WOM Report – The Sisters Of Mercy, The Virginmarys @ Hard Club, Porto – 27.10.23
Apesar do Hard Club assegurar que a banda já se encontrava no local e tudo “estava a correr dentro da normalidade”, a insegurança era muita – afinal, na noite anterior, os The Sisters Of Mercy também estavam no LAV até Andrew Eldritch não estar, tendo de ser transportado de ambulância e dando todo um novo significado à expressão “cancelamento de última hora”. Mas o público, que esgotou a sala, acreditou até ao fim e praticamente todos chegaram a tempo de ver os The Virginmarys de início. Bem, se calhar estou a assumir, erradamente, que não foi propositado; afinal, o duo britânico já tem 17 anos de carreira. E não foi possível avaliar pela reacção eufórica que tiveram, logo desde a abertura “The Meds”, uma vez que o rock apunkalhado que tocam é interpretado com semelhante garra natural que mesmo quem não os conhece – como eu – é facilmente contagiado e sente-se como se estivesse perante a sua banda preferida. Nem o facto de não terem um baixista com eles em palco me impediu de reconhecer a grandeza da sua sonoridade e deixar-me levar pela energia que esta espalha. Fecharam com “Bang Bang Bang” e tivemos oportunidade de ouvir o mais recente single “Where Are You Now?”.
Ainda a introdução de “Doctor Jeep” não tinha entoado e já o Hard Club entrava em delírio com a expectativa. Se já foste a um concerto de The Sisters Of Mercy ou conheces o seu historial, então provavelmente essa expectativa foi até superada. Caso contrário, és capaz de ter sofrido uma desilusão. Nós vamos a concertos para viver a música que ouvimos em casa, para estabelecer um tipo de relação/empatia com a banda que a interpreta – excepto com Sisters. Ou pelo menos com Andrew; Ben Christo e Kai fartaram-se de fazer poses, sorrir e puxar pelo público. Num concerto de Sisters vamos para ouvir e cantar as músicas que marcaram uma geração com um monte de desconhecidos que lá foi fazer o mesmo. Andrew não fez qualquer tipo de birra, nem pareceu estar a “fazer o frete”, pelo que, pessoalmente, as referidas expectativas foram superadas. E pela maneira como o histerismo continuou ao longo do concerto, atrevo-me a dizer que a maior parte sentiu o mesmo.
Parece que alguém começou o rumor de que Andrew terá feito playback. Sinceramente, não me apercebi. Mas dada a luz escura, característica dos seus espectáculos, e estar embrenhada em memórias, não estive propriamente a ver se os lábios do vocalista estavam sincronizados com o som. Por outro lado, aquele timbre dele é natural, ele não tem de se esforçar para consegui-lo, e como não anda aos saltos nem comunica com o público (houve um outro “thank you” mas não tenho a certeza se proferido por ele, dada a sua reputação!), não é difícil manter o fôlego para, aos 64 anos, continuar a cantar como se tivesse 21.
Partindo do princípio que os alinhamentos partilhados na Internet estão correctos, houve algumas ligeiras alterações em comparação com concertos anteriores (e já estes diferiam nalguns temas), mas o encore foi, e tem sido, sempre o mesmo “power trio”: “Lucretia My Reflection”, “Temple Of Love” e “This Corrosion”. A minha veia gótica deixou o Hard Club a latejar de contentamento.
Texto e Fotos por Renata Lino
Agradecimentos At The Rollercoaster