WOM Report – River Stone Fest VII @ Rio de Moinhos, Penafiel – 23.09.23
A sétima edição do River Stone Fest aconteceu a 23 de Setembro e apresentou algumas mudanças que comprovam o empenho da organização no crescimento do evento. A maior – e, pessoalmente, a mais importante para mim – foi a aplicação de uma cobertura no espaço em frente ao palco. Acabou por não chover, mas protegeu-nos do sol da tarde e da orvalhada da noite que vem da barragem e consegue ser bastante desconfortável. E em palco, ao fundo, um videowall passava, nos intervalos entre as bandas, after-movies de todas as edições do festival e durante os concertos mostrava o logótipo de quem estava a tocar; não é preciso backdrops e, quem sabe, em edições futuras, bandas que tenham vídeos para dar outro requinte visual aos seus espectáculos… fica a dica.
Este ano os horários foram cumpridos quase com a precisão de um relógio suiço, e os Blind The Eye subiram ao palco apenas um ou dois minutos depois das previstas 16:25. A apresentar o seu segundo álbum “The Lion Of Lions”, editado há um ano, imprimiram muita garra na sua prestação; mas sofreram o “estigma da primeira banda”, e por mais bem composto e desempenhado o death metal melódico da banda de Santa Maria da Feira, não havia muita gente a apreciá-lo. Rui Antunes bem disse que “queria ver toda a gente a mexer” por mais do que uma vez, e ainda que merecesse ver esse pedido respondido, apenas as cabeças e as mãos – em aplauso – mostraram movimento. Bem, tenho de falar numa criança (sou péssima a adivinhar idades, por isso nem vou tentar) que desatava a correr sempre que o vocalista pedia ao público para mexer… Em todo o caso, num ambiente semelhante mas a outra hora, temas como “The Lion Of Lions” ou “At Vesta’s Fire” terão certamente um feedback mais apropriado.
Vindos do País Basco, os Evil Seeds foram a única banda internacional do cartaz deste ano. Heavy metal clássico, em que o registo vocal mais agudo de Roma – e postura, aliás – aproxima-se do de Ripper Owens (porque o Rob Halford é incomparável). Uma cover da “Electric Eye” dos Judas Priest foi tocada, como que a comprovar esta influência, mas o resto do alinhamento foi de promoção ao seu último trabalho, já de 2020, “Theory Of Fear”. Também eles não tiveram uma reacção em massa, mas uns braços no ar e umas cabeças a abanar com vontade deram as boas-vindas a “Stronger” ou “Inside The Vipers’ Nest”.
O festival começou “a sério” a partir das sete com a entrada em palco dos Wanderer. A sonoridade deles também é clássica mas da costela mais speed do heavy tradicional, e com imagem a condizer. Além disso, já têm uma reputação considerável por cá e um grupo sólido de fãs que encheu logo as primeiras filas. E, ainda antes do concerto chegar a meio, foram buscar os primeiros fardos de palha. Desde a edição de 2018 que tornou-se tradição desfazer os fardos de palha espalhados pelo recinto e lançar molhos ao ar – ou aos outros festivaleiros. Foi algo por que perguntámos quando chegámos, tendo sido dito que “estavam guardados para mais tarde, para não começar logo a confusão” (embora o mesmo puto que andou a correr ao som de Blind The Eye já tivesse começado a reunir munições logo naquela primeira banda…). Um tremendo concerto que não desiludiu quem esperava pelos autores de “Oblivion” e “Force Of Ancient Steel” e que conquistou quem não os conhecia.
Com o cancelamento dos Sacred Sin, os Dark Oath foram chamados a substituí-los sendo, se não estou em erro, a primeira banda (além dos organizadores Godark, claro) a participar em mais do que uma edição do festival. “When Fire Engulfs The Earth” continua a ser o único longa-duração à data, mas Sara Leitão informou que aquela seria a última vez que algumas das músicas seriam tocadas, pois estavam a tratar do novo álbum. “Estejam atentos”, mensagem muito bem recebida pelo público, tal como todo o alinhamento, embora “The Tree Of Life” and “When The Fire Engulfs The Earth” tenha tido ovações ligeiramente mais sonoras.
Os Revolution Within eram os cabeças-de-cartaz, mas a recepção que os Analepsy tiveram foi digna desse “título”, não deixando dúvidas que eram das bandas mais aguardadas. Calin Paraschiv está atrás da guitarra e da voz há dois anos, sendo compreensível que ainda não tenha tido tempo de aprender grande português, mas não houve qualquer falha de comunicação, e não me refiro ao cliché da “música ser linguagem universal”: a admiração e afeição do público pelos Analepsy foi bem entendida pelo romeno, assim como a gratidão deste foi clara. Desde os antiguinhos “Genetic Mutations” e “Viral Disease” aos mais recentes “Locus Of Dawning” e “Edge Of Chaos”, tudo serviu de catalisador ao mosh e ao headbanging, acompanhados por berros de euforia – e palha a voar.
Parece que quantos mais anos passam, maior é o frenesim dos Devil In Me: foi provavelmente a banda que o palco mais sentiu em todos os seus cantos. Uma intro reggae (“Welcome To Jamrock” de Damian Marley) teve o efeito calmante antes da tempestade do hardcore irreverente da banda algarvia. “On The Grind” é o mais recente trabalho, pelo que embora tenha saído já em 2021, temas como “Will” ou “War” podem ser consideradas novas. A grade tinha alguns fãs – homens – quase a cair para dentro do fosso tal era a força com que se debruçavam a esbracejar, o que levou Poli Correia a perguntar onde andavam as “mulheres metaleiras”; após a sonora resposta feminia, acrescentou que todos os géneros eram bem-vindos, “cada um metia o que queria onde queria”, provocando riso geral. Um concerto excelente que só pecou pela curta duração – contava (e pelos vistos a organização também) com uma actuação de uma hora, mas foram apenas quarenta minutos. Valeu cada minuto, claro, especialmente quando terminaram com “Knowledge Is Power” e “Soul Rebel” (“se conhecerem esta, cantem connosco”; eu cantei).
O thrash dos Revolution Within nunca desiludiu e aquela noite não foi excepção; se Raça não tivesse confessado que, cerca de meia hora antes de entrar em palco, não estava a sentir-se bem, ninguém nunca teria desconfiado – além da garra habitual, a força com que atirou um fardo de palha como sinal de partida da wall of death em “Pure Hate” enganou bem essa má disposição. “Levantem a palha” em vez de “levantem o pó” tornou-se o novo lema, num festival que Raça elogiou bastante pela organização, local e ambiente. “From Madness To Sanity”, “Silence” e “Surrounded By Evil” foram alguns dos temas que causaram euforia – ou não fossem eles praticamente obrigatórios no alinhamento da banda de Santa Maria da Feira.
Para o fim ficou o “punk’n’roll xunga” dos Zurrapa, em estilo de after-party. Mas dado que a invasão de palco por parte do público aconteceu ainda durante o soundcheck, será… before-party? “Putas, Vinho e Rock’N’Roll”, “Rosa Grilo É Inocente”, “Afogado em Cerveja” – toda uma banda sonora de borga, de um trio que pode ser difícil de levar a sério mas que, na verdade, reúne a essência da sonoridade e da atitude punk tanto em estúdio como ao vivo.
Texto e fotos Renata Lino
Agradecimentos River Stone Fest
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