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WOM Report – Vagos Metal Fest – Dia 1 @ Quinta Do Ega, Vagos – 31.07.25

Como manda a tradição, no verão a comunidade metaleira rumou em direção à bonita zona de Aveiro, e à vila de Vagos para mais um Vagos Metal Fest. Este ano o festival apresentou-se num formato expandido, tendo adicionado um dia extra, subindo para quatro os dias de festival, com um total de 45 bandas divididas entre dois palcos, o palco principal “Vagos Metal Fest”, e o palco “Illegal”. Com a recente morte de uma das figuras mais icónicas e importantes do Metal, Ozzy Osbourne, seria de esperar que houvesse algum tipo de homenagem. Ao longo dos vários dias foi aparecendo nos ecrãs dos palcos um gráfico de agradecimento ao Príncipe das Trevas, e houve também constante presença de temas do Ozzy e dos Black Sabbath na música que ia passando entre concertos.

A edição de 2025 teria o seu pontapé de saída com a entrada no palco Illegal dos italianos Even Flow. A tocar Metal Progressivo, com o foco mais no lado melódico do que numa componente tecnicista, a banda entrou forte com “Secret Prayer” e “Come to Life” usando também a oportunidade para apresentar o trabalho mais recente, “Rinascimento” com temas como “Winter Sun” ou “In The Night”. Como é frequente, o primeiro concerto do dia (especialmente com muito calor), faz com que não exista muito público, mas os bravos que se foram concentrando junto do palco, não se mostraram indiferentes e deram bastante apoio.
É de destacar também a alteração de vocalista que ocorreu este ano com a saída de Marco Pastorino e a entrada de Emma Elvaston, com a voz feminina a encaixar bastante bem na sonoridade dos Even Flow.

Com os Vector of Underground as águas começaram a ser agitadas. O vocalista Vladislav Lobanov apresentou a banda (e a falar em bom português) como sendo do Cazaquistão, trouxeram uma mistura de Nu-Metal e Metalcore repleta de elementos extremos e uns toques de sonoridades do leste europeu. Cantando maioritariamente em inglês e com algumas músicas em russo interpretaram temas como “Mishka!”, e “The Best Metal Band”, bem como “Your Boyfriend Sucks”, e “Rock’n’roll Party”, esta última dedicada ao saudoso Lemmy Kilmister. Os Vector of Underground são uma banda que aprecia o universo do surf, do skate e das festas, e isso é notório na atitude da banda. Em Vagos trouxeram os primeiros (de muitos) momentos de circle pit.

Seguiam-se os italianos Blax que depois de uma intro com piano entraram para tocar a música homónima que abre “Certesia” o segundo álbum de originais saído este ano. Com uma sonoridade entre o Glam e o Gótico, a banda procurou unir também visualmente estes dois mundos. Por temas como “Mr Graceful”, “Doctor Love” ou “Our Brain Conditions” o recinto ficou dominado pela melodia de riffs carregados de rock and roll e que ficam no ouvido. Tocando para uma audiência que vinha a crescer, e com o vocalista Giampaolo Polidoro (de pseudônimo Blax), a manter-se interactivo, a banda viria a terminar com “Shady Life”.

A partir daqui a tarde voltaria a subir de intensidade com o colectivo português Momentos Extremos de Obsessão. Hardcore carregado de elementos de metal extremo, onde as vocalizações em portugues pendiam entre o tom áspero e zangado, com momentos de gutural. O single “Fome” abriu o concerto e trouxe bem para a frente o tom de comentário social que a banda coloca na sua música. Seguir-se-iam temas como “Caminho”, “Guerra” e “Vício” com um número crescente de festivaleiros em Vagos a entregarem-se ao crowdsurf e ao circle pit. Para terminar ficaria a música “Diabo a Quatro”.

Oriundos da região de Lisboa, os Undersave trouxeram o death metal ao palco Illegal. “Peacefully Floating in Prosperous Abyss” foi o tema escolhido para iniciar uma sessão arrebatadora de Death metal à antiga, quase como um regresso ao início da década de 90. Não sendo uma banda muito efusiva, não deixou de gerar o caos entre o público com muito movimento no circle pit, enquanto do palco vinha uma sonoridade suja, vil e ao mesmo tempo afiada como um bisturi, o que era mesmo o que se queria da banda. A primeira passagem por Vagos foi também uma oportunidade para ouvir dois temas do novo álbum (ainda por editar) “Merged in Abstract Perdition”, que parecem mostrar uma banda a aprimorar ainda mais o seu som.

Quem já não está na sua primeira passagem pelo festival são os alentejanos Ho-Chi-Minh, que por esta ocasião aceleraram logo o passo e acabaram por iniciar o concerto uns minutos antes do previsto. Quem os conhece sabe também que essa “pressa” e energia estão bem presentes em palco especialmente pela mão do vocalista João Ramos, um verdadeiro espalha-brasas, que é sempre muito comunicativo com o público. “Break It” e “Crawling” arrancaram com o concerto, onde mais uma vez a junção entre Nu-Metal e Industrial colocou toda a gente a mexer. Depois de temas como “Scars” e “Alive”, foi na incontornável “Way of Retain” que João Ramos saiu do palco e se juntou ao público para uma sessão de crowdsurf, ficando parte do tema a cantar junto dos fãs. No fim foi com “Ashes” que a banda se despediu, deixando uma mensagem de unidade e lembrando que “o metal é indestrutível”.

Se a primeira sessão de death metal nacional foi comparada como sendo um bisturi, para segunda vinda pela mão dos Bleeding Display, só poderíamos evocar a imagem de alguém com uma marreta. A completar 25 anos de carreira este ano, a banda trouxe um manancial de pancada sonora, com a temática dos serial killers sempre presente em temas como “Nightstalker”, “Basement Torture Killing”, “Green River Killing” ou “213”. O público que tinha vindo a ficar bem quente ao longo dos últimos concertos animava o festival com muito movimento. Como é tradição o vocalista Sérgio Afonso apresentou-se em palco em tronco nu e coberto de “sangue” não parando um momento e mostrando sempre grande intensidade em palco, tal como o som que a banda produzia. A terminar ficaria a estocada final com “Remains to Be Seen”.

Depois de em 2019, os Candlemass darem um excelente concerto no Vagos Metal Fest abençoados pela chuva, chegava a hora de regressarem à Quinta do Ega. Desta vez, as lendas suecas do Doom Metal vinham para celebrar 40 anos de carreira com uma setlist especial totalmente dedicada à era dos anos 80 com foco em trabalhos icónicos como “Epicus Doomicus Metallicus” e “Nightfall”. Esperava-se uma “doom party” (expressão de Leif) épica, e começou logo com um dos temas mais aguardados “Bewitched”. Seguiu-se perto de uma hora de clássico atrás de clássico, de “Dark Are the Veils of Death”, a “Demon’s Gate”, com “Mirror Mirror” e “Dark Reflections” a recordar respectivamente “Ancient Dreams” e “Tales of Creation”. Por entre músicas iam existindo algumas pausas que Johan Längqvist referiu ser devido à idade da banda, mas o facto é que os Candlemass mostraram-se cheios de vida e a boa qualidade de som permitiu sentir todo o poder e peso dos mestres do Doom. O público compareceu e uma plateia bem composta mostrou muito apoio gritando várias vezes o nome da banda sueca em coro. Para terminar dois momentos grandiosos com “A Sorcerer’s Pledge” e “The Well of Souls” e por fim a soturna “Solitude” sempre cantada por Längqvist com sentimento. Um dos melhores concertos desta edição do festival.

O concerto que se seguiu era também de uma banda marcante no estilo que toca e envolvia uma celebração de 40 anos, neste caso sobre a edição do álbum de estreia. Refiro-me aos Destruction e à edição de “Infernal Overkill”, que seria tocado na totalidade na primeira parte do concerto. Com a sinistra “Imperial March” de John Williams, Schmier e companhia entraram em palco para lançar “Invincible Force”, e dar inicio a uma celebração do thrash old school onde não faltaram temas como a inevitável “Bestial Invasion” que costuma encerrar os concertos da banda, “Tormentor” e “Death Trap”, e houve oportunidade de ouvir alguns menos tocados como “The Ritual” e “Black Death”. Por esta altura Schmier é o único membro original da banda, e se é verdadeiramente uma pena não poder ter Mike na guitarra para este marco, a verdade é que o atual lineup mostra-se extremamente sólido, e os clássicos funcionaram muito bem ao vivo. Mais uma vez a boa qualidade de som presente ao longo do festival (com poucas excepções), permitiu gozar da melhor forma a velocidade e o peso do thrash do colectivo germanico.Numa segunda parte do concerto continuaram os clássicos impossíveis de deixar de fora como “Mad Butcher” e “Curse the Gods”, e uma breve passagem pelo novo trabalho como “No Kings – No Masters” e “Destruction”. Como não podia deixar de ser, o moshpit esteve bem vivo ao longo do concerto, com Schmier a dizer que tinha sido o melhor de todo o verão e espicaçando a questionar se seria batido no próximo concerto da banda durante o Wacken. Para despedida deixaram “Thrash Till Death” uma música para manter o moche bem aceso.

Nesta fase da noite era hora para os primeiros cabeças de cartaz do ano, os P.O.D, que não tocavam em Portugal há 25 anos. Fazendo parte do conjunto de bandas de Nu-Metal que na segunda metade dos anos 90 e no início dos 2000s foram disruptivas a levaram o Metal novamente à fama mainstream, o passar dos anos fez com que essa música traga consigo uma boa dose de nostalgia para toda uma geração de metaleiros. Esse sentimento fez-se seguramente sentir logo no início do concerto com “Boom”, “Satellite” e “Rock the Party”, numa entrada energética, e pôs o recinto a mexer. Vagos soube receber e era palpável o entusiasmo à volta da banda californiana, com os temas mais antigos frequentemente a ter muitas vozes a juntar à de Sonny Sandoval. A atitude da banda foi imparável a noite toda, mantendo a energia e entrega sempre em alta, com o vocalista Sandoval e o guitarrista Marcos Curiel a terem vários momentos para falar e interagir com o público de uma forma bastante simpática e próxima.  Os P.O.D têm sido uma banda que nunca parou ao longo destes anos, e além de nostalgia houve também espaço a música mais recente, em particular o álbum “Veritas” do ano passado. Nesta fase viriam-se a destacar músicas como um dos singles mais recentes “Drop” ou “Soundboy Killa”. Tem-se notado nos últimos anos um retomar da popularidade do Nu-Metal em particular pelos clássicos vindos do auge do estilo. Em Vagos isso era bem visível pela reação a temas obrigatórios como “Youth of the Nation” e a explosiva “Alive” que encerraram o concerto com uma comunhão entre o público e a banda americana.

O thrash voltaria a Vagos neste primeiro dia pela mão dos Gama Bomb, banda muito inspirada pelo thrash dos anos 80, com um uma pitada de punk. Com uma temática frequentemente relacionada com filmes de ficção científica ou terror, os irlandeses têm sempre uma postura relaxada, extrovertida e não se levam muito a sério, são uma garantia de passar um bom bocado. “Slam Anthem” deu início à festança, com o vocalista Philly Byrne no coração do furacão, seja a dizer piadas, a mostrar os seus dotes com as matracas em “Ninja Untouchables/Untouchable Glory” ou a “viajar” algumas vezes do palco até junto ao público, seja para cantar com eles ou dar-lhes cerveja para beber em “Hell Trucker”. Ao longo do concerto ficou visto que mesmo ao fim da noite ainda existia energia para gastar, e não faltou moshpit e crowdsurf com Byrne a agradecer o trabalho dos seguranças. Pelo meio da festa deixaram ainda uma mensagem anti-fascista com uma cover a abrir de “If I Should Fall from Grace with God” dos The Pogues.

O primeiro dia seria também o dia mais longo e trazia uma banda “extra” comparado com o resto do festival. Para terminar a noite ficou o Goregrind dos franceses Sublime Cadaveric Decomposition. Ainda a contar com público em boa quantidade foram cerca de 40 minutos de descarga de brutalidade onde o destaque seria para o mais recente trabalho “The Macabre Voodoo Messiah of Masochism and Fetishism”. “The Smoke from the Purgatorial Crematorium” que deu início ao concerto, “My Spintria to the Psychopomps” e “The Doom of the Ishtar” foram alguns dos temas tocados enquanto terminava o primeiro dia de festival.

Texto por Filipe Ferreira
Fotos por Filipa Nunes
Agradecimentos Illegal Productions 


 

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