WOM Reviews – Eternal Majesty / Vøidwomb / Bhleg / Mørketida / Abduction / Nocturnal Prayer / Leeches / Morte Lune / Winter Deluge
WOM Reviews – Eternal Majesty / Vøidwomb / Bhleg / Mørketida / Abduction / Nocturnal Prayer / Leeches / Morte Lune / Winter Deluge
Eternal Majesty – “Black Metal Excommunication”
2020 – Those Opposed Records / Mallevs Records
A simplicidade da capa é proporcional ao efeito que traz, principalmente ao longe. Essa primeira impressão talvez depois desvaneça e faça questioinar se seria uma escolha ideal para a capa de um disco. E por esta altura já se está tão embrenhado na música que perde o seu peso. A música em si tem muito de um black metal melódico mais próximo de uns Abigor do que propriamente Cradle Of Filth e é old school o suficiente para que se tenha a certeza de que este regresso não será para subverter a identidade da banda que esteve cinco anos fora de circulação. Apesar de ser um bom regresso, não deixa de saber a pouco, afinal temos apenas meia hora, mas é sempre bom sinal quando se acha quem álbum é curto. É melhor ficar a querer mais do que farto a meio. “Black Metal Excommunication” tem um encanto muito próprio que provavelmente só vai agradar a quem acompanha a banda desde os idos de 1995, quando começaram a carreira.
8/10
Fernando Ferreira
Vøidwomb – “Altars Of Cosmic Devotion”
2021 – Iron Bonehead Productions
É sempre um enorme prazer que tenho quando vejo bandas portuguesas a serem reconhecidas lá fora. E neste caso até é uma estreia, já que este EP “Altars Of Cosmic Devotion” é o primeiro lançamento oficial da banda. A sonoridade da banda anda pela mistura entre o Black e o Death Metal. Uma mistura equilibrada em todos os aspectos menos no da voz que poderia ser mais diversificada – nada que os amantes da vertente Death tenham razões para colocar defeitos. Boas ideias, bem concretizadas e o início de um caminho que promete ser interessante de acompanhar – principalmente pela amostra de “Summon Of Utu-Shamash”, o tema que mais impacto tem (ou pelo menos teve em mim). “Altars Of Cosmic Devotion” é recomendado para quem gosta de Death Metal Blasgemo e enegrecido mas bem orgânico e visceral.
8/10
Fernando Ferreira
Bhleg – “Ödhin”
2021 – Nordvis
Formados em 2013, os Bhleg são uma banda de black metal sueca que recentemente lançou o seu terceiro álbum com o título de Ödhin. Como referido, o álbum segue o estilo de black metal que, mais especificamente, desenvolve-se naquele tom em que o vocal não é tanto “um vocal”, mas funciona mais como instrumento a par dos restantes, enquanto se vão acrescentando alguns elementos que mais subjetivamente associamos à cultura nórdica com alguns cantares mais ambiente de estilo épico e distante (ou talvez seja só de mim, mas uma parte fez-me lembrar um mead hall). Uma nota deste contexto nórdico também se associa à terceira faixa que até galos tem a cantar; os fãs de paganismo que se dediquem a decifrar qual deles é. Este é um daqueles álbuns cuja qualidade é demonstrada da forma como explora as maravilhas mais abstratas do black metal enquanto se mistura parcialmente com os estilos mais ambientes e atmosféricos.
8/10
Matias Melim
Mørketida – “Traveler of the Untouched Voids”
2020 – Werewolf
Um nome com já alguns anos, pelo que consegui descobrir, mas com poucos lançamentos. O que é pena, muita pena (o próximo será um Split com Grieve… grab it as soon as it lands). “Traveler of the Untouched Voids” é a mais recente oferta do trio finlandês, pela Werewolf Records. E que podemos encontrar aqui? Qualidade meus senhores, qualidade. Ancestors Blood ou Kadotus, só para referir aqueles que serão, talvez, os nomes mais sonantes, contam com membros de Mørketida. É este um sinal de qualidade? Para mim, sim, ainda que não infalível. De regresso. Black Metal gélido, um excelente espelho da região de onde vêm os músicos. 4 temas em pouco mais de 20 minutos, em que o ouvinte percorre toda uma panóplia de ambientes e sonoridades. Ponto a reter – e a focar – é a “visibilidade” que é dada ao trabalho de teclados. Não é somente mais um instrumento no meio de muitos mais, mas sim um que se destaca. As camadas melódicas que se criam, apoiadas neste instrumento, tornam-se a base primordial na qual assenta a criação. Indicado para quem? Fãs de Black Metal finlandês, em específico o de vertente melódica, tendo um sentimento gélido como constante.
9/10
Daniel Pinheiro
Abduction / Nocturnal Prayer – “Intercontinental Death Conspiracy”
2020 – Inferna Profundus Records
Permitam-me, antes de mais, referir o artwork deste Split. Ainul Iblis, artista por trás de um dos projectos que mais tem dado que falar no panorama Black Metal mundial – arrisco dizer – nos últimos anos, desta vez numa outra perspectiva do acto criativo. Seguindo para a música propriamente dita: Abduction, idealizados e “efectivados” em 2016, por A|V (que faz parte de uma série de bandas / projectos, do Death Metal ao Technical Metalcore), juntou-se ao duo canadense, Nocturnal Prayer, de Deimos e Murder, para levar a cabo este ataque aos sentidos. Abduction era totalmente desconhecido para mim. Num Mundo tão preenchido de A e de B, algo tem que escapar, caso contrário instala-se a loucura. Assim sendo, dei início à audição com a ideia de que este britânico teria que ser algo excepcional já que estava a partilhar “tempo de antena” com NP, pelos quais tenho imenso respeito. “Mass Extinction Salvation” começa suave, quase inaudível, até ao ponto em que entram os vocais e dá-se a explosão! A serenidade chega e toma o controlo da situação. Esta é uma malha com bastante groove – resquícios do Tech Metalcore, quiçá. Ainda assim, uma malha bastante competente. De um modo geral, as 4 malhas aqui apresentadas por Abduction soam bastante modernas, por assim dizer. Há muita melodia e uma produção limpa, mas falta-lhes, para mim, sentimento. Não há grande emoção. Acabam por soar… vazias. Ouvem-se bem, estão bem conseguidas, bem estruturadas e agradarão a muitos e muitos, mas não deram o click, comigo. “In Ceaseless Night” será a malha que mais me agradou. Não deixa de soar moderna, mas soa muito bem! Nocturnal Prayer, a razão pela qual cá vim ahahah Canadá e Black Metal combinam muitíssimo bem. Esqueçam Blasphemy ou Revenge, sff. Não pensem em Gris, pensem em Black Metal com “tons” de épocas medievais, de batalhas e de sangue derramado. Conseguiram? Talvez não, claro. Não é propriamente uma descrição que se faça para um álbum. Quem conhece a banda e teve a oportunidade de digerir o ” Advance on Weakened Foes”, sabe o que o espera. Este é, para mim, um dos trabalhos de 2020, ainda que somente metade deste seja de 2020. Sonoridades francesas – Black Murder – sonoridades alemãs – Moonblood – e sonoridades inglesas – Forefather, caramba! Esta “santa trindade” faz o resto. NP foi daquelas bandas que me agarrou ao primeiro riff. Ao contrário dos parceiros de “crime”, encontro sentimento e emoção. Não quero, com isto, desvalorizar os anteriores, mas o desenho que estes fazem do Black Metal é distinto daquele que o britânico apresenta. Múltiplas formas de admirar o mesmo, respeito. ” Leading the Tumbrels of Affliction” dá início à batalha. Quais guerreiros saxões a degladiarem-se em pleno de batalha, quais guerreiros nórdicos a tomar castelos, isto é batalha, senhores e senhoras! Daqui em diante a dinâmica aumenta e a “violência” sonora segue o mesmo caminho. Black Metal dos 90, replicado na perfeição! 3 malhas, 3 hinos de batalha. Fortíssimo, fortíssimo!
De um modo geral: NP conquista a vitória para este Split; Abduction não conseguiu conquistar-me com a sua “visão sonora” do Black Metal, o que não significa que não tenha qualidade nem seja bom!
7/10
Daniel Pinheiro
Leeches – “A Plague in the Heart of Light”
2020 – Edição de Autor
A Grécia é um dos pilares mais consistentes do Black Metal. Lar de bandas que criaram um formato particular de Black Metal que ainda hoje perdura na cena de hoje. Bandas como Rotting Christ, Varathron ou Necromantia, com a sua aborgadem ao género, criaram uma sonoridade e uma visão única do mesmo. Leeches, formados este ano, por músicos de bandas gregas de Black Metal como Sørgelig, Dødsferd ou Grab, apresentam-nos um lançamento muito “próximo às raízes” (o que quer que isso realmente signifique). Despojada de truques fúteis e inúteis, a banda mostra que está ciente de como – na sua perspectiva – o género deve ser tocado. Frio e direto ao assunto, é assim que vejo o Black Metal – ou pelo menos essa franja do género – e estes Leeches seguem esse caminho sem truques, sem rodeios. Isto é Raw Black Metal. Em termos de produção, é o que esperávamos: lo-fi o suficiente para manter a criação “enterrada” sob pilhas e mais pilhas de terra… e ossos. 5 faixas, que se mostram mais que suficientes para mostrar que esses gregos mantêm as antigas regras – se assim posso dizer – do Black Metal dos anos 90.
7/10
Daniel Pinheiro
Morte Lune – “Temple of Flesh”
2020 – Purity Through Fire
A ideia de super-grupo, ou similar, é algo que me “assusta”. À excepção dos Led Zeppelin, não vejo outro conjunto de músicos capaz de ombrear lado a lado com tais deidades. Mas, se olharmos para as fileiras destes Morte Lune e para os grupos em que os músicos operam, vemos que há aqui algo (An Axis of Perdition, Blasphemer, Mine[thorn], The Deathtrip, Omnicide, Written in Torment, Atra Mors, Glaramara, Helvellyn, Nefarious Dusk, Skiddaw, Thy Dying Light, Torver, Úlfarr, Volition, Whinlatter). São imensas, eu sei…. Trio formado em 2017 por Storm, Leviathan e Hrafn, editou previamente uma Demo (“The Endless Forest”, 2017) e um Split com Torver e Glaramara (“Cumbrian Black Metal Part 1”, 2019). “Temple of Flesh” é a nova oferta, são 6 temas de Black Metal. Naturais da Cúmbria, Inglaterra, Morte Lune toca um Black Metal com uma carga melódica muito presente em bandas britânicas. Será a herança associada ao Folk ou toda a imaginética da ilha? Desconheço. Confirmo que bandas como Forefather ou Winterfylleth têm uma abordagem sonora muito “visual”, por assim dizer. Não são, atenção, um espécimen que toma estruturas instrumentais batidas, com travo medieval / Folk, e as recicla vezes seguidas. É Black Metal dos anos 90 com um subliminar toque de algo… actual. “Temple of Flesh”, que encerra o álbum… é diferente e tem elementos que não encontraríamos num trabalho que, incialmente, identificamos com algo mais Folkish. Há força, há melodia, há um travo de fúria no modo como a música nos é dada. Bastante agradável e um honroso representante do que se começa a fazer – de novo – no reino do Reino Unido.
7/10
Daniel Pinheiro
Winter Deluge – “Degradation Renewal”
2020 – Osmose Productions
Vindos do outro lado do Mundo – Auckland, Nova Zelândia – recebemos de braços abertos a descarga de violência que aqui nos é ofertada. Formados em 2005 pelos irmãos Nathan Baylis (aka Autumus) e Aaron Baylis (aka Arzryth), os Winter Deluge bebem, de certo modo, da mesma fonte que algumas das maiores “bestas” do Black / Death daquele lado do planeta: Diocletian, Witchrist ou Angelcorpse, ainda que não tenham a mesma violência visceral que os referidos. Melodia há, sim; violência pontual, há. Mais próximos de um híbrido Black / Thrash que propriamente dos seus conterrâneos (Destroyer 666, aqui e ali) Deathsters, estes Winter Deluge conseguem apresentar um produto engraçado para quem gosta de alguma violência mas não consegue encaixar com a ala mais arisca do Black Metal (War Bestial Black Death Goat Grind Something Metal). Atenção: não deixam de ser uma máquina bastante competente e capaz, mas não me conseguem agarrar. De certo modo é… um pouco disto e mais um pedaço daquilo com A e B. pessoalmente, não me consegui encontrar nestes temas. Provavelmente foi a mim que escapou o fio condutor, não digo que não, mas não consegui encontrar pontos de interesse. Ainda assim, de referir que a última malha (“Within the Remnants of Humanity”) tem momentos interessantes. Overall: não foi do meu agrado.
5/10
Daniel Pinheiro