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WOM Tops – Top 20 Folk 2019

WOM Tops – Top 20 Folk 2019

Poderão questionar-se sobre porque que raio tem a World Of Metal tem um top referente a folk. É uma questão legítima mas o que podemos dizer é, de uma forma preguiçosa, se temos um Top 20 de folk, é porque efectivamente tivemos muitas propostas destas a passarem-nos pela nossa secretária de trabalho. A explicação mais longa e cuidada é porque o folk é daqueles géneros que ecoam, desde há muito tempo na música pesada. E normalmente os fãs das sonoridades abertas acabam por absorver muito bem estas sonoridades – obviamente que as misturas com o metal ajudaram em muito mas isso já é assunto para outro dia. Ou outros tops.

20 – HC Slim – “Sings”

Svart Records

A Svart Records viajou até ao interior da Finlândia para oferecer ao artista folk H.C. Slim a oportunidade de lançar um primeiro álbum. Desta parceria nasceu “Sings”, obra esta que será lançada no próximo dia 24 de Maio de 2019. Um artista considerado visionário e algo de rebelde naquilo que prega com as suas canções, faz-nos chegar um álbum que tem tanto de religioso como de profético. Os seus temas prestam-se muito a sons melancólicos, tanto na voz como na guitarra, sons estes que ressoam dentro de nós. H.C. Slim tem uma voz doce e suave, até um tanto triste, que se enquadra perfeitamente no ambiente dos temas do seu álbum. Ao ouvir canções como “The City is Burning ” consegue-se também ter a noção do quão fatalista o autor pretende ser. Todo o álbum tem uma lírica forte, conjugada com um toque de melancolia e dualidade, naquilo que se assemelha a um confronto entre a escuridão e a luz. Uma menção especial a “Wheels of Judgement”, tema bastante apocalíptico e recheado de fervor religioso, que aqui é acompanhado de sons de harmónica a raiar o “gloomy” e que nos faz viajar para longe. Certamente obra a adquirir por fãs de música folk e que gostem, por exemplo, de artistas como “The Tallest Man on Earth”. Para quem seja amante deste tipo de sonoridade recomenda-se vivamente a sua aquisição.

Fernando Ferreira

19 – Greg Jacquin – “Clocks Slow Down”

Edição de Autor

Que classe temos aqui neste trabalho. Nunca um título esteve tão certo. Aqui o tempo abranda mesmo se é que não pára mesmo, graças a este conjunto de temas onde o amigo Greg Jacquin e uma banda de luxo nos levam a relaxar e a entrar num modo contemplativo. E aquele violino… aquele violino é a bilhete para isso, assim que entra em cena. Para quem gosta de folk, estilo americana, está aqui uma das melhores propostas dos últimos tempos. Esta aqui um dos potenciais álbuns do estilo de 2019. Sim, ainda é cedo, mas marquem as nossas palavras. Se não marcarem nós vamos lembrar-vos no final do ano.

Fernando Ferreira

18 – Janne Westerlund – “Bell”

Ektro Records

Surpreendente álbum. Janne Westerlund, mais conhecido pelo seu trabalho com os Pharaoh Overlord, Circle e Plain Ride, entre outros, decidiu deixar a música para trás num período auto-imposto de cinco anos mas esses planos deram-se como furados a partir do momento em que apenas uns meses depois já estava a gravar este álbum. Um álbum cru e nu, onde a alma do música é exposta seja quando temos apenas viola e voz ou quando tem a colaboração de dos seus colegas dos Plain Ride, Anssi Hallio na bateria e Pekka Jääskeläinen na guitarra e teclados. O resultado é um dos álbuns mais honestos e sentidos que ouvimos nos últimos tempos. E sem dúvida um dos grandes destaques dentro do género folk.

Fernando Ferreira

17 – Knasterbart – “Perlen Vor Die Säue”

 Napalm Records

Pode não parecer (pela capa) mas está aqui um grande disco de folk rock. Os alemães Knasterbart surgem-nos como algo completamente novo e à partida até parece ser algo exclusivo ao mercado alemão no entanto e apesar de ser cantado em alemão, esta sonoridade eleva aos píncaros aquela máxima da música ser uma linguagem universal. Dá para perceber que o teor é de humor – “Perlen Vor Die Säue” tem o significado de dar pérolas a porcos, pelo que dá sentido à capa – embora exista aqui algum momento mais melancólico. No entanto a vida com que o septeto nos brinda é sem dúvida algo que não conseguimos evitar de ficar fãs. Daqueles vícios inesperados.

Fernando Ferreira

16 – Dorminn – “Dorminn”

Antiq

Para quem gosta de neofolk, está aqui algo que é mais que recomendado, embora seja apresentado de forma refrescante, quase mística. Isto por as vocalizações, aliadas a uma percussão fantasmagórica, vão do gutural (ao estilo mongol) à voz saída das profundezas do inferno – ou então de um filme qualquer de hollywood de possessão. Este desconforto blasfemo acaba por trazer a dinâmica necessária para que este não se assemelhe a tantas propostas semelhantes, resultando num trabalho realmente interessante e capaz de nos endrominar o miolo – no melhor sentido do termo, claro.

Fernando Ferreira

15 – Society Of The Silver Cross – “1 Verse”

Edição de Autor

Ironia a capa do álbum de estreia dos Society Of The Silver Cross ser em… dourado. Irrelevâncias aparte, este é o novo projecto do frontman dos Alien Crime Syndicate e dos The Meices, Joe Reineke, com a sua companheira Karyn. E é uma excelente surpresa principalmente para quem gosta de folk contemplativo, quase ambient, mas que entra muitas vezes pelo caminho do neo folk. Despido aparentemente de coisas modernas, é na maior parte das vezes a percussão e o som da chamada shahi baaja (que é como quem diz), a harpa indiana, aliada a violas de doze cordas, harmonium, dilruba (que é como quem diz a uma espécie de instrumento em arco indiao) aliado a tecnologia mais vintage no campo dos sintetizadores. O resultado é tanto intrigante como hipnótico. Para quem se quer transcender e não tem medo de sair do corpo, tem aqui uma boa escolha.

Fernando Ferreira

14 – Hexvessel – “All Tree”

Century Media Records

Temos falado de várias formas de manifestação de folk. Esta é talvez a mais bela, aquela que pega na mística do folclore celta e junta-lhe as bucólicas melodias que chegam a soar fantasmagóricas de tão belas que são. Este projecto de Mat McNerney acaba por falar-nos mais depressa ao coração (olha a blasfémia) do que os Grave Pleasures. Mais puro, mais simples, mais mágico. E magia é o que temos ao longo destes 13 temas, embora a simplicidade que falamos é em relação à forma como a música nos chega ao coração e não propriamente como ela é construída. Um álbum de comunhão com a Natureza, connosco próprios.

Fernando Ferreira

13 – Hexvessel – “All Tree”

Heavy Psych Sounds Records

Este projecto a solo de Gabriele Fiori (mais conhecido como o vocalista de bandas como Black Rainbows e Killer Boogie, além de ser também o dono da influente Heavy Psych Sounds Records, que previsivelmente lança também este álbum) é uma surpresa bem agradável. Temos uma proposta acústica que a espaços surge acompanhada por percussão e arranjos de teclados muito suaves e que quase passam despercebidos. Tal como o título sugere, este é um trabalho que é indicado para um passeio pela floresta e que será indicado tanto para os amantes do folk como para aqueles que gostam de stoner ou rock psicadélico e/ou clássico. Como é que é indicado para tantos fãs diferentes? Porque é bom demais para encaixar num só nicho.

Fernando Ferreira

12 – Kenneth Minor – “On My Own”

Groove Attack/ Rough Trade/ Believe Digital

Que álbum tão boa onda. Kenneth Minor traz-nos um folk descomprometido, muito próximo do chamado americana, onde há até um certo espírito blues mas sem grande melancolia, apenas um feeling vivo de alegria que é contagiante. Alguns momentos chega mesmo a entrar pelo rock, na arrojada “Wrap Up A Deal” mas é no folk refrescante que centra as suas atenções. E de forma perfeita (ou quase perfeita pelo menos) já que este é um trabalho ao qual ouvimos descontraídamente e fica-nos na memória. Para quem tem uma ideia de limitação em relação ao folk, aqui está um álbum obrigatório.

Fernando Ferreira

11 – Osi And The Jupiter – “Nordlige Rúnaskog”

Eisenwald

Terceiro álbum do colectivo conhecido como Osi And The Jupiter e que apesar de só ter começado em 2015 já conseguiu conquistar o coração de todos aqueles que apreciam folk nórdico, ainda por cima pela capacidade de criar uma atmosfera muito própria e até real, que se encaixa uito bem no contexto do conceito da banda da ligação à natureza e a todos os seres vivos. São setenta minutos mas são setenta minutos arrepiantes, quase numa onda ambient em alguns momentos e que não só consegue atingir o objectivo (de tornar essa ligação à mãe natureza) como também nos consegue libertar do nosso corpo enquanto decorre. De uma beleza estonteante.

Fernando Ferreira

10 – Lucy Kruger & The Lost Boys – “Sleeping Tapes For Some Girls”

Unique Records

Sei que a nossa missão passa por trazer o melhor (e o máximo) que conseguimos encontrar dentro do nosso mundo do metal. No entanto, é inegável que o som sagrado, apesar de ter alguns subgéneros elitistas, é também dos mais abertos que existe, onde o seu público se mostra disponível e fã de propostas que à partida lhe são estranhas. E com isto, este trabalho de Lucy Kruger encaixa na perfeição, onde temos uma espécie de folk minimal e quase ambient (e que ambiente fantástico nos traz em temas como “Cotton Clouds) ao qual não conseguimos ficar indiferentes. Nem os surdos, arrisco a dizer, porque as energias transmitidas aqui transformam o ar à nossa volta. Um trabalho verdadeiramente apaixonante.

Fernando Ferreira

9 – Lankum – “The Livelong Day”

Edição de Autor

Álbum surpresa que nos surgiur por uma busca num dia raro de ócio. E ficámos apaixonados. Não é novidade sermos fãs do folk irlandês, pelo colorido e alma especial que as suas músicas trazem. Este trabalho eleva esse patamar a níveis difíceis de igualar. Sem dúvida que este é um trabalho que viverá na memória daqueles que foram bafejados pela sorte o suficiente para o terem absorvido. E é dinâmico como poucos, sem dúvida que não faltam motivos para pegar nele, um dos grandes de 2019.

Fernando Ferreira

8 – The Hu – “The Gereg”

Eleven Seven Music

A cena da Mongólia tem algo fantástico. Aquela sonoridade intensa que tanto combina com o rock e com o metal mas não tem que necessariamente ceder para fazer parte destes mundos está bastante presente neste álbum de estreia dos The Hu – aquilo que eles chamam de “hunnu rock”. Para quem gosta de world music ou pelo menos de sonoridades exóticas, não há como resistir a este trabalho que acaba por ser uma entrada directa para os nossos melhores discos de folk de 2019.

Fernando Ferreira

7 – Murmur – “The Boundless Black”

Edição de Autor

Impressionante duo de dark folk. Murmur apresenta música acústica, na melhor tradição cantautor, não propriamente próxima de qualquer cultura em específico apesar de, sim, tocarem dark folk. As melodias das vozes, muitas vezes em harmonia em conjugação com a viola e piano fazem com que este disco, simples em termos técnicos de produção, seja verdadeiramente mágico. Assombroso até, com uma atmosfera fantástica e única. Tem tudo para passar despercebido, principalmente no meio em que estamos inseridos, onde barreiras de som são apreciadas. Há aqui muito espaço para o silência viver, mas essa sensação de se conseguir respirar é também um dos seus maiores atractivos. Fantástico!

Fernando Ferreira

6 – Fast Eddie Nelson – “High On Reality”

Raging Planet Records

A riqueza musical sempre assistiu a um brilho especial naquilo que Fast Eddie Nelson faz e não seria expectável que “Hight On Reality” fosse diferente. Sempre com um pé no blues e rock’n’roll, com outro no southern rock e ainda descansando no folk norte-americano, o resultado é fantástico e contagiante e flui como se viesse tudo do mesmo sítio (e vem, da criatividade do amigo Nelson) e como se tudo fizesse sentido (e faz, sobretudo em temas como “Asshole” que por si só já valem o disco.

Fernando Ferreira

5 – Heilung – “Futha”

Season Of Mist

Este é um mundo aparte. Claro que num mundo pós Wardruna, um projecto como estes acaba por não ter um impacto esperado, mas isso não lhe retira nem um pouco da sua qualidade. Depois da estreia “Ofnir” e do seu sucesso esmagador – que aliás motivou um álbum ao vivo – aqui está a sequela “Futha” que opta por dar mais foco às vozes femininas (e ao feminino como um todo, depois do inverso na estreia) e que nos traz vários mantras hipnóticos onde podemos inserir tanto na vertente folk, como até na ambient/experimental. Seja como for, é vício, ainda que, admitimos, não seja fácil de interiorizar, pelo menos para aqueles que procuram coisas mais directas.

Fernando Ferreira

4 – Fiddler’s Green – “Heyday”

Def Shepherd Recordings

Irish speedfolk. Essa é a forma que o comunicado de imprensa usa para descrever o som dos Fiddler’s Green. Pomposo mas até que não foge à realidade. Folk está no centro da coisa, temos um rock apunkalhado e na maior parte das vezes música uptempo. E resulta de forma tão perfeita que temos aqui um disco para nos trazer diversão durante anos se não décadas. Uma carreira de mais trinta anos e… ah, pequeno detalhe, esta banda que toca irish speefolk é alemã. Mas nem se nota e até poderiam vir da China, que com esta música ia soar sempre bem.

Fernando Ferreira

3 – Temple of The Stars – “Nightspirit”

Inverse Records

Temple of the Stars é um projeto musical-solo de Tobias Tåg, um multi-instrumentalista finlandês mais conhecido por ter colaborado com bandas como Ensiferum e Underjord, que neste novo esforço procurou desenvolver a sua veia de folk que treme muito na linha que distingue o rock do metal. Assim, Temple of the Stars dá-se a conhecer ao mundo através de Nightspirit que, seja pelo nome do álbum e pelo estilo de música que adota, já se percebe à partida que se cola à uma sonoridade muito associada ao naturismo que se nota tanto por alguns dos instrumentos (como guitarra acústica e flauta) como através de conteúdos líricos (Forest Sky por exemplo). Visto que um típico detrator do folk é o uso de acordeão, acho que convém referir que neste álbum não é usado, havendo assim um maior vinco espiritual com a própria natureza, uma mensagem evidente neste álbum. O trabalho de guitarra faz-se virtualmente sempre na forma acústica, o que configura um ambiente bastante solene a toda a coisa, portanto fica já o aviso que este álbum não é para a “thrashalhada”. Procura-se antes um som que às vezes se ouve de bandas mais viradas para a recriação de musica medieval, se bem que com um tom mais modernizado. Apesar de uma vasta panóplia de instrumentos, em relação aos quais nem sequer me vou tentar dar ao trabalho de tentar pronunciar os nomes, a voz não é nem minimamente esquecida, isto por ser uma voz verdadeiramente única e que causa uma forte harmonização entre todo o espirito natural que se procurou dar ao projecto. É de facto uma banda/projeto que espero ver continuada, seja por dar uma cor diferente ao folk, seja por ser ótima musica para relaxar o cérebro, além de demonstrar a mestria que uma pessoa pode alcançar em termos de instrumentos menos usuais e ainda não globalizados.

Matias Melim

2 – Magnólia – “Cynthia”

Edição de Autor

Esta foi uma enorme surpresa. Não é segredo nenhum que apreciamos sonoridades que por vezes saem das fronteiras (mais fechadas apenas na cabeça de alguns) do metal, principalmente por essas mesmas sonoridades terem em comum certos ambientes, melodias ou até estados de espírito. No caso dos Magnólia, uma nova força da música nacional, temos uma fusão de elementos e influências que vão do folk (que se evidencia pela sonoridade do violino mas não se pense em nada festivo, porque todo o trabalho assenta num ambiente soturno e contemplativo), assim como uma ligação ao fado pela forma como Filipa Pinto coloca a sua entoação e alma nos poemas cantados em português. Nomes como Dwelling e Madredeus vêm-nos à mente assim como Antimatter se estes resolvessem ser mais atmosféricos. É ambicioso com mais de setenta minutos de duração, algo que vai contra a maré do défice de atenção do público hoje em dia, mas esse é também apenas mais um motivo para o entusiasmo que temos para com este trabalho que transporta em si a mística não só de Sintra, reflectida no título, como também a mística portuguesa, raramente capturada na música, salvo raras excepções. Exigente mas que dá muito em troca do tempo que temos que lhe dedica, com participações de luxo que vão de Charles Sangnoir a Ricardo Godo, esta é uma das grandes revelações de 2019.

Fernando Ferreira

1 – Wolcensmen – “Fire In The White Stone”

Indie Recordings

Sabíamos que ia ser iminente o lançamento do segundo álbum do projecto de Dan Capp dos Wintrfylleth após a reedição da estreia no ano passado. E este segundo álbum eleva uma premissa de si já excepcional a novos patamares de excelência. A premissa da exploração do folk britânico continua intacta mas consegue surgir aqui com novas cores, com novas sensações e atmosferas mas sem de perder de vista o que estava na base. É tentador num projecto onde a simplicidade impera acrescentar cada vez mais elementos – já vimos acontecer isso por diversas vezes – no entanto, e apesar de existirem aqui realmente novos elementos, não há qualquer desvio da identidade de Wolcensmen. Este é um daqueles trabalhos que nos fazem fechar os olhos e viajar para outros tempos, um trabalho raro e contra aquilo que representa o metal mas que mesmo assim tem tanto de si, nas ambiências, nas estruturas e até nas próprias melodias. Tantas vezes ouvimos falar em experiência acústicas por parte da banda, que fazer o inverso aqui (acrescentar distorção) iria ser igualmente proveitoso. Ou melhor ainda! Sem nos desviarmos no entanto do trabalho em si, este é um álbum que não precisa mais nada para se tornar perfeito. Já o é.

Fernando Ferreira

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