WOM Reviews – Aera / Grift / Nietzu / Dodenbezweerder / Ulveblod / Taake / Whoredom Rife / Glemsel / Wormwood
WOM Reviews – Aera / Grift / Nietzu / Dodenbezweerder / Ulveblod / Taake / Whoredom Rife / Glemsel / Wormwood
Aera – “The Source Of Ruin”
2020 – Edição de Autor
Segundo álbum do duo conhecido como Aera que tem como objectivo na luta contra o mais recente flagelo Covid-19. Não deixa de ser algo curioso uma banda de black metal com preocupações com a humanidade, no entanto, toda a ajuda é bem vinda, obviamente. E até demonstra a forma como o metal, por mais extremo que seja, se encontra envolvido nas questãos da vida real, mesmo que assim não aparente. O black metal épico dos Aera por si só já gera interesse suficiente para que fiquemos cativados, não são necessários mais motivos. Abordagem primitiva e de acordo com as regras do género, mas feito de forma inteligente, o que faz com que em vez de um déjà vú incomodotativo, tenhamos antes uma sensação de reconhecimento agradável. A dinâmica explorada entre a alternância do uptempo e midtempo também ajuda a tal, principalmente quando estamos a falar em músicas que na sua maioria têm mais de seis minutos. Projecto que mostra que veio para ficar – a estreia “Schein” foi lançada no ano passado.
9/10
Fernando Ferreira
Grift – “Budet”
2020 – Nordvis
I discovered Grift a few years ago, through Nordvis Produktion, and immediately fell in love with his approach to Black Metal (and Music in general). The images he paints, with his Music, are Overwhelming; an Intense and Dark embrace. His own perspective of Black Metal, is quite passionate. He pours his heart and soul into every single one of his musical creations. Erik Gärdefors (Insult, Orcivus, Arfsynd) is the painter behind such delicate and intertwined shades of grey. There is Despair and Depression, but there is also Hope and Light, and the landscape is easily “seen” in every one of these tracks.
Musically speaking, Grift is reasonably comparable to the likes of Drudkh, as both projects base their sound in the aforementioned landscapes, this intense feeling of Pain and Solitude. I extract both feelings from these two projects. Grift is one of those bands that easily transports me into Darker sceneries, Foggy canvas and Dead Realities. Sweden does play a role in Erik’s way of looking at Black Metal, and that can be seen in all his creations. From the Black Metal lengthy track, to the Neo Dark Folkish tunes, all reeks of… Despair. Every single time I willingly dwell deep into Erik’s creations, I sense that my mood quickly shifts, and I become sadder and my heart sort of slows down… Erik’s music has this effect on me.
“Budet” is not an exception. Truth be told, his last offerings have been more on the Folk side, but nonetheless, they have not lost a bit of weight, nor a moment of that Dark cloud that it always there. As stated before: resemblances to Drudkh are not an impediment to Erik’s music being, as he wanders into several layers of Black Metal: Depressive Suicidal Black Metal?! More of a Negatively induced Black Metal. Why?! Again: it does carry an enormous amount of feelings and emotions, and most of them refer to the darker side of the Soul.
It is not an easy musical universe to get into. It takes some time. A much-needed specific mindset is required for you to embark in such a heavy and meaningful endeavour. For it has meaning. It is not a hollow Black Metal album that deepens/lives on the Satanic/Occult imagery and/or message. It drives away from said themes, and grabs on to what lives around the Artist: Nature. Multiple canvas are painted, portraying quite a few emotions. Black Metal enfolded in Human Emotions… seems fit.
8/10
Daniel Pinheiro
Nietzu – “Cast A Cold Eye”
2020 – Edição de Autor
Surpreendente trabalho desta banda de black metal atmosférico britânica que recentemente iniciou o seu percurso editorial (no final do ano passado para ser mais concreto). E bastante dinâmico. Tanto nos trazem uma abordagem mais primitive mas ainda cheia de melodias metálicas, assim como momentos mais ambientais e que apesar de serem bastante distintos, continuam a transportar a mesma esseência. Sendo este apenas um EP (pelo menos é visto pela banda como tal), é uma excelente primeira abordagem para quem os conhece a partir daqui. Fiquei fã, veremos mais.
8.5/10
Fernando Ferreira
Dodenbezweerder – “Vrees De Toorn Van De Wezens Verscholen Achter Majestueuze Vleugels”
2020 – Iron Bonehead Productions
Well, we are all aware of the fact that some names, within the Heavy Metal community, are a more than verified sign of quality. Men and women of many crafts, always pushing boundaries and challenging the listeners, taking him to worlds he never imagine possible. It is a hard task, I believe we can all agree on that. Some musicians are never satisfied with what they have created. Always eager to break another wall, tear down another juvenile and useless musical convention. Music has no limits, and it shall remain that way! But no more loose words, please. Music is the Message. All hail the Messenger.
Such a… non conventional introduction, I am aware of that, but this a non conventional release. But, who lives behind such a dirty and schizophrenic musical ritual?! Ever heard of things like Gnaw Their Tongues or De Magia Veterum or even Hagetisse?!?! Well, then you know, quite well, what to expect from such a “maniac”. I first heard of Maurice through his (main?) project Gnaw Their Tongues (from the Netherlands). At first, it was a shock! I had never heard something quite like that. It was not rawer than several other things I was listening to at the time… it was simply different.
Dodenbezweerder, one of his 34556677898 projects/entities/whatever he comes up with, is less on the schizo side, and more on the rawer side. It is Black Metal, it is Noise, but mostly Black Metal. I dare say that if it was not for the “clean sound”, this would fit The Throat’s rooster, impeccably (you don’t know The Throat?! What are you doing? This is Black Metal, chap). They are, in fact, a Black Metal act, but given the members historical, this entity lives in more than one sphere. Ritualistic, yet Noise, as noted before; Black Metal schemes, raw! It is not an easy listening, but fans of Black Cilice (the ones that do endeavour into unknown regions of the Black Metal psyche, might come out enchanted by Maurice’s abilities. Lengthy tracks, guiding you into the deep pits of Hell. It is always a nice ride, I say.
Overall, one has to be prepared for a harsh and aggressive attack on your senses. Beware, for Evil lives amongst Us!
7/10
Daniel Pinheiro
Ulveblod – “Omnia Mors Aequat”
2020 – Consouling Sounds
São lançamentos como este que sustentam, ainda mais, a minha opinião acerca da inventividade que existe no género. Não há barreiras nem limites para a capacidade criativa de alguns músicos. Recordo a primeira vez que ouvi Mysticum, e quão estranha me pareceu aquela mescla de Black Metal e sons Industriais, que até então poucos tinham pensado em ligar. Os Samael, quando deram o salto, da sua forma Black Metal, para uma nova, mais complexa e diversificada, chocaram todos aqueles que os seguiam. Será esta uma forma de Evolução? Transformação? O “Passage” é, ainda hoje e desde que o ouvi pela primeira vez, em garoto, um dos álbuns mais bem concebidos que conheço!
Com isto, chegamos aos holandeses Ulveblod. Saídos das cinzas dos Nihill, após a morte do vocalista (M), o guitarista, Vitriol, decidiu manter a chama viva, e criou estes Ulveblod. Com Nihill, os limites eram inexistentes. Uma curiosa mistura de sonoridades Old-school e elementos contemporâneos, resultou num híbrido de proporções Lovecraftianas. Um quebrar barreiras, resumidamente. Não que me espante, vindo de onde vem! País das papoilas e moinhos de vento, Van Gogh e esquizofrenia musical… oh what a treat!
“Omnia Mors Aequat” é o primeiro trabalho, e é bastante perceptível a vontade que o seu mentor, V., tem de levar a experimentação musical bastante mais longe. Um passo mais em direcção à insanidade. Mais agressivo e menos claustrofóbico, assim vejo a música de Ulveblod. Um arriscar e adicionar elementos alheios, como fica bem explícito na “In the Shadow of Sephra Keter”. O próprio clip é… weird as f#ck! Uma descarga de ferocidade e loucura, que aqui se solta e se propaga por toda a terra!
A estrutura é a dita clássica, no campo do Black Metal. A esta estrutura temos muitos dos elementos que fizeram dos Nihill sobressair entre toda a “oferta” de Black Metal. A esta estrutura e estes elementos, foi ainda adicionado outro elemento, mais audível aqui que porventura o era em Nihill: um controlado descontrolo de Raiva e Fúria; um “odor” a ambiente fabril (AKA Industrial; mais suave que em Mysticum ou Blacklodge, obviamente).
Assim de repente vem-me à cabeça Godflesh, mas com a já referida faceta Black Metal em superioridade, obviamente. Há maquinaria e uma bateria incansável! As vocalizações são insanas e “in your face”. Há, aqui, ao contrário de Nihill, o criar uma atmosfera pesada, mas não assustadora. Não. Esse peso vem da estrutura em que as músicas assentam, ao contrário das atmosferas geladas e claustrofóbicas. É irremediável uma comparação entre ambas as entidades. São, de certo modo, filhos do mesmo criador, com as devidas diferenças.
Pessoalmente, foge muito da estrutura clássica do Black Metal que a mim mais me diz, mas não deixa de ser interessante ver que ainda há quem persista em quebrar barreiras e criar novas formas de velhas realidades.
7/10
Daniel Pinheiro
Taake / Whoredom Rife – “Pakt”
2020 – Terratur Possessions
Deveras interessante aquilo que temos diante de nós, neste momento. De um lado, uma banda já considerada clássica – e com todo o direito – na forma dos Taake; do outro, uma banda que surgiu há relativamente pouco tempo, mas que tem créditos mais que firmados, contando nas suas fileiras com o Sr. V. Einride, baterista dos extintos – e soberbos – Aptorian Demon.
From Nameless Pagan Graves” dá início a esta viagem pelo Black Metal Norueguês, de um modo tremendo! Como acima referido, os WR são relativamente recentes, como banda, mas o seu som é reminiscente de tudo aquilo que foi até à data de edição deste Split, no que ao Black Metal Norueguês se refere. Há, efectivamente, uma linha musical afecta à cena Noruguesa. O trabalho de bateria é imenso, algo que não me surpreende de modo algum. Há uma melodia tremenda, a correr em paralelo com um contimento gélido. E as linhas de guitarra reflectem exactamente isso: um misto de melodia com agressividade, dando uma fluidez e dinâmica à música. Há uma robustez deveras característica da Noruega. A produção de ambos os temas de WR é límpida q.b., permitindo que a sua audição corra de uma forma suave. Estes WR, aquando do seu primeiro lançamento, deixaram de imediato fantásticas impressões no underground mundial. Conseguem, com os seus temas, pintar imagens que vão do mais gélido ao mais opulento, no mesmo tema. São um dos grandes nomes, na minha opinião, do Black Metal Norueguês actual. De relembrar que os WR são constituídos por somente dois elementos. Dois músicos, uma imensa construção musical!
Os Taake, sobejamente conhecidos por aventuras musicais – quem não se recorda do recurso ao cavaquinho, no Passado – conseguem, uma vez mais, surpreender: uma cover de The Sisters of Mercy. E, apesar de não ser grande conhecedor da influente banda britânica de Rock Gótico, sou minimamente conhecedor do género em si para conseguir perceber que a transição que foi feita, para o Black Metal, foi muito bem construída. Adoro o facto de os vocais de Hoest soarem arrastados, como que cansados, moribundos. Adequadíssimo. Para lá desta cover, os Taake apresentam-nos um tema novo: “Ubeseiret”. A primeira coisa que me bate, é a quantidade de “groove”. Não estava à espera. Mas, de repente, esse groove é substituido por uma linha mais Black Metal Noruguês – ou não fossem os Taake das bandas que ainda mantém a chama viva – mais próxima dos Taake que conheço. Mas, mais uma vez, fugimos de um registo mais TNBM, para um registo mais Hard Rock (oi?)… e de regresso ao groove. Sinceramente, não me oponho a que haja pessoal que sente que a sua música necessita um boost, uns ajustes, call what you please, e sei que soaria a Velho do Restelo se condenasse o velho Hoest por fazer algo diferente, mas gosto mais dos Taake que evocam o Capeta, envoltos no nevoeiro norueguês. Ou algo assim… vós entendeis-me.
De qualquer modo, a contribuição dos Whoredom Rife é mais que bastante para fazer deste, um excelente Split. E mesmo o novo tema apresentado pelos Taake é bom, ainda que não seja aquele som Taake tradicional. Mas verdade seja dita, há quanto tempo o Hoest faz algo sem lhe adicionar… something special?
7/10
Daniel Pinheiro
Glemsel – “Unavngivet”
2020 – Edição de Autor
O primeiro contacto do mundo (e não só o nosso Mundo do Metal) com os dinamarqueses Glemsel é este EP de quase meia hora de duração que apresenta um black metal dinâmico apesar de ser, na prática, bastante tradicional. “Dødsværk”, o primeiro tema, começa por dar o mote através do death metal, mas o feeling black metal cedo se instala. Logo ao segundo tema, um andamento mais compassado instala-se e até um certo feeling mais melancólico (mais DSMB) fala mais alto. A oscilação entre os dois registos não é propriamente o que lhes garante mais dinâmica mas o simples facto de cada música prender e chamar para a próxima. Um primeiro registo de grande qualidade e que faz antecipar um bom futuro para esta banda dinamarquesa.
8.5/10
Fernando Ferreira
Wormwood – “Ghostlands: Wounds From A Bleeding Earth”
2017 / 2020 – Black Lodge Records
A estreia discográfica dos Wormwood foi um dos grandes pontos da década que entretanto findou. Black metal melódico (isso, aquela coisa que parecia ser transmissora de lepra anos atrás), bem feito e muito bem tratado. Com sobriedade, algumas melodias folk e um sentido de epicidade e impacto dramático que resulta, na minha opinião, de forma perfeita neste género de música. E estamos a falar do álbum de estreia, logo com a surpresa a ser muito maior. Trata-se da conjugação de diversos factores de uma forma a que poucos conseguiram fazer no passado. Um excelente início para uma carreira que nos tem vindo a conquistar de forma sólida.
9/10
Fernando Ferreira