WOM Rockspot – Outeiro Metal Fest
A World Of Metal tem andado a percorrer o país em busca dos sítios onde a música pesada tem tratamento vip e como tal não poderíamos deixar de falar do Outeiro Metal Fest, evento do qual somos parceiros e que se vai realizar nos próximos dias 13 e 14 de Setembro, e que representa uma tendência que saudamos, de ver que a música pesada não se limita aos grandes pólos habitacionais do nosso país. Que há quem tenha a coragem e paixão por levar o som sagrado até ao interior de Portugal, neste caso, até Chaves. Conversámos com Pedro Freitas, da organização do Outeiro Metal Fest sobre o festival e sobre a nossa cena em expansão e os desafios encontrados nesse crescimento. – por Rosa Soares / Fotos por Kévin Cruz
Como surgiu a ideia de fazer um festival, no interior norte de Portugal, dedicado a música mais extrema?
Antes de mais queremos começar por agradecer à World Of Metal por esta entrevista e por tudo que têm feito pelo Metal em Portugal. Agora focando na pergunta, a ideia surgiu depois de alguns anos a sentirmos a falta de um evento que se foque em géneros muitas vezes deixados de lado no mundo do metal em Portugal, especialmente na nossa zona de Trás-os-Montes, onde as apostas neste campo é praticamente nula. Como a maior parte da organização é natural da zona de Chaves, sentimos na pele o que é não haver um evento marcante durante anos a fio, então decidimos mudar um pouco o paradigma.
Esta é a segunda edição do Outeiro Metal Fest, o que significa que a primeira edição correspondeu às expectativas. O que é que mudaram/melhoraram?
A primeira edição foi como uma caixa de pandora onde não sabíamos o que poderíamos encontrar. A verdade é que foi um sucesso a vários níveis, tanto na adesão de um público da região, do litoral e até mesmo vários grupos espanhóis. A qualidade em palco das bandas também superou as nossas expectativas e toda a logística que conseguimos montar para conseguir um festival diferente e com bastante qualidade. Para esta edição temos muitas novidades prontas a serem postas à prova, desde os copos reutilizáveis para reduzir o desperdício do festival, muitos mais produtos exclusivos do festival, um aumento em toda a área envolvente com bancas de merch, comida e bebidas, a adição de uma mini revista com todas as informações do festival. O objectivo é tornar o Outeiro Metal Fest num festival com bastante personalidade e de ano para ano construir um evento marcante neste nicho em Portugal.
Actualmente, de norte a sul do país, assiste-se a um “boom” de festivais e eventos dedicados ao metal. Se por um lado é bom e dá visibilidade às bandas, não temem, por outro lado, que se comece a dispersar público e a ser repetitivo?
Pensamos no Outeiro Metal Fest como um festival com espaço para crescer, assim como outros festivais, mas é preciso dar um passo de cada vez sem cometer o erro de querer fazer tudo numa edição e de seguida não ter forma de conseguir suportar tal crescimento. Nós temos uma ideia bem estruturada do que queremos fazer e como queremos fazer e sabemos que temos um público que se pode ir tornando fiel aos poucos. Para isso focamo-nos em oferecer propostas um pouco diferentes daquilo que se vai fazendo em outros eventos pelo país de forma a criarmos uma identidade própria. Há imensas novas correntes de metal bem refrescantes por aí a despontar.
É fácil trazer público a Chaves? A proximidade de Espanha e a presença de bandas galegas, é apelativo para o público espanhol?
Algumas pessoas ainda pensam na zona de Trás-os-Montes como uma zona remota e perdida nas montanhas, mas isso já não acontece e a maior parte das pessoas sabe que não é difícil chegar a Chaves. Em menos de duas horas faz-se uma viagem a partir do Porto e, pelo que vimos na primeira edição, tivemos um bom número de público a vir de várias partes do país e até mesmo de Espanha. Este ano temos uma parceria com a Strike Tours e vamos ter um shuttle diretamente do Porto até Outeiro Seco. Sobre o público espanhol, claro que sim. É um público que adora festivais e concertos e a aposta em bandas galegas e de outras partes de Espanha é um dos grandes focos para o futuro do Outeiro Metal Fest.
Organizar um evento destes implica muita dedicação, tempo e trabalho. Querem contar-nos um pouco a vossa experiência?
Alguns de nós já tínhamos alguma experiência a organizar alguns eventos na região e até mesmo fora dela, mas um festival é sempre um festival. Foi desde o início uma aventura, desde criar parcerias, comunicação, contactos com vários tipos de entidades e muito tempo de dedicação. Qualquer pessoa que esteja envolvida neste projeto não se deve arrepender pois chegamos a 2019 com uma bagagem que nos dá muito mais espaço para descontrair e verdadeiramente viver toda a experiência. Desde o primeiro dia que decidimos que o festival iria ser uma espécie de DIY Fest, onde tudo que fosse implementado iria ser construído ou criado com as nossas próprias mãos, desde estruturas até mesmo ao pormenor mais insignificante que teríamos de tentar tornar possível. Mas o mais importante é ter as pessoas certas ao nosso lado e criar uma equipa coesa com o mesmo objetivo: fazer o melhor festival que poderá estar ao nosso alcance.
Quando pensaram neste projeto, tinham, provavelmente, uma ideia daquilo que iriam encontrar… costuma-se dizer que todas as paixões têm um pouco de ingenuidade mas no vosso caso como foi? A realidade do que é organizar um festival correspondeu às vossas expectativas?
Quando decidimos levar esta ideia avante houve bastante receio entre nós que a coisa podia não correr bem mas a verdade é que a primeira edição acabou por ser muito acima das nossas expectativas, em todos os níveis. A partir daí, temos o objetivo de continuamente superarmo-nos e estamos com muita ilusão de criar algo único nesta zona. A minha opinião pessoal é que se uma pessoa quer fazer algo e tem o material para o conseguir realizar, então tudo se pode tornar possível, até mesmo a aposta mais remota e complexa se pode tornar real e resultar. Se no final não corresponder às expectativas, até pode ser bom para o resultado final do projeto, pois aprendemos e tentamos não voltar a errar.
Que festival nacional admiram e qual foi aquele que, ainda que indirectamente, tomaram como influência?
SWR Barroselas, sem dúvida. Provavelmente o festival mais criativo que temos em território nacional e que verdadeiramente é feito por fãs para fãs. Toda a organização do festival, principalmente os irmãos Veiga, sabem como evoluir o SWR de ano para ano e toda a história do festival é um grande exemplo para qualquer evento que seja realizado em qualquer parte do país e do mundo. O metal underground em Portugal deve-lhes muito, um abraço e um obrigado para eles.
Uma pergunta provocatória… O nosso underground é rico o suficiente que dispense totalmente as bandas internacionais?
O nosso underground é bastante rico em inúmeros géneros, mas muitas vezes é mais um problema de aceitação por parte do público do que qualidade das bandas. Veja-se o caso dos Gaerea, que têm tido uma projeção internacional muito grande nos últimos meses. Nós temos como objetivo dar a conhecer projetos cativantes do nosso underground, mas não nos limitamos pelas fronteiras. Tal como no nosso, também o underground de muitos outros países tem inúmeras bandas a despontar. O mais importante é não haver preconceitos e estar-se aberto a ouvir novas coisas, sejam elas nacionais ou não. Com o tempo queremos que o nosso público, mesmo não conhecendo certa banda que trazemos, saiba que vai ter ali um bom concerto e um novo projeto cativante para descobrir. Para não haver saturação ou ser apenas só mais um festival, é preciso pensar-se fora do comum e fora da caixa. Nesta edição apostamos em géneros menos convencionais em eventos deste tipo, como Post-Metal dos FERE, o punk mais corrosivo dos Systemik Violence, passando pelo Black Metal bem imersivo dos Gaerea, sem esquecer o Sludge dos Redemptus, etc.
O que podemos esperar do futuro do Outeiro Metal Fest?
O passo mais difícil está dado, agora é continuar a crescer de ano para ano, com cartazes cada vez mais apelativos e um recinto que deixe saudades. O Outeiro Metal Fest veio para ficar, isso é certo.
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