WOM Tops – Top 20 Gothic Metal Albums 2020
WOM Tops – Top 20 Gothic Metal Albums 2020
O mundo do gótico. O universo, aliás, transversal a outros géneros do rock e metal, desde o alternativo, progressivo até ao death e doom metal. Uma sensibilidade muito própria e até única que mesmo através de várias facetas encontra sempre forma de ser marcante. E essa sensibilidade é o elemento comum a todos estes trabalhos que são tão heterogéneos como homogéneos.
20 – Ötzi – “Storm”
Artoffact Records
Boa e inesperada surpresa. O pós-punk (ou rock gótico), como já disse aqui, não é de todo o género que mais me apaixona mas este “Storm” tem o dom de fazer apaixonar qualquer um. Além de nos dar aquele travo nostágico dos inícios da década de oitenta, também nos traz uma garra que não é comum encontrarmos. Boa batida, boa conjugação de harmonias vocais (lá está, como se estivessemos quase trinta anos atrás) e excelente talento para cariar músicas. Não sou fã do género mas sou fã das Ötzi.
Fernando Ferreira
19 – Rope Sect – “The Great Flood”
Iron Bonehead Productions
Este até é um trabalho estranho de encontrarmos no catálogo da Iron Bonehead Productions. Isto por estamos perante uma sonoridade deathrock – que no fundo soa a uma espécie de pós-punk com tomates. Um teor hipnótico que vai-se instalando aos poucos, sem nos deixar qualquer hipótese. Não será por acaso a presença quer na voz quer nas letras (em dois temas) de Mat McNerney dos Grave Pleasures que apadrinha desta forma a estreia dos Rope Sect. Um primeiro longa-duração promissor e de qualidade surpreendente.
Fernando Ferreira
18 – Dismal – “Quinta Essentia”
Aural Music
A beleza deste álbum dos Dismal é impressionante. Se o género gótico não parece ter nada para nos oferecer (à partida) que nos impressiona, a forma como a banda italiana consegue romper com essas convenções para apresentar algo de invulgar é fantástica. É certo que o gótico surge aqui acompanhado com um espírito neo-clássico e onde até os elementos tradicionais do rock dão uma perninha. Mais do que músicas estruturadas da forma convencional, temos peças de beleza única que dão um ar teatral e criam-nos imagens marcantes, ajudadas também pelos samples que usa. Uma viagem que se recomenda.
Fernando Ferreira
17 – Lamori – “Neo Noir”
WormholeDeath
Sinto que um dos debates mais intensos neste nosso mundo das análises (e até internamente) é a validade que certas propostas têm devido a encaixarem-se ou não naquilo que é a realidade actual – e aqui tenho que chamar que a realidade depende sempre da percepção que cada um tem da mesma. Um álbum como “Neo Noir” poderia facilmente ser catalogado como um grito do passado recente, onde o estilo de rock/metal gótico próprio de uns 69 Eyes (ainda andam por aí), uns Him (mais ou menos desaparecidos) ou uns Senteced (completamente defuntos) tinha bastante aceitação comercial. Os nomes atrás citados não foram por acaso, já que os Lamori também são finlandeses, no entanto, a banda consegue apresentar algo fácil de identificar com o estilo mas sem seguir propriamente ninguém. A melancolia está sempre presente mas a energia também convivem bem lado a lado. E este é um álbum que mais uma vez dita que a boa música fala sempre mais alto.
Fernando Ferreira
16 – Nachtblut – “Vanitas”
Napalm Records
“Vanitas” marca o sexto capítulo na carreira discográfica dos alemães Nachtblut. Para quem já os conhece, as suas expectativas são de encontrar algo que une a melodia e os ambiências góticas. Não vão ficar desiludidos embora tenhamos que dizer que este é o álbum mais variado e provavelmente mais rico da sua carreira. Do folk a coisas mais góticas, temos de tudo um pouco. No entanto, ao contrário de termos uma manta de retalhos, temos um álbum que funciona muito bem com estas diferentes facetas e aspectos. Ajuda também o facto de apostar em melodias que nos conquistam – como a “Leierkinder”. Aliás, são mesmo as melodias o seu grande trunfo.
Fernando Ferreira
15 – Victoria K – “Essentia”
Rockshots Records
De uma forma geral, “Essentia” não surpreende nos primeiros momentos. Podemos começar já assim, mas calma, não estamos já a passar uma certidão de óbito. Até porque esta impressão vai mudando conforme vamos mergulhando no álbum. Metal gótico/sinfónico, que não esconde as influências e lugares comuns (mudando apenas a dinâmica de uma mulher para a voz limpa e um homem para o voz gutural – sendo duas mulheres para essas posições) mas em vez de tentar inventar algo forçado para ser diferente, concentram atenções em fazer grandes temas e nesse aspecto, este trabalho é um luxo. Logo, mais que recomendado para qualquer fã do género.
Fernando Ferreira
14 – The Vice – “White Teeth Rebellion”
Edição de Autor
Lembram-se daqueles tempos em que dizia review sim, review não, como estava farto de groove, de metalcore, de pós-hardcore e de todas as invenções da moda. Bem, não sei se será da idade ou se realmente me fizeram uma lavagem cerebral mas um álbum como “Overpower” soam-me bastante bem. Sim, tem aquela estrutura mais que vista e batida da dicotomia entre a voz áspera nos versos para depois surgir a voz bonitinha no refrão. Inegavelmente não surpreende, no entanto as melodias e refrães em si são do mais viciante possível o que faz que se passe por cima de qualquer alergia a lugares comuns. E isto é uma constante ao longo de todo o álbum. Excelente.
Fernando Ferreira
13 – Crematory – “Unbroken”
Spinefarm Records
As expectativas para um álbum de Crematory são claras. Ao sabermos o que esperar, isso pode não ser exactamente positivo, mas sendo Crematory, há uma certa fasquia que sabemos que será minimamente atingida. De certa forma “Unbroken” troca-nos as voltas com o tema-título que abre o álbum. Algo mais próximo do lado electrónico e da agressividade do que propriamente da melodia que tem caracterizado os seus anos mais recentes. Surpreendentemente, e apesar da melodia característica voltar, a agressividade nunca vai para longe e esse é um dos trunfos de “Unbroken”, a sua agressividade industrial e a forma como consegue baralhar as tais expectativas. Um bocado longo demais (quinze temas é manifestamente exagerado) mas com temas que acabam por nos fazer esquecer esse pormenor como “The Downfall” que tem tudo para se tornar um clássico. Talvez nunca voltem a ser o que já foram, mas evolução não é necessariamente má. E não o foi para os Crematory apesar de todo o meu cepticismo.
Fernando Ferreira
12 – Melt – “The Secret Teaching Of Sorrow”
Edição de Autor
Esta foi uma boa surpresa. Os Melt são franceses e a sua música é uma mistura de várias coisas boas que dão a algo ainda bem melhor. Temos uma aura alternativa, uma veia depressiva que se encaixa um bocado (não literalmente e não completamente) dentro daquilo que os Anathema e os Katatonia têm feito nos últimos anos, assim como também algum daquele ambiente mais experimental que as bandas mais góticas assumiram no final da década de noventa. Emocional e contagiante na transmissão da melancolia, “The Secret Teaching Of Sorrow” é o título perfeito para este trabalho.
Fernando Ferreira
11 – Inception Of Eternity – “Into Darkness”
darkSIGN-Records
Mistura interessante entre a sonoridade gótica, com pitadas de electrónica, e as melodias folk. Apesar de ambas já terem sido exploradas até à exaustão, esta fusão revela-se bem interessante. Não concordo com o rótulo de metal sinfónico – acho que gothic metal encaixa perfeitamente – mas este conjunto de temas é mesmo fantástico, inesperadamente fantástico para um céptico como eu. Apesar da voz ser bem genérica (a fazer Lacrimosa), “Into Darkness” é um bom trabalho de estreia, com qualidade para nos chamar a atenção e mais importante que isso mantê-la.
Fernando Ferreira
10 – Semblant – “Obscura”
Frontiers Music
Os brasileiros Semblant tem aqui um excelente trabalho, sem sombra de dúvidas. Trata-se de um disco marcado por linhas de metal sinfónico com elementos death metal e com um resultado final sólido e de fácil referência para os fans do género. Numa linha de avaliação, acho “Obscura” um trabalho muito dinâmico, nada cansativo na sua audição e fico com uma certeza, os Semblant são uma banda a seguir, pois sinto que este passo os levará a um futuro brilhante em termos de criatividade. São 11 faixas num total de 49 minutos de nos fazer saltar da cadeira, sim foi difícil segurar os ímpetos em mim de o fazer, baseados numa fórmula já utilizada, mas nem sempre da melhor forma, por outros e falo de das linhas sinfónicas cheias de Groove, grandes solos onde os vocais femininos são uma marca, mas neste caso acrescido de uma linha mais grunhida masculina que são o ponto de equilíbrio. Bom, já perceberam que sim vamos a isso procurem este “Obscura”!
Miguel Correia
9 – Hopescure – “Nostalgia Pt. 1”
Edição De Autor
Interessante e intrigante banda. Os Hopescure são uma banda com quatro anos e que com “Nostalgia” iniciam oficialmente a sua discogafia. A banda franco-luxemburguesa tem um som que assenta tanto em propósitos progressivos como góticos. E por muito que seja uma sonoridade que pareça (ou que se sinta) demasiado batida, “Nostalgia” consegue surpreender, conquistando-nos aos poucos, com músicas que têm ganchos bastante eficazes. Claro que há por onde melhorar, mas este é um inicio bastante auspicioso.
Fernando Ferreira
8 – Sollust – “(In)Versus”
Edição de Autor
Como já disse algumas vezes, é sempre um prazer enorme conhecer novas bandas e novo som. Não posso dizer que os Sollust sejam uma nova banda, até porque já têm um EP editado em 2012, mas sendo o álbum de estreia e sendo o primeiro contacto, acaba por ter esse impacto. “(In)Versus” é ambicioso e poderoso na forma como concilia vários géneros musicais (sendo que o doom, o gótico e progressivo são aqueles que mais se salientam) e misturando-os em temas onde a emoção visceral é mesmo o que se destaca mais. Ambicioso na duração mas que vê essa ambição a ser recompensada num fluir que não é comum. Não deixa de ser exigente, não é um álbum para cair de amores à primeira – embora isso possa muito bem acontecer – mas sim para absorver, para deixar absorver. Surpreendentemente bom.
Fernando Ferreira
7 – Bleakheart – “Dream Griever”
Edição de Autor
Os Bleakheart são uma daquelas bandas que desafiam categorizações. Podemos encaixá-los no doom embora não tenham distorção para tal. Shoegaze pela forma como consegue deixar o ouvinte absorto nos seus próprios pensamentos, enquanto a música funciona como um eco desses mesmos pensamentos. Por falar em ecos, também temos alguns ecos de ambient e gótico bastante fortes, onde, claro, a fantasmagórica voz de Kelly Schilling é um elemento fundamental. Este não é um trabalho feito para celebrar a alegria da vida mas a sua fragilidade, a sua preciosidade. Da vida, dos sonhos e de como nós os sentimos dentro de nós. É um assombro de álbum ao qual faltam adjectivos.
Fernando Ferreira
6 – Inhuman – “Contra”
Alma Mater Records
Confesso que este álbum surpreendeu-me. E bastante. Como já disse anteriormente na review que fiz anos atrás a “Foreshadow”, esse álbum desiludiu-me por mostrar uma banda manifestamente diferente daquilo que prometiam tanto na demo “Pure Redemption” como no álbum de estreia “Strange Desire”. Principalmente pela mudança quase radical na voz de Pedro Garcia que tinha um vozeirão de impor respeito. Vinte e dois anos depois, este álbum consegue finalmente trazer os Inhuman ao nível que mereciam. Isto até para além daquilo que “Strange Desire” tinha como potencial. A voz de Garcia poderá não estar ao nível que está antes a nível de brutalidade, mas está sem dúvida mais versátil e a um nível superior. Já a música, essa está simplesmente fantástica, com uma aura que se apoia no metal gótico mas está longe de ser previsível. “Contra” vai ao encontro de tudo o que desejávamos e não sabíamos. Um trabalho de luxo que cheira quase a estreia. Estreia, não, renascimento.
Fernando Ferreira
5 – Dominia – “The Withering Of The Rose”
Morning Star Heathens Music Group
Apesar de serem uma representação do melhor que se faz pela Rússia em termos de metal, não podemos dizer que os Dominia sejam sobejamente conhecidos. Não sei porquê, tenho a impressão que isso mudará com este álbum. Sei que é comum dizer-se este tipo de coisa quando estamos impressionados com algo mas a questão é mesmo essa! Quem ouvir este álbum vai ficar impressionado. Uma fusão impressionante de doom/death metal e gótico que nos lembra os bons velhos tempos de My Dying Bride. Mas não fiquem presos aí nessa referência. Não é apenas por terem um violino que devem ser reverenciados e posteriormente referenciados. É a junção do peso e melodia, e claro, melancolia. Mas esta é algo uplifting. É como se a situação fosse negra, a vida nos caísse toda em cima, mas ainda assim havia espaço para esperança. Doom metal uplifting? Isso existe? Bem, talvez não com uma corrente mas é essa a vibe que temos por aqui. Mais de uma hora de música que nos embala e encanta como poucas. Absolutamente recomendado!
Fernando Ferreira
4 – Morbid Death – “Oxygen”
Nuclear Blast
Falar de “Oxygen”, o quarto álbum de originais e novíssimo trabalho dos portugueses Morbid Death, é falar de doze temas bem coesos, poderosos e cheios de peso. “Away”, que foi uma das escolhas para antecipar este lançamento, abre as portas para uma audição que se irá fazer através de uma sonoridade com elementos Prog Thrash Metal, moderna, com vocalizações limpas e guturais, que fluem de forma fabulosa e nos preparam para um caminho que não podemos fazer de forma leviana. Passo a passo os Morbid Death vão mostrando aquilo que deles já conhecíamos, a capacidade de ultrapassar fronteiras e se reinventarem musicalmente, sem se prender a uma linha especifica e ao mesmo tempo sem perder aquilo que é a sua marca.
São uma banda de heavy metal, como nos confidenciou Ricardo Santos, (voz e baixo) e isso está bem presente na mais arrastada, pesada e sombria, “Dark Love”, a sétima faixa do alinhamento de “Oxygen”, onde podemos finalmente respirar um pouco e prepara-nos para uma segunda parte totalmente impiedosa. Há ainda destaque para um tema instrumental de nome “Jordstrangar”, de autoria do guitarrista Luís H. Bettencourt, algo como há muito não ouvia!
O fecho é feito três temas depois, com “Perfect Lie”, outra das opções da banda açoriana para dar a conhecer ao mundo o seu mais recente esforço musical e aqui finalmente damos descanso ao corpo, pois o comboio já passou! Trinta anos de carreira e com eles aquilo que desejo que seja a cereja no topo do bolo, pois se há banda que merece as luzes da ribalta, ela chama-se Morbid Death.
Miguel Correia
3 – Living Tales – “Mirror”
Edição de Autor
E aqui está, o segundo álbum dos Living Tales. Primeira impressão geral, excelente som, excelente produção – embora a espaços o som possa soar um bocado comprimido demais. Mas vamos à música em si. Todas as boas indicações do álbum de estreia foram materializadas aqui. Som mais poderoso mas músicas também mas complexas. A banda está mais madura quer na abordagem aos dois estilos embora agora se note mais um acréscimo de protagonismo na frente progressiva, com mais espaço para a parte instrumental – caso existam dúvidas, ouvir a bela instrumental “Delusional Mind”, um deleite para os ouvidos. Muito superior ao seu antecessor e um excelente álbum que merece que leve a banda a um patamar superior.
Fernando Ferreira
2 – Dogma – “Mallevs Malleficarum”
Ethereal Sound Works
A expectativa era grande para o segundo álbum dos Dogma. A estreia tinha sido ambiciosa e já recebeu da nossa parte um enorme louvor, tendo sido uma das grandes surpresas de 2017. Não podemos dizer que agora seja uma surpresa, até porque como disse, a expectativa era grande, mas ainda assim conseguiu surpreender. Pela positiva, claro. A compomente teatral é fundamental no conceito da banda e é esse elemento que faz com que este álbum seja muito mais do que uma colecção de músicas com destaque para este ou aquele pormenor. Tal como qualquer obra artística que se preze, tem de ser ouvida e apreciada por inteiro. Isso não impede de destacar uma série de temas como “Aqua Benedicta”, “O Ser Do Nada” e “Deus Assassino” (este ultimo, o primeiro tema que ouvimos do trabalho nos concertos que a banda deu no ano passado), como representativos de uma enorme qualidade que se estende para além de uma hora. É inútil comparer este trabalho ou até mesmo aquilo que os Dogma fazem com quem quer que seja. Não é uma questão de ser original, é questão de ter uma alma única. Inigualável.
Fernando Ferreira
1 – Paradise Lost – “Obsidian”
Nuclear Blast
Seria inevitável que chegássemos aqui. Desde que a banda voltou a deixar os elementos electrónicos para trás e acrescentando cada vez mais peso ao seu som, seria inevitável que chegássemos a este ponto. E ainda assim surpreendente. Isto porque conforme a banda foi tornando-se cada vez mais próxima das suas raízes death/doom, tendo como exemplo máximo “Medusa”, não se sabia bem esperar o que viria de seguida mas poderíamos prever que seria algo no mesmo sentido, mais peso monolítico ou então uma nova incursão pela melodia. Agora o inesperado (e intimamente desejado por muitos fãs) seria ver a banda aproximar-se das melodias épicas de um “Draconian Times” mas mantendo o peso melancólico de um “Shades Of God” ou um mais recentemente “Tragic Idol” ou até mesmo “Medusa”. O melhor é que não se sente que é um daqueles “regressos às raízes”. É sim um best of da banda, só que com músicas novas.
Fernando Ferreira