WOM Reviews – Vermisst / Graveir / Serment / Precambrian / Voodus / Oxalate / Perpetuated / Blood Spore / Vivisect / Antichrist / Goatsmegma / Nekus
WOM Reviews – Vermisst / Graveir / Serment / Precambrian / Voodus / Oxalate / Perpetuated / Blood Spore / Vivisect / Antichrist / Goatsmegma / Nekus
Vermisst – “Zmierzch Stalowej Ciemności”
2020 – Signal Rex
E a jornada continua. Surgimentos sombrios e ameaçadores superam a nossa frágil existência humana, levando-nos a um vazio sem fim de desespero e morte. Da Polónia, com ódio! Requintado, ouso dizer. Desde o início, desde o primeiro segundo em que pressionamos play, estes polacos levam-nos numa viagem de qual definitivamente se arrependerá … ou estimará para o resto da sua existência fútil.
No entanto, ele retém essa melodia peculiar, escondida detrás de uma parede de som “barulhenta”. É delicadamente escondido, como uma figura frágil necessitada de um lugar seguro onde possa libertar toda a sua ira, em momentos muito precisos. O uso de sintetizadores adiciona muitas camadas, muita riqueza ao som da banda. Como um ambiente medieval, como uma masmorra, essa é a sensação que sai de cada nota, de cada riff de guitarra. Este é um trabalho muito especial de Black Metal, por mais infantil que esse comentário possa parecer. Ele encarna essa estética sonora que tanto aprecio. Raw, mas perfeito; essa calorosa e envolvente melodia que atravessa o seu Ser, deixando-o espalhado pelo chão. Polaco. Lançamento incrível, simplesmente incrível.
9/10
Daniel Pinheiro
Graveir – “King of the Silent World”
2020 – Impure Sounds
A Música será sempre um universo criativo sujeito às vontades daqueles que se arriscam a tal, aqueles que se dão, com vista a atingir A ou B. No campo do Black Metal, à semelhança da grande maioria dos subgéneros do Heavy Metal, cresce com os seus adeptos e com as mutações que o Som “sofre” com o passar dos tempos. Os Graveir, naturais de Brisbane, Austrália, traçam mais um traço na cadeia evolutiva do Black Metal. Formados em 2014, em 2016 editam a primeira Demo em 2015 – “Caloian” – e o primeiro álbum – “Iconostasis” – em 2016. Desde então editaram um Split com Mar Mortuum, em 2017, e o EP, “Cenotaph”, em 2018. A qualidade de muito do Black Metal que se faz na Austrália, é sobejamente conhecido. Dos mais conhecidos Drowning the Light ou Striborg, aos bélicos Diocletian, passando por 456575859 outros, estes Graveir apresentam algo distinto dos referidos – e de muitos não referidos. As atmosferas criadas, doces e ásperas, embalam o ouvinte (“Bathed in Acheron”) num delicado manto de escuridão e pesar. Sentimental e emotivo, assim o vejo, assim o pinto, assim o senti. Diversos momentos em que esquecemos que este é, ainda, um trabalho de Black Metal. Alcest veme-me à memória. Calma, não é Shoegaze! É delicado e “doce”, sem deixar de ser incisivo e fulminante. As variações de pace são imensamente bem executadas! Cortes, que soariam abruptos, acabam por ajudar a criar um dinamismo poucas vezes ouvido no Black Metal actual. Mas é, este trabalho, 100% Black Metal? Não, de modo algum, não na totalidade daquilo que nos apresenta. Batidas fortes e seguras, estruturadas; guitarras melódicas e ricas em fluidez. “In Remnant Light”, ou quando a bateria toma o controlo da máquina. O já referido ritmo / batida forte, demarcada dos demais instrumentos, altiva e dominadora… óptimo. Regressamos a ritmos mais “lentos” e cadentes, uma desacelaração e temos “Immacolata”, marcada pelo seu ritmo lento e denso. Há, sim, um aspecto que me agrada menos: a extensão de cada um dos temas, sendo que o mais curto tem 3 minutos e 47 segundos, e o mais longo 7 minutos e 38 segundos, sendo este o tema que encerra o álbum. Overall, é um trabalho que pede mais que uma audição, é um trabalho que pede concentração aquando da mesma, é um trabalho que dá um passo em frente no que às evoluções musicais, mais associadas ao Black Metal, se refere. Não reinventa a roda, mas não recorre ao mais básico para se fazer ouvir. Pelo contrário, tenta afastar-se das premissas mais básicas do género, adicionando elementos que engrandecem a obra.
9/10
Daniel Pinheiro
Serment – “Chante, Ô Flamme De La Liberté”
2020 – Sepulchral Productions
Interessante. Quando penso em black metal atmosférico, é precisamente este tipo de som que me ocorre, mas ultimamente o termo tem andado em desuso, convencionando-se a chamar tudo o que seja mais melódico simplesmente de pós-black metal. Bem, esta é uma proposta à antiga, que nos remete para o underground do início do milénio, onde a melodia era um ponto importante mas não era visto ou sentido como uma concessão em busca de maior reconhecimento ou popularidade. A produção é crua, pouco definida, havendo uma amálgama sonora que engloba, bateria, guitarras e teclados – provavelmente há baixo também mas o mesmo não é discernível. E é bom. Principalmente porque as melodias chave são boas, construídas de forma inteligente. Pode-se acusar de ser unidimensional e provavelmente vão achar aborrecido porque, e sejamos honestos, durante as músicas (na sua maioria) longas, não existem grandes variações. Mas a questão é que… aos meus ouvidos, isto resulta. Consegue criar a atmosfera e envolve o ouvinte. Missão cumprida.
8/10
Fernando Ferreira
Precambrian – “Tectonics”
2020 – Primitive Reaction
Já muita vezes falamos de música unidimensional, mas esta estreia dos Precambrian é sem dúvida um exemplo perfeito. Os ucranianos Precambrian existem há seis anos e após lançarem alguns Eps (e uma compilação) chegam com um estrondo a este álbum – álbum que poderia ser um EP já que conta apenas com cinco temas em menos de meia hora de música. Poderia dizer que lhe faltam dinâmicas, que falta as nuances que ainda fazem com que se sinta muito mais a violência. Poderia dizer mas acaba por não se justificar, já que sendo curto, o impacto que fica continua a ser grande. Ou seja, o impacto de irmos contra uma parede sem conseguir ou sequer querer abrandar.
8/10
Fernando Ferreira
Voodus – “Open the Otherness”
2020 – Shadow Records / Regain Records
Kungälv, Västra Götaland, localizada a Sul da Suécia, contava com 24 511 habitantes em 2018 (Censos). Encontra-se a 20 kms de Gotemburgo e alberga a Fortaleza de Bohus. Uma pequena contextualização quase Wikipediana do local de origem deste quarteto sueco, Voodus, que edita este ano o EP “Open the Otherness”, um misto de Black Metal melódico com Doom Metal (clássico) e “pinceladas” de um Post Rock mais abrasivo. Ambiências delicadas e doces cruzam-se com acessos de raiva – controlada – causadas pela costela mais Black Metal da banda. 2 temas deveras longos (13:10 e 11:16) pelos quais é relativamente fácil “navegar”. A junção de elementos, a estrutura dos temas, a construção final apresentada, é acessível ao ouvinte, o que poderá ser prejudicial para a banda. A ver: esta fácil assimilação poderá afastar o ouvinte de uma 2.ª, 3.ª, 4.ª ou mais, audições. Não é desafiante q.b., não se impõe como um puzzle, um mistério a desvendar. Tal como uns Watain ou uns Dissection, estes Voodus apoiam-se na melodia para criar Música, aquela característica tão própria do Heavy Metal sueco. O recurso a pequenos – ou menos pequenos – solos de guitarra, as melodias arrastadas, mas simples, a bateria que se faz ouvir e que marca passo, todos estes elementos ajudam a fazer, deste trabalho, daqueles que agradará aos fãs de Heavy Metal sueco, melódico, sem dúvida, mas que saberá sempre a pouco para aqueles que, mesmo sendo apreciadores do referido “género”, querem algo mais. Overall é um trabalho agradável, sem quebrar o molde, sem arriscar.
7/10
Daniel Pinheiro
Oxalate / Perpetuated / Blood Spore / Vivisect – “4 Way Split”
2020 – Blood Harvest
Quando lemos Blood Harvest sabemos que podemos contar, salvo excepções, com Death Metal. Casa de bandas como Tomb Mold, Lvcifyre ou Ossarium, podemos, ainda assim, encontrar bom Black Metal como Sartegos. Mas o banquete, hoje, não é servido pelas Trevas. Ao invés, teremos Mestres do Gore e do Desmembramento. É, sim, de 4 bandas da nova vaga de Death Metal Norte-americano, todas elas formadas nos últimos 3 anos. Os Oxalate dão início às festividades com um pequeno Intro, seguindo de imediato para o seu festim. Apesar de não ser conhecedor da banda, a sua linha de Death Metal soou bastante bem, com detalhes bem Old-school e momentos que me recordaram os imensos Necros Christos (sendo que foram somente momentos, atenção). Nem demasiado acelerado, ou demasiado lento, o ímpeto da malha vai variando, dando dinamismo, crescendo e uma fluidez bastante agradável; de seguida somos recebidos pelos Perpetuated. Aqui sim, temos uma descarga bem diferente. Fast as Fuck, Harsh as Hell. Uma batida muito Old-school, muito Norte-americana, por assim dizer. Guitar solo, go! Um groove muito marcado, com um balanço non-stop; este nosso menu ensanguentado traz-nos, agora, Blood Spore. Menos lineares que as anteriores, que claramente vivem no universo do DM, estes Blood Spore apresentam-nos uma malha muito mais lenta que as anteriores, riffs de guitarra perdidas entre o Death Metal e, quiçá, um Black Metal mais antigo e, também ele, perdido entre géneros. As vocalizações são muito boas, quase faladas, com oque declamando o relatório policial do Dahmer. Ok… entraram no reino do Death Metal. Ainda assim, muito bom; sobremesa? Vivisect. Lento e denso. Claríssimo Death Metal, claríssimo. Groovy as fuck! O riff inicial de guitarra carrega a malha até dar entrada de um riff ainda mais dominador e pesado. Ufff… que descarga, mesmo para mim, que não fui vez alguma apreciador de Death Metal ahahah esqueçam! Fãs de DM antigo e impregnado de pó e o raio?! Sigam o vosso caminho em direcção destes senhores. De um modo geral, e apesar de não ser adepto do género, consigo encontrar elementos, pormenores que de destacam. Terei pontos de comparação? Sim, tenho. O facto de não ser fã do género não significa que desconheça o mesmo. Assim sendo, este menu tem um pouco de tudo, o que agradará a todos: aos fãs de bifanas e aos fãs de coq au vin. Degustem a metáfora…
7/10
Daniel Pinheiro
Antichrist / Goatsmegma – “Split”
2020 – Nuclear War Now! Productions
Canada and Estonia connection! Bring it! Formados em 1990, no Canadá, 2011 viu a edição do primeiro trabalho da banda – “Sacrament of Blood” – um portento de Black / Death na linha daquilo que foi criado pelos conterrâneos Blasphemy. Straightforward Bestial Black Death Metal, ponto. Neste Split a fórmula continua a ser a mesma, o que agradará aos que apreciam o nome anteriormente referido; a todos aqueles que nunca se deixaram seduzir pela sonoridade, arrisco dizer que não será desta. Não que seja um som imensamente trabalhado ou tecnicamente evoluido. É, sim, uma sonoridade possuidora de uma energia particular – e peculiar – agarrando o ouvinte pelo pescoço, sem contemplações. O outro lado deste Split é ocupado pelo Goatsmegma – os nomes indicam o caminho, não haja dúvida – e vêm da Estónia. Formados em 2018, este é, à semelhança dos parceiros de edição, o 2.º trabalho editado desde o início da carreira. Tal como os Antichrist, estes estónios “vivem” no terreno do Bestial Black Death Metal, seguindo os passos de bandas como Black Witchery. Incessantes descargas de agressividade e uma incansável batida bélica. Um tanto ou quanto mais unidimensionais que os Antichrist, os Goatsmegma apresentam-nos aqui 1 intro e 4 temas, muito similares, sem grande dinamismo ou alterações ritmicas. Um degrau abaixo dos canadenses. De um modo geral, e fosse este um desafio, a taça iria para o Canadá. Não que os canadenses sejam, para mim, os reais sucessores dos Blasphemy, mas dentro do subgénero são uma aposta mais válida que os estónios.
6/10
Daniel Pinheiro
Nekus – “Death Nova Upon The Barren Harvest”
2020 – Blood Harvest
Primeiro lançamento dos Nekus, dos quais não se sabe grande coisa a não ser apenas que são três, a acreditar nas fotos promocionais, e não fiquei impressionando. Black/death metal cavernoso, com riffs repetitivos, ora uptempo, ora num midtempo a “doomar”. As vocalizações que dão ideia de que são apenas urros (não que os guturais se percebam normalmente – com prática chega-se lá – mas pelo menos façam um esforço de tentar fazer parecer que estão a dizer algo) também não trazem dinâmica acrescida, e no final não fica muito. Recomendado para quem aprecia da luta entre o death e o black metal e o primeiro sai vencedor, mas visivelmente ferido.
4/10
Fernando Ferreira