WOM Reviews – Threestepstotheocean / Wolfredt / Comatose / Nitritono / Karg / Astral Experience / Pekka Laine / 3 Dreams Never Dreamt
WOM Reviews – Threestepstotheocean / Wolfredt / Comatose / Nitritono / Karg / Astral Experience / Pekka Laine / 3 Dreams Never Dreamt
Threestepstotheocean – “Del Fuoco”
2020 – Werewolf Records
Depois de três demos na primeira década do milénio, os Fastian Pact apresentam um álbum que parece que até é mais antigo, vindo da década de noventa. Aquele black metal ligeiramente melódico ainda que algo cru. Tem um encanto muito próprio. Encanto do passado mas que é válido tanto agora como o seria na altura. Talvez este seja um trabalho que está voltado para o passado, não existem dúvidas em relação a isso… no entanto, não deixa de ser inegavelmente cativante e eficaz. Uma boa surpresa a provar que por vezes as expectativas crescem e são correspondidas.
8.5/10
Fernando Ferreira
Wolfredt – “Tides”
2020 – Moment Of Collapse Records
Este era um projecto solitário que foi expandido a quarteto, e “Tides”, o terceiro álbum de Wolfredt, é o primeiro que é produto desta nova era. “Tides” é como que uma série de mantras – sete para ser exacto – que se dotam de diversas armas mas cuja aquela que é usada como mestria é a repetição. Todo o pós-rock consiste na construção paciente (tanto por parte da banda como por parte do ouvinte) de uma obra composta por diversas peças e a cada nova peça adicionada, há um entusiasmo redobrado que faz com que a repetição seja vista e sentida como um ponto de prazer e não uma tortura. De uma forma simplista podemos dizer que esse é o modus operandi da banda. Simplista porque existe por aqui muito mais. De uma forma simplista podemos dizer que resulta. Simplista porque na realidade vicia. Certas coisas não precisam de explicação, apenas de apreciação.
9/10
Fernando Ferreira
Comatose – “A Way Back”
2021 – Transcending Records
Continuamos a receber álbuns de estreia em catadupa e todos eles têm conseguido demonstrar, bem ou mal, algo de único. É uma boa forma de tomarmos contacto com a boa saúde criativa da música pesada. Apesar de contar com membros de Amiensus e Chrome Waves, a sonoridade é refrescante – há obviamente alguns pontos em comum onde se faz a devida ligação, sobretudo na ligação às atmosferas criadas. O foco é totalmente diferente, uma mistura entre rock alternativo e shoegaze, como sob aquela base de distorção adorável que os Type O’Negative tinham, um bocado mais assanhada. Um álbum (e até nome de grupo) inspirado pelo estado actual de coisas pelas gerações vindouras que se arriscam a permanecer num estado avançado de… comatose. A sonoridade poderá ser o grande inimigo mas passando por cima da distorção que faz lembrar enxame de vespas, fica um grande disco de estreia.
8.5/10
Fernando Ferreira
Nitritono – “Eremo”
2020 – I Dischi del Minollo / Shove Records / Vollmer Industries / Brigante Records and Productions / Longrail Records
Duo italiano que tem dom único de criar tapeçarias sonoras que envolvem mas não é um abraço doce, apesar de algo confortante. Aliás, acrescento que é tanto perturbante como confortante. Alguns dos trejeitos do pós-rock estão presentes – eu diria que muitos deles, apesar do rótulo “noise” com que o duo nos é apresentado – e a atmosfera que criam é o principal. Atmosferas, porque este não é um trabalho unidimensional. A percussão é a base – bem multifacetada – e a guitarra guia-nos pela atmosfera e espaço. Mas não é só isso, até porque essas atmosferas por vezes caem bem na terra, são viscerais. Uma espécie de pós-rock terreno e que nos leva tão alto no céu como tão fundo na terra. Maioritariamente instrumental excepção feita por alguns gritos que apetecem dar, até pelo ouvinte, como êxtase e climax de emoções.
8.5/10
Fernando Ferreira
Karg – “Resilienz”
2020 / 2021 – AOP Records
Capa de belo efeito e que a modos que cria logo a atmosfera para que vamos poder ouvir neste EP dos Karg, que o editaram em formato digital de forma independente pouco tempo depois do seu último álbum de originais mas que agora vê o mesmo a ser reeditado pela AOP Records em vinil e CD. Nos dias que correm, provavelmente aquilo que podem estar a pensar é, valerá a pena estas reedições que já foram disponibilizadas anteriormente apenas de forma digital? Vai sempre depender da obra (e de quem a aprecia, obviamente) mas posso dizer que “Resilienz” é um trabalho que mesmo sendo composto por apenas dois temas (um com quase quinze minutos e outro com vinte), vale o investimento já que traz muito daquela ambiência atmosférica e ao mesmo tempo melancólica que já conhecemos da banda, sem esquecer aquela dose de desespero. E até acaba por ser uma boa sonora para 2021.
8.5/10
Fernando Ferreira
Astral Experience – “Infléxion”
2019 – Rock-CD Records
Este priimeiro contacto com a banda espanhola foi muito bom. Instrumentalmente de topo, com um metal progressivo a lembrar um misto de Symphony X (menos neo-clássicos) e Redemption (igualmente pesados). O único problema – que não é propriamente problema, é o facto estranho em que ser cantado em castelhano poderá causar um efeito estranho para quem não está habituado ou até mesmo para quem não gosta de variações ao inglês. É mesmo um preconceito que merece ser ultrapassado já que a voz de Ovidi Bea está perfeita para este estilo de música e a qualidade que evidenciam é demolidora. Este é um trabalho que entra sem espinhas para os fãs de metal progressivo (das bandas atrás enunciadas e outras tantas) mas numa vertente mais concentrada – não existem grandes devaneios e épicos, com a duração dos temas a andar na ordem dos quatro e cinco minutos.
8.5/10
Fernando Ferreira
Pekka Laine – “The Enchanted Guitar Of Pekka Laine”
2020 – Edição de Autor
Apesar de na sua génese o som do duo Aspidium seja bastante directo, consegue-se apanhar uns pormenores melódicos bem interessantes. Algo que não seria expectável numa proposta de black/death metal. Esse até é um pormenor que vamos interiorizando bem, já que faz bem no que à dinâmica diz respeito. A questão é que conforme o álbum vai avançando, essa dinâmica vai-se tornando progressivamente menos eficaz e instala-se uma certa tendência para o marasmo onde a repetição não é definitivamente benéfica.
6/10
Fernando Ferreira
3 Dreams Never Dreamt – “Another Vivid Detail”
2021 – My Kingdom Music
As descrições ambíguas do metal avantgarde com mistura de progressivo e gótico – assim um exemplo aleatório – costumam-me irritar, principalmente quando se vai ouvir e o que temos é claramente um rock/metal progressivo. Peculiar, é certo, mas claramente rock/metal progressivo. E do bom, tem que se referir. A melodia e melancolia andam as duas de mãos dadas e sem dúvida que as duas são o grande ponto de atracção, ficando para trás as questões da exibição técnica ou até de complexidade das estruturas dos temas – que estão longe de serem também simples, convém salientar. “Another Vivid Detail” é um álbum que surpreende e cativa, sem grandes dificuldades, havendo o amor pelo progressivo, é claro.
7.5/10
Fernando Ferreira