WOM Report – Vagos Metal Fest – Dia 3 @ Quinta Do Ega, Vagos – 02.08.25
O terceiro dia do Vagos Metal Fest começou com os ucranianos Iznutri. Como foi constante durante todo o festival, a posição de primeira banda do dia era sempre algo ingrata pelo muito calor e pelo pouco público, mas mais uma vez algumas dezenas de festivaleiros juntaram-se em frente ao Palco Illegal para mostrar apoio. Focados no último trabalho “Reach the End”, abriram com “The Beast” e o tema título do álbum mostrando uma sonoridade enérgica entre o Hard Rock e o Metal Alternativo. Para “Blood on Your Face” contaram com uma presença feminina em palco que foi dançando entre os músicos aproveitando o groove do tema, e na música seguinte foi animando o concerto a partir do pit. Sem nunca parar de incentivar o público, para a última música do set o vocalista e guitarrista Alex Dugin pediu mesmo uma wall of death. Independentemente do número de pessoas, a wall of death aconteceu e houve até direito a circle pit, prova de que os bravos que a esta hora começavam a festa, estavam com a banda.

Os suíços Nihilo tomaram o palco Vagos Metal Fest para dar a primeira dose de violência sonora do dia. Death Metal brutal e veloz, lançou uma muralha sonora que colocou o público agora bem mais numeroso a levantar muita poeira com circle pit. A passar pelas várias fases da discografia, temas como “Fueled by Suspicion” e “Deceptive World” demonstraram bem a intensidade do som da banda helvética e ajudaram a chamar ainda mais público para junto do palco. A boa qualidade de som permitiu apreciar a boa prestação da banda, que também mostrou uma grande atitude em palco liderados pelo vocalista Ragulan Vivekananthan, que foi incansável e muito comunicativo. Este não só seria o último concerto da tour para os Nihilo, mas também ao fim de 18 anos na banda, do guitarrista Nils Hugi, algo que a banda fez questão de marcar. A terminar ficariam “Submerged” e “Antichrist”.

Num dia dominado por sonoridades mais extremas e por punk, os italianos Ironwill foram uma proposta do heavy metal mais tradicional. Tendo já usado formações com voz feminina, ou com um dueto, apresentam-se agora apenas com voz masculina dando também um tom diferente em relação aos trabalhos de estúdio. De resto ao vivo a banda acaba por soar também mais pesada e orgânica, o que tornou a experiência mais interessante. O guitarrista e mentor do projecto Ironwill, foi comunicando e puxando pelo público, com a banda a ter vários momentos divertidos de interacção entre os vários membros. Passando por trabalhos anteriores tocaram temas como “Infinity” do primeiro álbum “Jonathan’s Journey” (com pelo menos duas cópias em CD a serem lançadas para o público). Aproveitaram também para tocar algumas músicas novas prestes a serem editadas como “Falling”, que foi dedicada a Ozzy Osbourne, “The Ship”, e “Not a Prison” tocada pela primeira vez ao vivo.

Seguiam-se os austríacos VxPxOxAxAxWxAxMxC. Se adicionar que tocam Goregrind e que o nome é uma sigla para “Vaginal Penetration of an Amelus with a Musty Carrot”, fica uma visão mais clara do que se seguiria. Com elementos vestidos com aventais manchados de sangue, e sem baterista, usando faixas pré gravadas para esse efeito, o colectivo proporcionou a primeira de várias festas Grind vividas ao longo do festival, bem como um dos concertos mais bizarros. Entre a esperada brutalidade caótica do grindcore, seria difícil caracterizar as vocalizações como gutural ou mesmo pig squeal, é quase como um efeito sonoro que torna difícil imaginar que seja um ser humano a reproduzi-lo. Entre temas como “Slushy Baby”, “Embryos Orgasmen” ou a temática rural em “Lacerate some Farmers with a Harvester” lançou-se a animação entre o público. O vocalista Franz Stockreiter considerando que atividades como wall of death ou circle pit estão desatualizados trouxe alguma inovação a Vagos, como a blind wall of death (toda a gente a tapar a cara com a t-shirt) ou o domination circle pit (com as mulheres a “montar” os homens). Caos, humor e temática gore, num momento peculiar, que claramente deixou o público divertido.

Vindos de Itália, os Furor Gallico foram os únicos representantes do Folk Metal na edição deste ano do Vagos Metal Fest. A apresentar o mais recente “Future to Come” lançado o ano passado, foi com “Call the Wind” e “Among the Ashes”, começaram o concerto. Foi um bom tema para representar a sonoridade da banda, a melodia com o violino e flauta, e os elementos extremos que a banda adiciona, em particular a voz gutural de Davide Cicalese que tem o seu contraponto na voz feminina “limpa” de Claudia Beltrame. O Folk dos Furor Gallico tem um tom mais negro intenso e épico do que de festa, mas o violino e especialmente a flauta e o bouzouki adicionam uma dimenção mais leve e melódica que funciona muito bem. Optando por começar com o novo material, o concerto foi passando pela restante discografia, com um momento mais tranquilo na bela balada “Canto D’Inverno”, antes de encerrar com “The Phoenix” para a qual a banda pediu uma wall of death. Um bom concerto dos Furor Gallico, e uma pausa para um estilo que mantendo o peso adicionou um tom diferente, e agradável ao festival.

Neste terceiro dia o Punk estaria em destaque, e a “inaugurar” o estilo no festival teríamos uma grande instituição nacional, os míticos Mata-Ratos. Ainda antes do concerto ouvia-se muita gente a gritar o nome da banda, entretanto silenciados com soar das primeiras notas de “Raça Humana”. Punk sem tretas, directo e tocado com uma enorme energia que nunca amainou todo o concerto. O vocalista Miguel Newton foi a figura central nessa entrega, o tom agressivo e zangado com que vai cantando a dar uma vivacidade e força enorme ao som dos Mata-Ratos. O caos estava lançado e o circle pit esteve bem vivo ao longo de temas como “Menina da rua”, “Leis de Merda”, “Napalm na Rua Sésamo”, “C.C.M.” ou “Besta Humana”. O público, numeroso, acarinhou desde o primeiro segundo a banda, e a cantar os clássicos, ajudou a um grande ambiente.

Veteranos do Vagos Metal Fest que já por duas vezes encerraram com festas épicas, os Serrabulho voltaram a gerar um serrabulho no festival. Desta vez durante a tarde, o que não deixou de ser diferente. Quem já os viu vem preparado para um caos divertido, quem não os viu acaba sempre por ter uma boa surpresa. Por entre festa da espuma que cobriu metade da audiência ao longo do concerto, boias, bolas da praia, e um palco onde o Capitão Adega vai dando um ar da sua graça por entre fadas ou um varredor da rua, os Serrabulho vão descarregando o seu grindcore e ganhando forças na confusão como se fosse um super-poder.
O vocalista Carlos Guerra foi-se envolvendo de corpo e alma saltando frequentemente para junto do público, e para o meio dele, brandindo o seu característico microfone/pá do lixo. Não faltou o tradicional ass of death, o circle pit a volta do recinto, ou mesmo o circle pit do “amor entre casais”, porque como sabemos esta é uma banda romântica. Clássicos habituais como “Sweet Grind O’Mine” e “Dingleberry Ice Cream”, temas recentes como “Piss or Love”, e o lado poliglota da banda em “Pentilhoni nu Culhoni” foram fazendo desta prestação mais uma festa para os anais do Vagos.

Uma das bandas porta estandarte do punk nos anos 80, os The Exploited vieram a Vagos passar por mais de 40 anos de música a mostrar o dedo do meio ao poder. Ao entrar com “Let’s Start a War (Said Maggie One Day)” Wattie Buchan e companhia trouxeram uma hora de punk clássico, sem concessões, inconformado e repleto de fúria onde os temas sociais e o ativismo anti-guerra têm papel central. Numa altura em que Trump andava pela Escócia de onde a banda é originária, Buchan cantou a melodia do hino americano de forma jocosa até terminar em “fuck’em”, que fica sempre melhor com sotaque escoces. Esse episódio e a dedicatória de “The Massacre” ao povo da Palestina são exemplos do ambiente vivido com Wattie Buchan aos 68 anos tão ácido e interventivo como sempre, mantendo uma grande dose de energia e vivacidade. Quem pensava que este ia ser um concerto morno enganou-se bem. O público mostrava apoio, gritando o nome da banda algumas vezes, e mantendo um grande circle pit e muito crowd surf. Com uma setlist muito distribuída entre a história dos The Exploited, o histórico “Punk’s Not Dead” não deixou de ser o trabalho central por temas como “Army Life”, “Cop Cars” e o final com o tema título e “Sex & Violence” onde o público foi chamado a “invadir” o palco. Não poderia existir final de concerto mais apropriado.

A cena punk continuaria representada no concerto seguinte com os Black Flag. A banda de culto e pioneira do hardcore, continua a ter o guitarrista Greg Ginn como mentor e único membro constante. Acabaria por surpreender este ano ao anunciar uma total mudança de line up com músicos relativamente desconhecidos, bastante jovens e com Max Zanelly na voz, a primeira mulher como vocalista da banda. “Can’t Decide” e “Nervous Breakdown” deram início a um concerto repleto de clássicos do hardcore dos anos 80 como “Black Coffee”, “Six Pack”, ou “Gimmie Gimmie Gimmie”. A nova formação causou alguma surpresa e claramente para fãs mais antigos da banda necessitou de algum encaixe. No entanto, a banda mostrou-se alinhada ao vivo com a vocalista Max Zanelly a dar tudo em palco, na forma como se movimentava e dava intensidade e energia às vocalizações. Entre músicas mostrou-se sempre muito simpática e a procurar uma ligação com o público, acabando a falar português com o público. Para terminar dois grandes momentos com a eterna “Rise Above”, e a cover de “Louie Louie” de Richard Berry.

A encabeçar este terceiro dia estariam os Mayhem, uma das primeiras bandas a ser anunciada (ainda durante a edição do ano passado), e um dos maiores pontos de interesse do festival, nem que fosse pelo estatuto quase mítico da banda. A história do início dos Mayhem até ao lançamento de “De Mysteriis Dom Sathanas” é bem conhecida, já tendo originado desde livros até filmes. É algo que os Mayhem abraçaram, e cultivaram como parte da própria lenda, e gera um determinado ambiente de perigo e mistério. Passados mais de 40 anos da formação da banda e 30 do lançamento de “De Mysteriis Dom Sathanas”, os Mayhem trouxeram a celebração da sua história a Vagos. Ao longo do concerto veríamos partes dessa história a passar no ecrã em palco, e foi um desses momentos a servir de introdução, até uma densa luz vermelha se abater sob o palco e a banda surgir para começar a parte musical da viagem em que iríamos embarcar. Começando com “Malum” do álbum mais recente “Daemon”, este seria um caminhar atrás no tempo através da discografia. “Esoteric Warfare” seria representada pela desconcertante “Milab”. Da era “Ordo ad Chao”, foi usada “Illuminate Eliminate”, um tema longo e com momentos mais ambientais, onde no ecrã iam sendo projectadas imagens de morte e violência.

Em palco Attila Csihar representava uma figura ritualística enquanto o resto da banda praticava um género de distanciamento frio como parte do ambiente do concerto. Mais um breve interlúdio histórico em vídeo levaria Attila a mudar de guarda roupa para algo mais militar entrando na era de “Chimera” com o riff pesado do tema título. Ainda nesta sequência temas como “Crystalized Pain in Deconstruction” e “Ancient Skin” representaram respectivamente “Grand Declaration of War” e o EP “Wolf’s Lair Abyss”. Chegaríamos assim ao culminar da noite, com mais um vídeo onde pela voz de Euronymous foi explicado o conceito e visão da banda, onde o momento que surgiu Dead no ecrã foi marcado por celebração do público. As últimas palavras do vídeo “Não somos pessoas normais, nós veneramos a morte” serviriam de mote para a banda surgir de novo em palco encapuzada e tocar temas de “De Mysteriis Dom Sathanas”, começando por “Freezing Moon” e com passagens por “Life Eternal”, o tema título e “Funeral Fog”. Por esta altura já com o tempo esgotado de concerto, a banda acabaria ainda por voltar ao palco para um final com “Deathcrush” e “Pure Fucking Armageddon”. Uma verdadeira viagem pela escuridão neste final de terceiro dia.

Depois de Mayhem ainda ficou no recinto bastante público porque o dia acabaria apenas depois de embarcar no Industrial dos Bizarra Locomotiva. O novo trabalho “Volutabro” seria o foco do concerto com a introdução “Vendaval Utópico” e “Volúpia” a abrir. Desde o primeiro momento que emanou uma forte energia do palco, potenciado por uma qualidade de som que tornava a música densa e poderosa. O vocalista Rui Sidónio é constantemente uma força da natureza, uma figura imponente e intensa que consegue formar uma grande ligação com o público. Na fantástica “Mortuário”, foi o primeiro momento em que desceu do palco para se juntar a um público completamente rendido. Já em “Ergástulo” saltou para o meio da audiência, num grande momento onde as vozes do público se juntaram a cantar o refrão. Por entre destaques como “Vector Arcano” e “Na Ferida um Verme”, os Bizarra Locomotiva foram dando um dos melhores concertos do festival, que encerraria com chave de ouro com a chamada ao palco de Fernando Ribeiro dos Moonspell para cantar “O Anjo Exilado” e o “Escaravelho”.

Texto por Filipe Ferreira
Fotos por Filipa Nunes
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