WOM Report – Weather Systems, Haunt The Woods @ República da Música, Lisboa – 02.05.25
No dia 11 de Março de 2020 a Organização Mundial de Saúde elevou oficialmente o surto de Covid-19 a pandemia, com os vários países a tomarem medidas de distanciamento social, que, eventualmente levaram à proibição de concertos. Nesse mesmo dia os Anathema tocavam no Capitólio aquele que seria o último concerto da banda. Depois de serem obrigados a cancelar a tour e de lidar com as perdas financeiras que isso implica, a banda inglesa acabaria por se separar. Eventualmente Daniel Cavanagh guitarrista e principal compositor dos Anathema anunciou que iria começar um novo projecto com Daniel Cardoso. Esse projeto com o nome Weather Systems, e que além dos membros já referidos conta com Soraia Silva na voz e André Marinho no baixo, ganharia vida com o álbum “Ocean Without a Shore”, lançado o ano passado.
Este concerto na República da Música seria bem especial porque não só foi o primeiro concerto deste novo projecto que acaba por ser a continuação espiritual dos Anathema, como foi o primeiro concerto de Daniel Cavanagh desde aquela noite no Capitólio com o mundo a fechar-se, 5 anos antes.
A abrir estavam os britânicos Haunt the Woods. Com uma sonoridade mais dominada por uma fusão entre rock alternativo, progressivo e folk, a banda continua a apresentar o trabalho mais recente, “Opaque” que dominou a setlist do concerto. Com uma atitude contida em palco, mas uma grande simpatia com o público, abriram o concerto com os temas “Elephant” e “Gold”, mostrando a sua vertente mais folk em temas como “Ubiquity” ou “Said And Done”, e com “Overflow” a merecer um destaque especial de entre os novos temas. Pelo meio ainda iriam até ao primeiro EP da banda com “Helter Skelter”. Boa prestação dos Haunt the Woods como um todo onde se destacaram a ótima voz de Jonathan Stafford e os solos bluesy do guitarrista Phoenix Elleschild. Para o fim ficaria um momento verdadeiramente especial, com a banda a terminar o concerto interpretando “Sleepwalking” no meio do público.
Chegando a hora dos Weather Systems, apagaram-se as luzes e começou-se a ouvir na sala algo que funcionaria como uma intro apropriada, “All Eyes on Me” do humorista e músico Bo Burnham. Um tema onde ele refere o facto de ter estado 5 anos sem conseguir actuar (neste caso devido a ataques de pânico), e quando finalmente estava pronto para voltar aos palcos, começou a pandemia. Daniel Cavanagh entrou ainda a tempo de cantar um pouco da música juntamente com o público. Já com a banda completa em palco, este aguardado regresso fez-se com um clássico dos Anathema, “Deep”. O público juntou-se a cantar, e desde o primeiro momento que se sentiu um grande apoio à banda, que seria constante ao longo da noite. Depois de começarmos no passado, entrou-se musicalmente nesta nova era, com temas de “Ocean Without a Shore”, que eram tocados ao vivo pela primeira vez, como “Still Lake”, “Ghost in the Machine” e onde se destacariam “Synaesthesia” e “Do Angels Sing Like Rain?”.
A banda foi-se mostrando bem entrosada neste novo material, que soa muito como a continuação lógica do que os Anathema iam fazendo em “The Optimist”, daí que “Springfield” tenha encaixado que nem uma luva nesta sequencia de musicas novas, e valeu uma ovação á vocalista Soraia Silva. Seguiu-se um regresso aos tempos dos Anathema, com “The Lost Song, Part 3”, “A Simple Mistake” que Daniel Cavanagh confessou que para ele não era uma musica facil de cantar e que dedicou ao irmão Vincent que cantava o tema originalmente, e “Closer”. Seguindo num tom mais “ambiental”, depois do tema título do álbum de estreia dos Weather Systems, seguiu-se para “Are You There?”, apenas com Cavanagh no palco, tocada em versão acústica, com luzes desligadas, ficando apenas as luzes dos telemóveis que o público ia empunhando. Depois já com o resto da banda, prosseguiu-se com a Part 2, já um tema de Weather Systems. Da mesma maneira seguir-se-ia “Untouchable” Partes 1, 2 e 3, um dos momentos da noite, com o público a juntar-se a cantar em coro ao longo de toda a música. Já no fim dois clássicos de Anathema a fechar o concerto, “Flying” e a incontornável “Fragile Dreams”, onde mais uma vez toda a sala se juntou à banda a cantar. Um final verdadeiramente apoteótico.
Para quem seguiu a carreira dos Anathema, foi bom ver Daniel Cavanagh de novo em palco. O músico inglês foi comunicando bastante sempre com uma postura aberta e honesta, acabando por agradecer a presença do público e confessando que ao fim deste tempo todo existia algum nervosismo com o regresso ao palco, e não sabia se iria ter uma sala com 30 pessoas. O facto é que a sala cheia, com muitos gritos de apoio deram força à banda, e criaram um grande ambiente. Houve um sentimento especial por voltar a ouvir ao vivo os temas dos Anathema nesta segunda vida, ao fim de tantos anos de silêncio, mas ficou também a imagem de que “Ocean Without A Shore” é um primeiro passo seguro desta nova banda, e cá estaremos para ver o que se segue.
Fotos por Filipa Nunes
Texto por Filipe Ferreira
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