WOM Reviews – Atrium / Vampirska / Hollow Woods / Euthanized
Atrium – “Ancient Spells”
2021 – Signal Rex
A América do Sul, nos últimos anos, tem mexido bastante com o paradigma (geográfico) do Black Metal. Mais do que abordagens inovadoras, é a qualidade e consistência com que o trabalho destes músicos consegue marcar uma posição, mostrando-se como um produto válido e uma das bitola para aqueles que procuram um som de qualidade, e que retém as bases de outros tempos, que sobressai. E é exactamente uma sonoridade “datada”, “antiquada”, “ultrapassada” aquilo que temos em Atrium… e quão belo é. A reminiscência daquelas bandas nórdicas (e não só) que me apresentaram a sonoridade; mestres na construção de melodias e ambientes majestosos, ainda que retendo a visceralidade e a força do género! Grandiosas melodias… Travo de soturnidade e cenários de fantasia. Adoro o passo que o artista – Magister L. – imprime à sua criação: lento e arrastado. Pode soar, lendo-o desta forma, que estamos perant um Doomish Black Metal de algum tipo, but fear not, este é um dos trabalhos de 2021. E é dizer muito, especialmente num ano que, a meu ver, deu pouco ao género… ou cujo género deu pouco eheh back: um passo um tanto ou quanto lento, mas com constantes mudanças de ritmo, imensamente equilibradas, ponderadas e muito bem executadas. É um regresso ao Passado? Vivemos, na verdade, uma era de saudosismos no Black Metal, onde todos querem soar “mal e podres”, mas outros preferem pegar no que os percurssores do Sinfónico fizeram, adicionar elementos contemporâneos, e seguir em frente. Atrium é, de certa forma, isso: agradará a todos aqueles que nos 90 se viram embrenhados naquilo que adoro rotular RPG Black Metal (vou registar isto), têm bandas como Emperor como Santo (Infernal) Graal, e resmungam que “o Black Metal de hoje é fraco”. Vá, dêem uma oportunidade ao Sr. Magister. Arriscor dizer que ides adorar. Outro detalhe interessante: a Signal Rex lançou o álbum em Junho de 2021, após este ter sido lançado pela WP & RO Productions, em Abril deste ano. Mais uma aposta ganha, da parte desta label nacional.
9/10
Daniel Pinheiro
Vampirska – “Vermilion Apparitions Frozen In Chimera Twilight”
2021 – Inferna Profundus
Ora, ora, ora, ora, já não vejo pessoas a gozar com o tema dos vampiros, agora que um número cada vez maior de actos mergulha nesta figura tão especial da literatura e da cultura popular oriental – e outras -. No entanto: Música. Os Vampirska está, como sooooo muitos outros, dentro do reino do Black Metal Bruto, como nós – presentemente – o conhecemos: grandes melodias e ganchos, todos embebidos naquela (suficiente) produção de Lo-fi que o impede de atingir aquele “nível de Black Metal dominante”. Este homem pode criar alguns riffs de guitarra viciantes, e linhas melódicas em geral. A forma como as suas canções são concebidas pode não apelar, no início, àquelas que se vêem a si próprias como muito Trve Kvlt e o que quer que seja, o que é mau, considerando o quão bons são estes riffs, e a estrutura instrumental em geral. Esta é a minha primeira vez com um lançamento de Vampirska, na íntegra. Uma canção, aqui e ali, sim, mas nunca um lançamento completo. Vejo que este homem tem algum amor sério pelo lado melódico do Black Metal. Leva-me a uma realidade fria e nevada, onde estas melodias ecoam na floresta. Como pintá-lo? Frio e melódico. Sim, é isso mesmo. Descrição curta e não muito precisa? Pode ser. “Astral Transfixion…” tem alguns riffs imensamente surpreendentes, seja Black Metal, ou Hard Psycho Rock dos anos 60. As faixas são na sua maioria muito longas, o que permite que a música respire, e realmente cresça. Este é um outro aspecto positivo da sua Arte / Música: ele leva a sua criação através de várias fases, e sons, levando o ouvinte a uma variedade de experiências sónicas. Fiquei muito surpreendido com este álbum, muito surpreendido. Talvez tenha de voltar e rever os seus lançamentos (2021, sozinho, já viu 3 Splits). Por favor, uma vez lançado (Março de 2022), dê-lhe uma boa volta. Ficará surpreendido.
9/10
Daniel Pinheiro
Hollow Woods – “Cold Winds Cleave the Earth”
2021 – Abstrakted
Finlândia, aquele “antro” de belíssimo Black Metal e herética podridão. Fuck me… Beherit for Life, não?! Claro. Senhores e senhoras, a terras geladas regressamos, e desta feita para mergulharmos no som de mais uma proposta que nos chega pelas mãos da nacional Signal Rex. Duas Demos antecedem este “Cold Winds Cleave the Earth”, e o que temos perante nós é um portento de Black Metal, onde a melodia se encontra com aquele som tão característico do Black Metal, aquela podridão que faz deste som, O Som. As vocalizações são tremendas, dando uma imponência a cada um dos temas. O passo a que cada tema desfila, se desenvolve, em constante crescendo. Os momentos lentos, sofridos, em que as vozes se elevam e a intensidade nos toma por completo. Ainda que não considere estes Hollow Woods um total e perfeito reflexo do Black Metal da sua terra origem, é claríssima a capacidade que estes músicos têm de criar melodias lindíssimas, e essas sim finlandesas, portadoras daquele je ne sais quoi tão característico do Black Metal actual. De certa forma estes finlandeses conseguem criar uma ponte entre Ontem e Hoje. Soberbo…
8/10
Daniel Pinheiro
Euthanized – “Sanguine Spectacle”
2021 – Hellprod
O Canadá é sobejamente conhecido pelo Black Metal de alta qualidade. Seja o War Black Death Metal de Blasphemy, seja o Melancóico e Gélido Black Metal de Fortresse, por exemplo, o espectro é deveras extenso. Estes Euthanized são do Canadá – Victoria – e trazem-nos este “Sanguine Spectacle”, de 2021, depois do Split com Cultist, editado em 2019. Mas toda esta estória começou em 2016, com a self-titled Demo, à qual se seguiu o EP “Riches Among Refuse”. E que temos em mãos? Pouco menos de 16 minutos de Black Metal, finalizados com uma cover de Venom. É sempre bom apostar em Venom, verdade? De referir que esta Demo sairá pela nacional Hellprod Records! Em termos de som… é Black Metal, period. Não há – e arrisco dizer que será essa a intenção da banda – grandes inovações ou trejeitos de enorme complexidade; é straight-forward Black Metal! De certa forma a escolha de cover encaixa bastante bem na linha criativa da banda. Não querendo com isto rotular a mesma de Black Thrash ou algo que se assemelhe, há algo na sonoridade deste trio canadiano que vai beber ao som popularizado por Venom. Será o feeling do trio de Newcastle, e o quase groove da bateria, aqui e ali. O baixo é audível… o baixo é audível (win)! Instrumento por norma “enterrado” no mix, aqui sobressae, destaca-se, o que acresce uma camada de peso e “corpo” às músicas. Há, também – e aqui podemos recuperar Venom – uma atitude muito “in your face”, muito Punkish, o que é interessante. “Bleach Bone Monolith” é a melhor malha da Demo eheheh
6/10
Daniel Pinheiro
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