio potencial para isso. Depois o facto de ser a primeira vez que os Moonspell iriam actuar em nome próprio naquela que é a maior sala (mais que não seja em prestígio) do país. Por último a curiosidade em ver como seria materializada a união entre dois mundos que nem sempre é bem sucedida – temos os bons exemplos de Deep Purple como algo embrionário mas também único (ou seja, na primeira ocasião, criaram música própria e não foi uma reinterpretação dos seus temas) mas também temos as experiências agri-doce dos Metallica onde essa fusão não foi harmoniosa por completo. Fernando Ribeiro já nos tinha confidenciado que queria escapar um pouco ao óbvio de todas estas experiências e trazer algo novo para cima da mesa e não apenas ter o elemento sinfónico a repetir aquilo que a banda já fazia.
Assim que as luzes se apagaram, o entusiasmo correu toda a sala e tornou-se cada vez mais palpável. Conforme os membros da orquestra subiram ao palco, assim como os elementos do coro e o baterista Hugo Ribeiro, houve uma explosão de aplausos sendo só superada com a entrada do maestro Vasco Pearce de Azevedo. O início deu-se com uma intro orquestral que nos remeteu para os filmes de suspense/horror clássicos da década de cinquenta e sessenta, com uma melodia a ser repetida em diversas variações e com um crescendo de intensidade que iria culminar em apoteose. Luz vermelha – e uma melodia de fundo que por momentos até fazia pensar que iam começar com “Mephisto”, mas a entrada de Fernando Ribeiro de lanterna na mão e o avançar do tema mostrou-nos que seria “Em Nome do Medo”, na sua versão “1755”, o primeiro tema escolhido. E apropriado, dado essa reinvenção em disco, neste contexto soou ainda mais imponente e tenebrosa, principalmente no refrão quando cantado em uníssono pelo público, com a orquestra a brilhar e ainda com guitarra acústica de Ricardo Amorim.
Já em modo metal, “1755” foi aliás o grande foco dos primeiros temas do alinhamento, seguindo-se o tema-título, com “In Tremor Dei”, “Desastre” e “Ruínas”. Fogo no palco, a trazer mais ambiência a todo o conceito do álbum que aqui ganhou uma nova profundidade graças aos arranjos orquestrais. No final desta sequência Fernando Ribeiro agradeceu a presença de todos nesta que era uma noite muito especial para a banda e anunciando “Breathe (Until We Are No More), que foi outro bom exemplo da união entre os dois mundos assim como “Extinct”, o tema que se seguiu. Em modo de interlúdio, teve-se “Proliferation”, um tema instrumental de “Memorial” onde a orquestra pode brilhar mais uma vez.
O peso de “Memorial” também marcou presença com uma “Finisterra” poderosa (um dos temas onde Pedro Paixão pegou na guitarra para dar ainda mais poder), mas foi uma “Everything Invaded” que um dos momentos mais harmoniosos entre a orquestra e banda e talvez aquele onde a música original esteve mais próxima da interpretação no palco do MEO Arena. Antes da música de “The Antidote”, Fernando Ribeiro dirigiu-se mais uma vez ao público, desta vez pela primeira vez em inglês dirigindo-se aos muitos fãs que tinham vindo a Lisboa para ver este momento memorável mas assim como todos os que estão a ver, um pouco por todo mundo, o evento que estava a ser transmitido em directo e que mais tarde será transformado num lançamento Blu-ray/DVD e previsivelmente também em CD.
Já na recta final da noite – apesar do público estar disposto a muito mais, foi ouvida uma “Scorpion Flower”, muitíssimo apreciada pelo público, seguida de uma “Vampiria” que soou tão tenebrosa como esperada e reinventada na sua secção final, onde mais uma vez foi a orquestra que brilhou. Para terminar, e como não podia deixar de ser, “Alma Mater” e “Full Moon Madness”, aqueles que são os hinos maiores da banda e que são incontornáveis. Arrepiante de ouvir todo um MEO Arena cheio a cantar o riff da “Alma Mater”, assim como a ambiência orquestral e melancólica da “Full Moon Madness” onde o ponto alto continua a ser o solo de guitarra Ricardo Amorim.
No final soube a pouco, terei de ser sincero. Não por ter faltado algo – na realidade havia muitos temas que todos gostaríamos que tivessem passado por este tratamento – mas porque havia ainda a fome para mais, por parte do público. Apesar disso, aquilo que ficou era o que se antecipava, uma noite memorável e uma experiência a ser repetida e porque não expandida a outros temas. Banda, orquestra, público, união quase perfeita – e isto contando com o já velho problema da sala em termos de acústicos mas nós tivemos sorte por poder apreciar em máximo esplendor um evento que perpetuará na memória de todos que o presenciaram.
Texto por Fernando Ferreira
Fotos por Sónia Ferreira
Agradecimentos Sónia Ramos, Crumbs Events & Moonspell
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