WOM Reviews – Seth / Völniir / Caedes Cruenta / Necrophagia / Sagenland / Hån / Rvbber Vvitch / DSKNT / Midnight Betrothed
WOM Reviews – Seth / Völniir / Caedes Cruenta / Necrophagia / Sagenland / Hån / Rvbber Vvitch / DSKNT / Midnight Betrothed
Seth – “La Morsure Du Christ”
2021 – Season Of Mist
Provenientes do núcleo duro do Black Metal Francês e após uma longa ausência os Seth estão de volta com o seu sexto álbum de originais “La Morsure Du Christ”. Foi preciso esperar oito anos para termos finalmente o sucessor do formidável “The Howling Spirit”, no entanto acho que a espera foi de alguma forma recompensada. Arriscaram e muito os Seth ao fazer um álbum todo ele na sua língua materna e esse factor podia à partida ser até ser considerado uma forma de sobranceria, no entanto quando se percebe o conceito por trás de “La Morsure Du Christ” não só faz todo o sentido como funciona na perfeição. Com uma fabulosa capa onde se pode ver a Catedral de Notre-Dame em chamas relembrando o trágico incêndio os Seth estabelecem um interessante e inquietante paralelismo entre a simbologia do incidente e o consequente declínio do Cristianismo com maior incidência no último seculo. Na vertente instrumental os Seth recuperaram em “La Morsure Du Christ” um pestilento e mefistofélico romantismo do Black Metal dos anos 90 exponenciado por riffs apaixonantes e destemidos envolvidos num ambiente simultaneamente místico e diabólico.
8.5/10
Fernando Ferreira
Völniir – “All Hope Abandon”
2021 – Church Of Eradication
Primeiro contacto com os britânicos foi neste seu álbum de estreia – já tinham lançado em 2017 o EP “The Enigma” – e foi uma boa forma de começar uma relação. “All Hope Abandon” tem aquilo que o seu título sugere: ódio, rispidez e aquela frieza que é essencial ao black metal. E não dispensa para isso a melodia. Aliás, a melodia acentua precisamente esse efeito, já que a mesma é sempre macabra. Claro que a produção crua mas poderosa (aquele som de guitarras é perfeito) também tem grande impacto no produto final. Sem grandes esforços, sente-se logo que estamos perante um álbum clássico. E no black metal esse é, creio eu, um dos maiores elogios que se possa fazer. Os temas são longos q.b. mas dinâmicos e esta estreia aponta os Völniir como uma das grandes forças do black metal britânico a surgir agora em 2021.
9/10
Fernando Ferreira
Caedes Cruenta – “Of Ritual Necrophagia And Mysterious Ghoul Cults”
2021 – Helter Skelter / Regain Records
Há qualquer coisa em certos países que conseguem apresentar traços característicos em certos estilos. A Grécia e o seu black metal são bons exemplos disso mesmo. Terceiro álbum que traz um black metal sujo a puxar à segunda vaga mas também com muito daquilo que já antecipava: melodias invulgares, os teclados usados com sobriedade (tirando talvez a intro desnecessária na “The Mystical Ritual Of The Dark Priests” e as guitarras a trazem tanto a violência como também a melodia – muitas das vezes com solos que juntam as duas varientes. Um passo no caos, outro na melodia, é algo que se pode usar para definir. O título do álbum é invulgarmente longo, mas também a própria duração é pouco usual, chegando a ultrapassar a hora de duração. E contudo, não é um álbum que traga cansaço. A mim pelo menos, não. Graças a dinâmicas que suportam temas de oito minutos sem problemas (logo dois a abrir o álbum, é de coragem). Ainda assim, consigo perceber quem sinta que é demasiado – afinal é composto por oito temas e apenas um não passa a marca dos sete/oito minutos. Para amantes do underground negro.
8/10
Fernando Ferreira
Sagenland – “Oale Groond”
2021 – Heidens Hart Records
Embora não seja uma estreia discográfica este primeiro álbum quase que tem esse sabor já que o split Vargulf já tem mais de quinze anos. Este duo holandês traz um black metal ligeiramente melódico e ligeiramente épico, isto sem apresentar as características comuns ao género, ou seja, temas longos e ganchos à base de teclados ou até mesmo guitarras acústicas (que temos aqui na forma de interlúdios). É um álbum curto – em pouco mais de meia hora – mas que tem tudo na proporção certa para nos deixar agarrados. Impressionante é a forma como as guitarras conseguem deixar-nos logo reféns. Devo dizer que o meu problema com este álbum é mesmo a duração, porque aguentaríamos muito bem mais dois temas ou três mas no final, apesar deste apontamento, trata-se deuma estreia sólida a relembrar os tempos áureos do metal extremo, na década de noventa.
8/10
Fernando Ferreira
Hån – “Breathing The Void”
2021 – Northern Silence Productions
Agradável surpresa, os suiços Hån. A sua sonoridade é bastante tradicional mas o factok de aparecer numa editora como a Northern Silence Productions, é de me deixar atento. E até se percebe a razão da aposta da editora. Afinal, a tradicionalidade do formato das suas canções encaixa perfeitamente no alto teor melódico (de uma forma perfeitamente grim e metálica) das suas canções. Chamar a este trabalho Black Metal Melódico será certamente algo que não encaixa mas não deixa de ter uma pontada de sentido. Fiquei com vontade de ouvir o álbum de estreia “Facilis Descensus Averni” para verificar se estes elementos já lá estavam presentes.
8/10
Fernando Ferreira
Rvbber Vvitch – “Mastvrbations Malveillantes MMXVII”
2019 / 2021 – Werewolf Records
São as pequenas coisas. Como dizer “bom dia”, pequenas e mundanas coisas que perdem o sentido quando se é confrontado com tal intensidade e sujidade. Este trabalho editado em nome próprio e de forma digital vê agora a luz do dia em formato físico pela Werewolf records. A entidade Rvber Wvitch é solitária no tratamento (abuso) musical que nos presenteia aqui, uma sonoridade familiar para quem assistiu no início do século às incursões que o black metal teve pelo industrial. Esta é uma abordagem tradicional se lhe podemos chamar assim, que segue esse modelo e consegue apresentar algo bom. Perturbante mas muito bom. Que é frio, maquinal, doentio e distila óleo como a centralcer destila cerveja. Poderá ser um regresso a esse passado com um abrir de um novo mundo. Será bom, garantimos. Perturbante mas mesmo muito bom.
8/10
Fernando Ferreira
DSKNT – “Vacuum γ-Noise Transition”
2021 – Sentient Ruin Laboratories
Destruição e perdição. Não como actos finitos mas como algo contínuo que continua a acontecer ad eternum. É o que se sente durante os quarenta e três minutos que dura “Vacuum γ-Noise Transition” e até esse espaço temporal bem concrete parece ser esticado e distorcido para além do que seria entendido na nossa realidade. É o poder do segundo álbum dos suiços DSKNT, onde uma tradição de negritude se une ao factor do death metal mais cavernoso e traz um álbum que não só é aquilo que se antecipava como ainda mais. Denso e com uma atmosfera marcante, são exactamente essas mesmas qualidades que tornam este trabalho tão hermético e fechado aos que não apreciam uma proposta unidimensional que apresenta doses cavalares de trevas e escuridão.
7.5/10
Fernando Ferreira
Midnight Betrothed – “Bewitched by Destiny’s Gaze“
2021 – Atrocity Altar / Livor Mortis / Northern Silence Productions
Interessante compilação que junta as duas demos lançadas por esta one-man band levada a cabo pelo misterioso músico (ou entidade) The Seer. Interessante porque é podre como tudo. É um verdadeiro regresso ao passado, quando os Dimmu Borgir e Summoning davam os primeiros passos (estes últimos nunca chegaram a aprimorar o seu som) naquilo que é designado como Sombre Romantic Black Metal. Que na prática é uma mistura de dungeon synth com black metal mas com as guitarras enterradas sobre o piano – duvido até que tenha guitarras. Para quem viveu no underground na década de noventa vai encontrar aqui algumas razões para sorrir. A quantidade de tempo que esse sorriso dura já vai depender do tamanho desse amor. Ficam as melodias, algumas inesperadamente… doces, e a curiosidade. Apenas isso.
6/10
Fernando Ferreira