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WOM Report – My Enchantment, Invoke, Karbonsoul, Emerging Chaos, Lvnae Lvmen @ RCA Club, Lisboa – 13.04.19

Certas noites são especiais. Pelo o que sucede nas mesmas como também por aquilo que representam. O espectáculo de apresentação dupla – algo que não é de todo comum – dos novos trabalhos de originais dos My Enchantment e dos Invoke – contou ainda com a participação de mais três bandas – Karbonsoul, Emerging Chaos e Lvnae Lvmen – todas unidas em torno do mesmo objectivo. Um claro sinal de que nem tudo vai mal na nossa amada e algumas vezes maltratada cena, neste canto esquecido da Europa – e muitas vezes esquecido por nós próprios.

O ambiente era de festa e como tal, nada mais perfeito que ser iniciada com os mestres da boa disposição e da história de Portugal: Lvnae Lvmen. Tendo já visto a banda a tocar, podemos dizer que esta foi provavelmente a sua actuação mais coesa e onde o bandolim de Sérgio Páscoa se fez ouvir melhor. Por falar no frontman, Sérgio Páscoa não pôde dissertar muito entre os temas, já que o horário relativamente apertado, mas a qualidade musical, essa, foi omnipresente. Destacamos mais uma vez os inevitáveis e já obrigatórios “Death Or Glory” e “Forgotten Sacrifice” (e não “Forgotten Sunrise” como já disse anteriormente), acabando com “The Punishment of 1531” e reiteramos a necessidade de ouvir estes temas no conforto do lar.

O bom ambiente era uma constante e os senhores que se seguiram não inverteram a tendência. Os Emerging Chaos podem-se ter apresentado a falar em inglês – o frontman Jim Gäddnäs é finlandês – mas a banda está sediada no barreiro e é dona de uma sonoridade bem lusitana dentro do thrash/death metal. O principal foco da actuação foi o álbum de estreia lançado no ano passado, “The Roots Of Lunacy”. “Captain Lunacy” foi o tema de abertura que estabeleceu o mote para o que viria a ser o resto de uma actuação que teve claque estrangeira (finlandesa, supomos nós). Os Emerging Chaos foram uma boa surpresa e o álbum que no ano passado nos passou despercebido é de excelente qualidade a avaliar pela potência de temas como “The Remains” e “Mutilated”. Sem dúvida uma banda a conhecer.

Já sem necessidade de apresentação, todavia, eram os Karbonsoul, um nome que também é recorrente nos melhores cartazes nacionais e este não seria excepção. Com um som pujante de guitarra por parte de Mário Rodrigues, os Karbonsoul são outro bom exemplo de à vontade e eficácia em cima de um palco. Algo que também ajuda a que essa sensação fique é esse furacão em forma de frontwoman que é Muffy. Apesar da carreira discográfica ainda ser curta e de passarmos pelos incontornáveis “Decadent Empire” e “Construction Through Destruction”, tivemos direito a vislumbrar o futuro (que esperamos que seja próximo) da banda com um excelente “Post Lux Tenebras”. Esperamos por mais capítulos dos Karbonsoul com expectativa

A noite avançava e as atenções passaram para a primeira das duas bandas cabeça-de-cartaz, os Invoke que festejavam o lançamento do álbum “Deo Ignoteo”, o seu segundo trabalho de originais. O início deu-se com uma tenebrosa intro que marcou o mote para o resto do concerto. As trevas desciam perante um RCA muito bem composto e o ambiente era mais que propício ao black/death metal da banda lusitana. Apostando em apenas temas novos, cantados em português, esta nova fase da banda não deixa de ser entusiasmante e, de certa forma refrescante. As reacções do público não davam margem para enganos mesmo que para muitos esta primeira vez que estavam em contacto com temas como “Irmandade de Guerra” e “Ira”.

Presença em palco bastante forte e teatral, o que resulta num espectáculo global perfeito para quem gosta de black/death metal com algumas tendências melódicas. No entanto teremos que salientar o trabalho na secção rítmica por parte de Anomisity (de seu verdadeiro nome Pedro Correia que tal como Pedro Dias também faz parte dos Gwydion) na bateria com detalhes técnicos verdadeiramente deliciosos que só enriquecem ainda mais a música dos Invoke. Estando a atenção da banda totalmente voltada para o trabalho que estavam a apresentar, a reacção do público esteve à altura e de acordo com a nossa opinião: este é um grande trabalho.

A terminar a noite já longa, só faltavam os My Enchantment, a lutadora banda do Barreiro que finalmente consegue editar o seu segundo álbum de originais, catorze anos após a sua estreia: “Saligia”. O nosso primeiro contacto com o álbum foi precisamente ao vivo e ainda bem que assim foi já que deu-nos um impacto mais orgânico e até visceral com estes novos temas. Tal como com Invoke, criou-se um ambiente propício à teatralidade musical que se iria experienciar. Como tem sido hábito nesta segunda fase da banda, os My Enchantment entraram em palco mascarados e prontos a fazer mergulhar um RCA resistente ao cansaço e às horas tardias.

Sem comunicação com o público, houve uma imersão total nos novos temas que nos pareceram ideais para serem absorvidos dessa forma: sem interrupções. Algo que tem que ser mencionado é que o som estava perfeitamente equilibrado e, principalmente, bem forte, o que só fez com que a impressão positiva para com os novos temas fosse maior. A cada fim de tema, o ambiente solene só era quebrado pelos aplausos que vinham por parte do público. Depois do disco ter sido todo tocado, a banda ainda sairia do palco para voltar já sem as máscaras, tocar dois temas do seu passado, sendo que “The Fallen” tem que ser referido como um temazorro que contagiou todo o público do RCA, recebido com euforia.

No final, os My Enchantment e os membros ainda presentes das outras bandas reuniram-se em palco para agradecer a todos pela presença (algo que todas as anteriores bandas fizeram mais que uma vez) naquele que foi um marco da história da banda, um segundo álbum que, segundo os próprios My Enchantment através do seu baterista Ricardo Oliveira visivelmente emocionado, teve um parto extremamente difícil. E não deixa de fazer pensar… o nosso underground que luta contra o ostracismo, contra a discriminação mas que também se descrimina a ele próprio e também faz com que as dificuldades externas se acumulem a dificuldades inesperadamente internas à cena.

E depois temos eventos como este onde cinco bandas algo diferentes entre si, se unem em torno de uma festa, de um objecto. O underground é mais do que o nosso próprio umbigo, as nossas vitórias e as nossas derrotas. Porque as vitórias dos que estão ao nosso lado também são as nossas próprias. Nós que gostamos de metal e que queremos que a cena se mantenha viva e saudável. Mais do que simples apresentação de dois álbuns de originais por parte duas bandas distintas com o apoio de outras três bandas, o RCA viveu no dia 13 uma verdadeira partilha de sangue, suor e lágrimas onde todos lutaram pelo mesmo. E assim triunfaram.

Texto por Fernando Ferreira
Fotos por Sónia Ferreira
Agradecimentos My Enchantment, Invoke, Sérgio Páscoa e Muffy

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