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WOM Report – Vagos Metal Fest – Dia 4 @ Quinta do Ega, Vagos – 11.08.19

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Depois de uma noite épica como aquela que foi vivida no terceiro dia e com o cansaço em cima de vários dias de festival, as energias estavam no minímo, embora o coração estivesse efectivamente cheio. Não seria expectável que houvesse muitas pessoas logo no início deste último dia, no entanto ainda havia muita boa música para ver e diversão para viver.

Efectivamente não estava uma grande moldura humana para receber nuestros hermanos Vendetta FM (ou Vendetta Fucking Metal), no entanto a energia com que atacaram o seu alinhamento era coisa para acordar os mortos. O crossover ou hardcore metalizado até pode não encerrar grandes segredos para quem gosta de música pesada, no entanto a forma como a banda de Murcia se agarrou à sua missão foi algo digno de ser visto. E ouvido! Um verdadeiro vendaval onde Jacob, o vocalista, foi mesmo o principal impulsionador. Ele cantou em cima da barreira que divide o palco do público, no meio da plateia, fez circle pit, saltou, correu. E com isso chamou a si todos os que estavam chegar ao recinto. Um poço de energia impressionante que, conjugado com solidez e garra da restante banda resultou num dos concertos mais apaixonados que vimos em tempos recentes.

Energia também é o mote dos Toxikull. Mais tradicionais, sem grandes (ou nenhumas) misturas de sonoridades alheias o som sagrado, a banda de Lex Thunder é sempre garantia de potência metálica em barda e não desiludiram com com o seu heavy/speed metal vitaminado. Solos dilacerantes e poder como poucos conseguem imprimir (e que poucos também conseguem igualar em cima do palco aquilo que fazem em disco) a banda dividiu a sua apresentação entre os dois lançamentos, o álbum “Black Sheep”, o EP “Nightraiser” e a demo recentemente lançada. “Freedoom To Kill”, “Nighraiser e “Surrender Or Die” foram as pérolas de heavy metal speedado e thrashado que nos impeliram ao movimento. Não tivemos um gostinho “Cursed & Punished” que será lançado no próximo mês mas certamente teremos novas oportunidades para isso. Se calhar é já lugar comum este tipo de declaração quando falamos das bandas portuguesas que actuaram nas primeiras horas do Vagos Metal Fest, mas definitivamente que queremos (e merecem) vê-los a tocar alinhamentos mais prolongados.

Os Ignea eram uma das propostas que mais tínhamos bastante curiosidade em ver. O seu metal progressivo com influências de World Music tem um impacto único. Infelizmente foi durante a sua interpretação que os jornalistas foram convocados para uma conferência de imprensa, não nos sendo possível presenciar como desejaríamos a sua actuação. A música vence todas as limitações, e como tal, mesmo à distância pôde-se ouvir “Last Chosen By You” e “Alexandria”. Presença em palco marcante a condizer com as músicas, deixaram e marcaram o seu som perante todo um público que os quererá certamente ouvir num outro contexto. Na conferência de imprensa com o presidente da Câmara de Vagos, Silvério Regadas e com Luís Salgado da Amazing Events deu-se conta do sucesso que foi (na altura em que aconteceu, estava a ser) esta edição de 2019 do Vagos Metal Fest, da importância que a componente ambiental que sendo um dos lemas do festival acaba por estar incutido cada vez mais no espírito dos festivaleiros. Também se discutiu a mudança do próximo ano da data e dos quatro dias passarem para três, mudança essa que foi feita para conciliar melhor com as datas das digressões de festivais europeus, e assim ter um acesso mais alargado a uma maior amplitude de bandas. Em relação à mudança do número de dias, Luís Salgado referiu de forma enigmática que só foram anunciados três… por enquanto, não negando a hipótese de haver alterações. Ficou ainda um sinal de apreço de ambas as partesem relação a todo o staff da Câmara que esteve incansável a trabalhar para que o festival fosse um sucesso, assim como à população que tão bem acolhe o evento e, claro, ao público metálico que faz com que este evento seja um evento de sucesso, melhor e maior a cada ano que passa.

Após a conferência de imprensa ainda chegámos a tempo de apanhar grande parte da actuação dos Visions Of Atlantis no Palco Amazing, onde trouxeram quase vinte anos de metal sinfónico arraçado de power metal. Clémentine Delauney, rosto e voz da banda austríaca esteve em maior destaque em relação ao seu colega, muito culpa da voz de Michele Guaitoli estar um pouco baixa na mistura que saía para o público. Ainda assim, o espectáculo não ficou prejudicado, muito graça a canções como “The Last Home”, “Memento” e a inevitável “Return To Lemuria” a finalizar uma actuação sólida, tendo ainda havido tempo para fazer a apresentação de toda a banda. Empatia com o público, que estava extremamente receptivo ao seu com, muito graças a uma extrema simpatia conjugada por metal melódico de alta qualidade.

Melodia poderá não ser o forte dos Dagoba mas intensidade e peso têm a rodos. A banda francesa deixou todos a aguar no ano passado quando se viu forçada a cancelar a sua actuação por dificuldades causadas por companhias aéreas, tendo sido inclusivamente a primeira confirmação para esta edição de 2019. Sentiu-se que tanto o público como a própria banda estavam com vontade de tornar este concerto memorável. E assim foi. Desde rios de crowd surfing (onde até se viu um jovem de cadeira de rodas fazer crowdsurfing e que depois Shawter, o vocalista, convidou a subir ao palco de onde assistiu o concerto até ao final) até aos violentos circle pits que tiveram como banda sonora temas como “I, Reptile” “Inner Sun” e “The Sunset Curse”. Um concerto que demorou um ano a ser apreciado mas que soube ainda melhor do que se tivesse sido no ano passado, com uma eficácia imbatível.

Ainda da vertente violenta e quebra-pescoços, os mais desejosos por actividade física de certeza que aguardavam pelos mestres do crossover thrash bruto, Iron Reagan. Esses de certeza que não ficaram desiludidos. Do início ao fim foi, um festim para os ouvidos e para os sentidos, com o mosh a tornar-se escaldante graças à interpretação de malhões como “Eat Shit And Live” – logo à abrir o apetite – “Bleed And Fifth”, “I Won’t Go”, “Tongue Tied” e “They Scream” (do split com Sacred Reich), apenas para citar alguns dos momentos mais agitados. Foram cuspidas a torto e direito com uma reacção fantástica por parte do público. Infelizmente e apesar do espírito de festa colectivo, um festivaleiro acabou por se magoar a sair de um crowd surfing de forma que esperamos que não seja grave. A banda agradeceu de coração a forma como foram recebidos e se houvesse mais tempo, o público continuaria a responder com ainda mais energia.

Não é preciso referir os nomes envolvidos nos Vltimas, algo que serve de cartão de visita para o álbum de estreia lançado meses atrás “Something Wicked This Way Marches In”, para levantar interesse sobre a estreia desta super-banda em Portugal. Som alto mas perfeitamente definido. Poderoso como poucos concertos nesta edição do Vagos Metal Fest, os Vltimas tocaram o já mencionado trabalho de estreia na íntegra (colocando pelo meio uma cover parcial do clássico tema homónimo dos Black Sabbath). Foi um concerto impressionante e que resultou na perfeição, sendo um testemunho para a qualidade do trabalho que serviu de apoio – quantos têm um álbum de estreia que é forte o suficiente para ser tocado na íntegra e deixar todos completamente derreados com ele? Mais um pico de qualidade na música do Vagos Metal Fest.

Já que estamos a falar em ficar derreado, claro que sendo os Napalm Death os senhores que seguiram… quase poderíamos passar já para o próximo parágrafo sem dizer mais nada. A seminal banda de death/grind britânica é uma instituição de crowd surfing, mosh e circle pit, sempre com mensagens de consciência social e menos que um grande concerto nunca se espera. E eles também nunca dão menos que isso. E efectivamente não deram. A gozar de um dos sons mais poderosos e definidos de todo o festival e com uma série de clássicos a desfilar uns atrás dos outros. Existem uma série deles que já sabemos serem inevitáveis como “Scum”, “Siege Of Power”, “Scum” e “Suffer The Children” mas essa inevitabilidade não impede o impacto que se tem a ouvir riffs. Impacto igualmente poderoso tiveram algumas surpresas que surgiram como a “Breed To Breathe”, um tema bastante subvalorizado na sua discografia. O fim também chegaria sem surpresas com a “Nazi Punks Fuck Off” – até o público gritou a plenos pulmões o seu título – mas a tradição tem que ser cumprida. Barney Greenway disse que nós sabíamos que eles iriam voltar – com novo álbum prestes a ser lançado – e sim, nós sabemos.

Esperar em crescendo é a forma como se pode definir os momentos que antecederam a chegada dos Stratovarius ao palco – com intro incluída. Findada a mesma, explode a “Eagleheart”, um dos temas mais emblemáticos de um álbum que não foi recebido (ou sequer é recordado) de forma tão positiva. O som estava absurdamente alto no entanto, límpido. E o público estava em êxtase, principalmente porque a banda apostou maioritariamente nos seus temas mais fortes (e eles têm muitos na sua discografia). Dezasseis anos de ausência é muito tempo – 2003 no (velhinho) Hard Club – mas os fãs não esquecem embora o público que estava no Vagos Metal Fest, tivesse uma geração completamente nova que nunca teve hipótese de ver a banda finlandesa tenham surgido posteriormente muitos novos. Principalmente após um concerto destes.

Com um Timo Kotipelto a cantar que nem um rouxinol (impressionante como o vocalista finlandês consegue manter o mesmo tom – e pulmão – décadas depois de ter começado a sua carreira) e com uma banda bem poderosa por trás, os clássicos soam todos ainda melhor do que aquilo que nos lembrávamos. E por clássicos falamos de temas como “S.O.S”, o épico “Destiny” (uma excelente
surpresa a nível pessoal ouvir esta música ao vivo e tocada de forma magistral), “Black Diamond”, “The Kiss Of Judas” e o brinde que foi a bonita balada acústica “Forever”. Quase que podemos dizer que todos os temas acabam por soar a clássicos, até as escolhas dos trabalhos mais recentes como “Enigma: Intermission II” (“Oblivion”) e “Eternal” (“Shine In The Dark”). Conjugação de vários factores felizes para além da escolha sábia do alinhamento, que até permitiu solos de baixo, teclas e bateria e tudo. Uma enorme banda que tem vindo a recuperar o terreno perdido álbum após álbum, concerto após concerto.

Foi um final em beleza de uma enorme edição do Vagos Metal Fest. Na nossa opinião, a melhor de sempre, no cômputo geral – isto é, ambiente, condições técnicas e condições gerais para todos, tudo foi elevado a um patamar superior. E quando a fasquia fica assim tão elevada, só temos uma coisa a antecipar… para o ano vai elevar ainda mais, com a indicação das surpresas boas que estão a caminho. Até para o ano Vagos.

Texto Fernando Ferreira
Fotos Sónia Ferreira
Agradecimentos Amazing Events


 

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