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WOM Reviews – Irae / Nocturnal Prayer / Eyelids / Orgg / Solipsism / Czarnobog / Sarcófago / Titaan

WOM Reviews – Irae / Nocturnal Prayer / Eyelids / Orgg / Solipsism / Czarnobog / Sarcófago / Titaan

Irae – “Lurking in the Depths”

2020 – Signal Rex

Poucos nomes têm o mesmo peso que este no panorama nacional de Black Metal. São quase 2 décadas de heresia e persistente filiação às artes negras, personificadas no Black Metal, claro. De Flamma Aeterna a Ancient Burial, Vulturius já deixou para a história a sua marca no Black Metal português, há muitos e bons anos. Sempre presente, a sua relação (ou não, neste caso) com a Religião continua a fornecer combustível para a eterna chama que é Irae. 2020, o início da pandemia, a chama que desencadeia mais um trabalho, desta feita o 5.º álbum, “Lurking in the Depths”. E que dizer que não tenha já sido dito? Irae é, desde há muito tempo para hoje, daqueles projectos/bandas/realidades musicais, portuguesas, com as quais mais me identifico. Como acima referido, há uma consistente filiação às linhas condutoras do Black Metal, aquelas que muitos consideramos como as bases do género como hoje (ainda) o vemos, que lhe dará sempre, da parte dos ferrenhos adeptos do género, o avalo positivo e a confiança para continuar. E que temos, efectivamente, neste “Lurking…”? Temos Darkthrone e Celtic Frost. Temos essa filiação aqui “estampada”. Para lá de tal temos a melhor produção – arrisco dizer – que já ouvi em Irae, e a inclusão de sintetizadores, algo até então muitíssimo (se sequer) pouco explorado em Irae. Mas o cunho tão próprio do Sr. Vulturius continua aqui, presente e imponente.

Como já acima exposto, Irae é daquelas realidades musicais que me diz bastante e pelo qual nutro um carinho especial, sendo que ter tido a oportunidade de assistir ao concerto dado na última edição do IRM, acabou por trazer ainda mais mística ao mesmo. Há que referir a postura do Vulturius, muito FOAD.

9/10
Daniel Pinheiro

Nocturnal Prayer – “Advance On Weakened Foes”

2020 – Inferna Profundus Records

Canadá. Terra gélida e abrasiva, casa de algumas das melhores bandas de Black Metal que surgiram últimos anos. Bandas como Gris, Bašmu ou Akitsa, por exemplo, têm aportado a sua particular visão do Black Metal, mais áspera, mais ambiente; há toda uma diversidade na cena canadense, o que faz com esta seja uma das mais emocionantes/diversificadas da actualidade.

Na verdade, a tendência actual é para um segmento específico dentro do Black Metal: o Raw Black Metal. Não é,de modo algum, uma novidade de ontem, sendo que já há uma série de anos que temos vistos um crescendo, tanto de bandas como de labels e de adeptos desta linha de Black Metal. Obviamente que o Canadá nunca ficaria intocado pela “peste” – Nächtlich, p.ex. – e a banda que vos trazemos hoje pode ser incluída nessa fracção.

Nocturnal Prayer, ano de formação desconhecido – a este escriba, pelo menos – editou em 2019 a Demo “Grim Sermons of the Nocturnal Prayer”, 5 temas, nos quais se incluía uma cover de Black murder. 2020 viu a edição de uma 2.ª Demo, “May You Lay Waste to Astral Gods with Star Disintegration”, que contém uma cover de Moonblood. O burburinho cresceu e a banda chegou aos ouvidas da Inferna Profundus Records, editora lituana. Esta união resultou em “Advance on Weakened Foes”, compilação que reúne as duas anteriores Demos da banda.

O som?! Nocturnal Prayer vive na esfera do Black Metal, vive em melodia e em ambientes escuros e ásperos. Ao contrário de muitas bandas associadas ao Raw Black Metal, os Nocturnal Prayer não têm um som em que os instrumentos se “perdem” numa muralha de cacofonia e dissonância. Há bastante melodia, essencialmente porque o Black Metal da banda é muito mais mi-paced que outra coisa. E isso, a mim, soou maravilhosamente bem! Nunca o Black Metal deveria ser “maravilhoso”, que isso retira pontos no “Kvlt Kard”, mas é inegável que a banda apresenta uma sonoridade distinta, sem sair do seu meio natural. Atenção, há momentos em que o ritmo acelera, mas ainda assim, continua a ter a sua identidade bastante presente. Acabamos por, um pouco como o que é feito pelos Forbidden Temple – ainda que uma realidade distinta – sentir que somos transportados para uma floresta nevada, ao pôr-do Sol: neve, vento sereno, desolados e emocionalmente destruídos. Soberbo.

9/10
Daniel Pinheiro

Eyelids – “Scars Under The Snow”

2020 – Vacula Records

A capa quase que diz tudo não é? Sabemos logo pela tonalidade, pelo logo, pelo tipo de letra e pela foto em si que estamos a falar de black metal. Claro que poderia ser black metal da década de noventa, mas por acaso não, este é mesmo o segundo álbum fresquinho de Eyelids (um nome que é estranho para qualquer banda de metal). Temos black metal depressive, com um som cru mas ainda assim bem perceptível e com uma capacidade para deixar no ar uma série de melodias marcantes. Poderá agradar apenas a quem tenha um gosto específico por depressive black metal. Ainda assim, a qualidade é acima da media.

8/10
Fernando Ferreira

Orgg – “The Great White War”

2020 – Vacula Records

Sim, têm toda a razão, a moda das bandas com peúga na cara já é irritante. Mas também qualquer moda é irritante porque pega em algo interessante e esminfra-a até que toda a novidade, todo o encanto presente desapareça. Também poderíamos dizer o mesmo do corpse paint, principalmente quando se começou a confundir black metal com panda metal. Bem adiante. No final, o que interessa é mesmo a música, como digo muitas vezes. No caso dos Orgg, o que apresentam é mesmo um black metal dinâmico onde o midtempo acaba por ser dominante que mostra que também não estão propriamente a seguir qualquer moda em específico. O título advém da temática da primeira Guerra mundial, o que também, apesar se não ser novo, acaba por ser refrescante, afastando-se da temática tradicional. Ou seja, temos uma série de lugares comuns, uns mais frescos na memória que outros, mas o que interessa reter é mesmo que este é um álbum que demonstra um potencial para suportar o teste do tempo e uma banda que quereremos acompanhar.

8/10
Fernando Ferreira

Solipsism – “Trhliny v (ne)skutočnosti”

2020 – Sun & Moon Records

Banská Bystrica / Brezno / Čierny Balog, estas são as localizações de cada um dos 3 elementos que compõem estes Solipsism. Eslováquia. Criado em 2018, este trio lança agora o primeiro trabalho da sua curtíssima carreira. Um EP de 5 temas, que pinta, com bastante exactidão, uma imagem de desolação e desespero. De certo modo, e não querendo passar a ideia de que estou de modo algum a reduzir o trabalho desta banda, de imediato fui reencaminhado para uns Drudkh. Estes senhores são, para mim, a pintura musicada do Black Metal de Leste. Um tanto ou quanto redutor, podeis dizê-lo! Neste caso sim, poderei estar a reduzir uma imensidão de bandas a pouco mais que nada, em detrimento de uma só. Sim, associo os Drudkh a uma realidade simbiótica: a Natureza e o sentimento de Desespero/Ruína. Estes Solispsim, de certo modo, não fogem muito daquilo que os ucranianos têm feito ao longo destes anos todos. Aqui, neste caso, sinto o mesmo sentimento de associção à Natureza, a uma eterna paisagem outonal, pintada em tons de vermelho e castanho. Há atmosferas negras, mas reconfortantes; há melodia e melancolia. Essencialmente isto… melancolia, tal como um já referido sentimento de tristeza generalizado.

Apesar de “viverem” na confinada esfera do Black Metal, estes eslovacos conseguem apresentar elementos que os afasta, de certo modo, de uma cópia descarada de A ou B. não deixa de, em vários momentos, suster-se em elementos claramente retirados do manual de Black Metal dos anos 90, mas ainda assim, cria uma relação muito harmoniosa entre os mesmos e outros, menos clássicos, mais dinâmicos. Gosto particularmente do trabalho de guitarras: dinamismo e fluidez de transição de momentos mais ásperos, para momentos mais atmosféricos e delicados. As vocalizações, reminiscentes do Black Metal clássico dos 90, associadas ao já referido trabalho de guitarra,

No fundo, a base não deixa de ser Black Metal – e é descarado em mais que um momento – mas não é estanque nem um simples depósito de ideias soltas. Sendo este o 1.º trabalho do trio, um bom caminho se augura.

8/10
Daniel Pinheiro

Czarnobog – ““Sigils of War…”

2020 – Edição de Autor

Czarnobog é uma banda que só conhecia de nome, para ser sincero. Num mundo, num universo musical tão prolífico como o que temos hoje, é cada vez mais difícil manter-se atualizado com os lançamentos que aparecem todos os dias. Verdade seja dita, esta quarentena tem ajudado, um pouco, a corrigir esse erro.

E agora, a música. Esse homem vem da Germania, trazendo a sua visão fria e lenta do Black Metal. Com uma sólida história por trás, Wehrgoat (Dmitry Medvedev), de nacionalidade russa, compõe com Czarnobog desde 2012. Desde então, lançou 7 LPs e vários Splits e Demos, incluindo um álbum ao vivo! Desta vez, um EP foi criado: “Sigils of War…”, 3 músicas, exactamente isso. Bem, não é só isso, pois estas três músicas carregam na sua essência uma aura de Gelo e Morte. O meu elemento favorita nestas músicas é a produção final: é Raw as f @ ck, mas é possível acompanhar perfeitamente as músicas e a atmosfera que o Sr. Wehrgoat tão bem criou!

A voz, a maneira como a guitarra nos carrega, lenta, mas penetrante, ao longo de cada faixa, é tremenda. Como referido no início, não tinha ideia de como Czarnobog soava, mas tenho vergonha de mim mesmo por não ter tentado antes. E é a simplicidade de sua música que me agarra mais, honestamente. 3 faixas, com mais de 5 minutos de duração cada, mas nunca um momento de tédio, nunca aquele sentimento de monotonia … bem, três faixas passam rapidamente, certo? Fica-se a pedir por mais. As guitarras, como que perfurando os nossos ouvidos e derretendo o nosso cérebro, criando imagens mentais de Desespero e Terras Profanas.

Eu, pessoalmente, e como você já deve ter entendido, fui completamente “derrotado” por este EP. O ritmo de cada uma dessas músicas é incrível. Adorei o lado mais bruto do Black Metal, principalmente devido às atmosferas criadas, e essas músicas, mesmo que não sejam parecidas com Vetala ou Mons Veneris, me levam para o mesmo local específico: Tristeza acompanhada pela morte.

8/10 
Daniel Pinheiro

Sarcófago – “Hate”

1994/2020 – Greyhaze Records

Reedição do terceiro álbum dos Sarcófago onde já se começa a notar a descendência criativa por parte da banda. Apesar de furioso, “Hate” é um trabalho de som tosco e com algumas dificuldades em se tornar memorável. A bateria programada também não ajuda a que haja variedade no material, excepção feita com “Phantom”, a música mais bem conseguida de todo o álbum. Não sendo propriamente mau, apenas é uma decepção em relação ao clássico “The Laws Of Scourge” e é sempre inevitável fazer essa comparação.

6/10
Fernando Ferreira

Titaan – “Itima”

2020 – ATMF

46 minutos e 13 segundos. Esta é a duração do mais recente trabalho de Titaan, ou de Lalartu, visto este ser um one man project. Pouco se sabe sobre este projecto para lá de que este é o 2.º Longa-duração e… nada mais.

No que à música se refere, este é sem dúvida alguma um trabalho difícil de digerir. A extensão do mesmo, já referida, mais a complexidade do som, fazem com que seja uma “Besta” desafiante.

Dark Ambient com vários elementos de Black Metal. Este é o core do álbum. “ITIMA”, uma montanha-russa de emoções e picos: atmosferas calmas e cativantes, rasgos de pura e crua violência. Somos arrastados por caminhos tumultuosos, constantemente agredidos, a cada passo que damos. O peso emocional é tremendo. A estrutura básica/típica de uma música, existe aqui, ainda que trabalhado de um modo mais dinâmico. Em que sentido?! Trabalhar uma faixa, acima dos 40 minutos, exige uma capacidade de elaborar/criar pontos de fuga. Não podemos, de modo algum, prolongar o Riff ad infinitum (caramba, nem todos são o Tio Stephen e o Tio Greg), sem querer perder o interesse da parte do ouvinte. E, mais do que isso, é a natureza da sonoridade. Como dito ao início, este trabalho vive no Dark Ambient – com imensos coros gregorianos pelo meio – e a descarada descarga de violência, mais Black Metal! Devastador! A parede de som é deveras avassaladora! A Wall of Sound, heavy as f@ck! Mas não prende, não me atropela com emoção ou atmosfera… e as vocalizações?! À altura do som. Minuto 30:14… esta transição descreve exactamente o dinamismo que lhe aponto! Passamos de uma selvajaria maquinal/fabril, para uma serenidade… peculiar.

Bandas/projectos comparáveis?! Pessoalmente, desconheço. Quiçá aqueles que conseguem assimilar Deathspell Omega ou Blut aus Nord, encontrarão aqui pontos de interesse. Façam a viagem, desfrutem daquilo que a desolação maquinal vos dá, abracem a desgraça humana, personificada na Música. Tremendamente avassalador, sobremaneira intrigante.

Pontos fortes: as secções calmas, serenas, isentas de violência.

6/10
Daniel Pinheiro

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