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WOM Report – Vagos Metal Fest Dia 3 @ Quinta do Ega, Vagos – 11.08.2018

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Crónica Editorial – Vagos Metal Fest 2018

O terceiro dia começou a mexer mesmo antes de começar. A organização anunciou o cancelamento dos Dagoba devido à greve de controladores de tráfego aéreo em França e consequentemente anunciou também a primeira confirmação para a edição de 2019 ficando já a banda francesa como certa – salvo algum imprevisto – para o próximo ano. Devido a este facto, os horários foram mexidos e o início previsto para as 15h:30 passaria para as 16h.

E assim foi, às 16h subiram ao palco Stairway os luxamburguenses Lost In Pain cujo frontman Hugo Nogueira Centeno é português e que estava visivelmente extasiado por estar a tocar com a sua banda no maior festival do seu país. Os Lost In Pain foram uma novidade para muitos mas temos a certeza que conseguiram conquistar muitos novos fãs com a sua abordagem bem clássica ao heavy/thrash metal que foi ajudada por um som muito poderoso e que evidenciou toda a técnica por parte da banda, sólida e muito coesa. “Rebellious Protesters” do mais recente trabalho “Gold Hunters” que recomendamos conhecer. Uma grande banda.

Ainda no mesmo palco, e mais ou menos no mesmo género, vinham os espanhóis Wicked Inc. que começaram a conquistar simpatia (ou a serem conquistados) com o público português e que cimentaram ainda mais esse factor com a entrada do baterista com a bandeira de Portugal às costas. A banda de Valência ainda tem apenas um EP editado mas apresentaram alguns temas novos do seu próximo lançamento como “Devil Horns” e “Agony” que evidenciam todo o seu heavy metal tradicional que não teve tão bom som como a banda anterior mas assim proporcionaram um bom espectáculo.

A questão do som tem sido o grande dilema desta edição de 2018 (principalmente no palco Vagos) e, como a esperança é a última a morrer, tinhamos efectivamente a expectativa de que o panorama fosse diferente neste terceiro dia. Não o foi, mas ainda assim foi possível notar uma melhoria. Os Simbiose são A instituição lusitana de punk/crust/grindcore lusitana e como tal já era devida a sua presença em Vagos, mesmo que tenham gozado de um som demasiado cru e de volume elevado. Johnie e companhia deram um ensaio de porrada generalizado com temas como “Modo Regressivo” e “Será Que Há Morte Depois Da Vida” (do último álbum, já de 2015, “Trapped”) ou “Terrorismo De Estado” e “Parados Humilhados Calados”, tendo proporcionado muitas oportunidades para rebuliço de fazer levantar poeira em frente ao palco. A banda lisboeta ainda queria tocar mais mas o horário já tinha sido ultrapassado e a máquina de Vagos não pode ser travada.

Sem descanso para o palco Vagos (e por isso mesmo com a preparação e início a demorar um pouco mais a ter lugar) chegavam os nossos vikings preferidos. Gwydion proporcionou uma grande alegria a todos os seus fãs ao regressarem com “Thirteen” e com uma energia redobrada que pudemos presenciar mais uma vez (depois do concerto de apresentação do último álbum) que infelizmente não foi perfeito devido ao som estupidamente alto (a sério, a ideia é fazer com que a música se ouça bem no Porto e em Lisboa?) que faz com que os muitos detalhes que a música dos Gwydion tem se percam nos décibeis capazes de deitar um prédio abaixo. Mesmo que a correcção tenha sido feita aos poucos, nunca chegou a ficar ao nível que a banda e o público merecem. Isso não impediu o ambiente de festa, os constantes circle pits e uma wall of death enorme (a maior de sempre de Vagos?) que tornaram a actuação memorável e atenuaram a dor de ouvidos. O final veio com a participação de Muffy dos Karbonsoul (que tinha o microfone com um volume tão elevado que abafava tudo o resto) naquela que se assume cada vez mais como um hino, “Thirteen Days” do último álbum. Apesar de tudo, uma grande festa.

O duo suiço Bölzer eram uma das grandes curiosidades para este terceiro dia, a arrastar uma verdadeira multidão para frente do palco do Stairway que foram bafejados pelo seu som remniscente da herança dos seus compatriotas Celtic Frost, um black/death metal que também tem o seu quê de doom e que não deixa de soar bastante fresco no panorama da música extrema. Embora só tenha um álbum de originais (“Hero” de 2016, cujo tema título fez parte do alinhamento), o duo tem argumentos de sobra para proporcionar um excelente espectáculo e assim foi. Embora a componente cénica seja bastante minimalista, o interesse (quase) todo estava no som debitado por temas como “Archer” ou o épico ” I AM III”.

Outra grande atracção, num campo estilístico completamente diferente eram os Sonata Arctica, banda que encontra sempre grande apoio e entusiasmo entre os fãs das sonoridades mais melódicas e tradicionais. O palco Vagos já era sinónimo de apreensão em relação às principais bandas – a exemplo dos dias anteriores – mas felizmente neste terceiro dia não houve quebras de luz embora o som continuasse a estar longe da perfeição. A sonoridade dos finlandeses poderá ser dividida em dois. De um lado o power metal mais clássico do seu início de carreira e que surge ocasionalmente nos trabalhos mais recentes. Do outro, aquele metal melódico a puxar ao sentimento que tanto pode resultar em cheio como passar um pouco ao lado. O alinhamento dos Sonata foi um misto destas duas sensaçãoes antagónicas mas mesmo assim foi conquistando público tema após tema acabando apoteóticamente com as já inevitáveis “Fullmoon”, “Life” (o tema mais memorável do último álbum “The Ninth Hour”) e a já institucional “Vodka”.

Com mais uma guinada estilística, o palco Stairway estava com uma lotação esgotada para outro dos grandes nomes deste terceiro dia: Carach Angren. Depois de duas actuações memoráveis (e esgotadas!) em Portugal no início do ano (em Lisboa e no Porto), esta era uma oportunidade imperdível. As expectativas foram altas e podemos dizer que não foram defraudadas. Aliás, podemos ir mais longe e dizer que até ao momento foi um dos melhores concertos desta edição. Tudo esteve no ponto, tudo esteve perfeito, do som à entrega do público, da energia que era devolvida à banda pelo público à componente cénica que resultou muito bem num palco de festival, transportando o público para os reinos macabros de Seregor e companhia. Foi verdadeira magia que se viveu ao som de malhões como “General Nightmare” e “In De Naam Van De Duivel”. A banda já tem uma legião de fãs no nosso país mas apostamos que conquistaram mais uma série deles em Vagos.

Seria complicado superar um concerto destes mas o espírito de Vagos vive também da forma como há muitas formas de fazer magia – sendo esse o seu poder – e passando do black metal sinfónico para o power metal de tiques progressivos foi um instante e a banda cabeça de cartaz não desiludiu. Nem a electricidade no palco Vagos, embora nesse aspecto, talvez um pouco de energia no volume não fizesse mal nenhum – para quem estava à frente ou a meio, o som estava tão alto que se tornava imperceptível perceber o quer que fosse. Felizmente estávamos recuados o suficiente para apreciar da melhor forma toda a potência da banda de Thomas Youngblood que já tem uma carreira suficientemente longa e rica para se dar ao luxo de deixar de fora alguns clássicos. Ainda assim, o alinhamento escolhido não deixou de ser fantástico, um bom equilíbrio entre todas as diferentes fases da banda norte-americana.

Tommy Karevik não teve uma tarefa fácil em 2012 quando sucedeu ao carismático Roy Khan mas na sua passagem por Vagos ficou provado que a escolha para a sucessão não poderia ter sido mais acertada. Não só na voz (obviamente o requisito mais importante) como na forma como consegue cativar e comunicar com o público. De assinalar também a presença de Lauren Hart (dos Once Human) que ajudou nos coros e nos guturais que foram usados ocasionalmente (e é sempre bom matar saudades de um tema como “March Of The Mephisto”) e que foi uma verdadeira mais valia para a actuação da banda. Tecnicamente irreprensíveis (com oportunidades e com um público rendido, os Kamelot triunfaram com uma actuação (a ser registada para um DVD a ser lançado em breve) que  apesar de ser a mais longa do dia, não deixou de saber a pouco.

O palco Stairway estava em brasa e com um nome como Enslaved, obviamente que o interesse era quase generalizado. Foi um dos poucos casos em que neste palco encontrámos um som menos bom (a ouvir-se quase em exclusivo bateria e voz, com a guitarra no fundo do poço) mas felizmente o mesmo foi sendo corrigido logo ao longo do épico primeiro tema, “Roots Of The Mountain” (N.E.: Soubemos depois que a banda estava a experimentar um novo sistema de munição de som e que encontrou alguns problemas em lidar com ele). A partir daí foi sempre a subir de qualidade, principalmente, mais uma vez, para quem estava afastado o suficiente do palco.  “Storm Son” e “Sacred Horse” representaram “E” (álbum do ano de 2017, segundo a World Of Metal) da melhor forma mas o ponto alto foram as surpresas que a banda desembrulhou para o público de Vagos, principalmente a interpretação ao vivo de “Svarte Vidder” (do clássico “Frost”)  pela primeira vez fora da Noruega e a segunda vez desde sempre. Um temazorro que deverá ser até crime ficar na prateleira nalguns países menos tolerantes.

A noite seria finalizada no palco Vagos, com os mestres do grindgore lusitanto, Holocausto Canibal que, como seria de esperar, destruíram o resto de resistências que ainda tinhamos. Numa performance a roçar a perfeição, o único problema foi o suspeito do costume: o malfadado volume dos decibeis que provavelmente quebraram o recorde do Guinness dos Manowar por diversas vezes. Tirando esse factor, a potência com que “Vagina Convulsa” e “Trucidada Na Paragem” (apenas para citar dois exemplos) bateram, fez a diferença quando o cansaço queria falar mais alto. Destaque também para a cover de Mortician, “Zombie Apocalypse” e pela piéce de resistance, “Violada Pela Moto-Serra”. Um final adequado para um grande dia, em todos os sentidos (volume incluído e pedimos desculpa pela insistência neste ponto).

Ainda havia muitos cheios de energia para dar e vender e, para esses, nada como o tributo a Pantera,  Beyond Strength para gastar os inconformados pelo fim do dia/noite.

A questão dominante deste dia acaba por ser aquela que tem estado a dominar – sim, o volume. No entanto, foi possível apreciar uma melhoria bastante considerável em relação aos dias anteriores e as actuações, todas sem excepção, foram sentidas como especiais. Com um último dia ainda por apreciar, estes três dias equivalem a um ano de concertos, com tantos géneros diferentes e sobretudo, com tantas bandas a darem excelentes concertos.

Texto por Fernando Ferreira
Fotos por Sónia Ferreira
Agradecimentos Amazing Events


 

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